DA ENVIADA A CANNES

Depois do alvoroço causado por "Dogville", de Lars von Trier, sobrou pouco interesse da imprensa internacional em Cannes para "Carandiru", de Hector Babenco.
A entrevista coletiva do diretor brasileiro e de seu elenco, na tarde de ontem, atraiu um número reduzido de jornalistas e suscitou apenas duas perguntas.
A repórter do diário italiano "Corriere de la Serra" quis saber por que o filme era um sucesso de público no Brasil. O enviado de um jornal de Los Angeles perguntou se livro e filme haviam contribuído para desativar a Casa de Detenção, em São Paulo.
Todas as demais questões respondidas por Babenco, pelo médico Drauzio Varella (autor de "Estação Carandiru", no qual o filme se baseia) e pelos atores Rodrigo Santoro, Caio Blat, Aída Lerner e Maria Luísa Mendonça foram formuladas pelo mediador contratado pelo festival.
Babenco disse ao "Corriere de la Serra" que o tema da violência urbana intriga e interessa à platéia brasileira e estimou que seu filme chegará a 4,5 milhões de espectadores no Brasil. O público atual é de 3,3 milhões.
Ao jornalista norte-americano, Babenco respondeu: "Não temos esse poder". E afirmou não acreditar que uma obra de arte, qualquer que seja, possa provocar mudanças na sociedade.
Nesse ponto, o mediador da entrevista observou que o cineasta franco-grego Costa-Gavras discorda da visão de Babenco sobre o papel da arte. "Esse é Constantin Costa-Gavras. Meu nome é Hector Babenco", disse o diretor, em tom de ligeira irritação.
Varella citou o trabalho de prevenção da Aids que desenvolveu durante 14 anos no Carandiru, mas fez questão de se afastar de uma imagem heróica. "Fiz isso em meu próprio interesse, não porque seja uma boa pessoa e queira ajudar os outros. Não sou uma boa pessoa e não quero ajudar ninguém, especialmente esse tipo de gente [os bandidos que cumprem pena]", disse. (SA)


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