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Zé Celso estréia épico musical "Os Sertões" em festival na Alemanha
MARCOS DÁVILA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Dentro de um galpão que no século passado servia para abrigar o
maquinário de uma mineradora
de carvão na Alemanha, uma estrutura metálica reproduz as arquibancadas e a passarela do teatro Oficina. É lá que José Celso
Martinez Corrêa e o grupo Uzyna
Uzona (com 60 integrantes, entre
atores e técnicos) apresentam hoje "A Terra", a primeira parte do
épico musical "Os Sertões", inspirado no romance homônimo de
Euclydes da Cunha. Nas noites seguintes, a trupe encena "O Homem 1" e "O Homem 2", e, dia 23,
estréia o primeiro episódio de "A
Luta" -a última parte da saga,
ainda inédita no Brasil.
O espetáculo é a atração principal do Ruhrfestspiele, um tradicional festival alemão de artes cênicas que acontece desde 1947 em
Recklinghausen, uma pequena cidade no oeste do país.
"Vamos encenar a luta na mesma região onde se produziram os
canhões que foram importados
da Alemanha para o Brasil e usados na Guerra de Canudos. É significativo", disse Zé Celso à Folha,
antes de partir para a Alemanha.
Uma cena de "Os Sertões" está
estampada na capa da conceituada revista alemã "Theaterhause",
que tem na edição deste mês uma
grande reportagem sobre a peça.
O repórter da revista conferiu a
maratona de três espetáculos no
teatro Oficina, em São Paulo, e ficou deslumbrado com a interatividade do grupo e a originalidade
do projeto do teatro, descrito como "único no mundo".
A ida do grupo para a Alemanha deve-se à ousadia do diretor
do festival, Frank Castorf, e do curador Matthias Pees. É a primeira
vez que um diretor da Alemanha
Oriental está à frente do evento,
que ganhou o subtítulo de "No
Fear" ("Sem Medo") e espetáculos mais alternativos, com mira
apontada para a globalização e o
consumismo exacerbado. "Temos comprado as mesmas coisas,
mas estamos cada vez mais sozinhos", afirma o curador Matthias
Pees. "O festival sempre teve uma
tradição de teatro educativo. Agora queremos algo mais vital e coletivo. Quando assistimos a "Os
Sertões", perdemos a distinção de
realidade e arte", diz.
Outros destaques
Hoje, enquanto Zé Celso inicia
sua saga, o dramaturgo e diretor
nova-iorquino Richard Maxwell
apresenta a peça "Caveman",
com seu grupo The New York
City Players, no mesmo festival. Além dessa, a
companhia, apontada pela crítica
como uma das revelações do teatro jovem norte-americano dos
anos 90, vai mostrar
"Joe" e "Showcase".
A programação também conta
com duas peças do grupo espanhol La Carnicería. Com direção
do argentino Rodrigo García, a
companhia apresenta "Compré
una Pala en Ikea para Cavar Mi
Tumba" e "La Historia de Ronald
el Payaso del McDonalds", que
criticam a globalização.
Há ainda atrações musicais, como a dupla eletrônica Matmos,
dos EUA, que mostra seu mais recente álbum, "The Civil War",
uma estranha combinação de
música folk, instrumentos medievais e batidas eletrônicas; e as
bandas "irmãs" Lali Puna e Notwist, que, além de compartilhar o
mesmo gosto de misturar rock
com barulhinhos de computador,
têm integrantes em comum.
E tem mais brasileiros na área: o
coreógrafo e dançarino Bruno
Beltrão e seu Grupo de Dança de
Rua de Niterói exibem três coreografias no começo de junho.
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