São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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ARTES

Para dar nova visão a uma geração de artistas, exposição reúne 66 obras

MAM abriga ode ao abstracionismo

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A década de 60 no Brasil foi das mais férteis no campo das artes. No teatro, José Celso Martinez Corrêa, com o Oficina, em 1967, encenava "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade; na música, surgia o tropicalismo e, nas artes plásticas, Hélio Oiticica e Lygia Clark, entre outros, partiam do neoconcretismo para construir novas experiências com a participação do público.
Em meio a tantos movimentos, produções paralelas e nem tão radicais permaneceram na sombra. Com a mostra "Gesto e Expressão: O Abstracionismo Informal nas Coleções JPMorganChase e MAM", que é aberta hoje, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a instituição dá foco a um significativo grupo de artistas que permaneceu obnubilado por conta da projeção dos grupos de vanguarda daquele período.
"Fatalmente, esse é um grupo que será recuperado. Já se reviu em demasia a geometria dos anos 50, é preciso olhar agora para os abstracionistas", aposta Maria Alice Milliet, uma das curadoras da exposição, organizada a partir de dois acervos, do próprio MAM e do banco JPMorganChase.
Nos anos 60, havia uma forte reação ao abstracionismo no país, especialmente por conta de críticos vinculados à esquerda como Ferreira Gullar e Mário Pedrosa, que não viam com entusiasmo a apropriação do trabalho de Jackson Pollock (1912-56), um dos mais importantes artistas do abstracionismo, pelo governo dos EUA, como propaganda cultural. "É preciso superar esse tipo de análise", defende Milliet.
Com isso, o que se observa no MAM é uma ode à pintura, que ao mesmo tempo representa "um dos últimos grandes momentos da pintura", segundo a própria curadora. O abstracionismo é considerado o último estágio do longo caminho iniciado pelos impressionistas na arte moderna e, agregado à palavra informal, tem-se por referência a pintura de Wassily Kandinsky (1866-1944). Para alguns críticos, o que se segue, a arte pop, já é considerada a arte pós-moderna. Com isso, seria nesse momento a tão cantada morte da pintura, que acaba sempre por se reinventar.
A mostra, que reúne 66 obras -todas dos anos 60- de 25 artistas, procura dar especial atenção à produção de Yolanda Mohalyi (1909-78) e Manabu Mabe (1924-97), cada um com seis trabalhos exibidos. "Mabe é um pioneiro dentro desse grupo. Ele tem projeção graças ao Prêmio Leirner, em 1959, organizado na Galeria de Artes das Folhas, como alternativa ao racionalismo do concretismo e na crença do fazer pictórico", afirma o crítico Luiz Camillo Osório, também curador da mostra. Organizado por Isai Leirner, o prêmio que levava seu nome surgiu por conta da polêmica suscitada pelo corte da maioria dos brasileiros de tendência figurativa inscritos na 4ª Bienal de São Paulo, quando o júri foi acusado de privilegiar os concretistas.
O percurso da exposição segue com Mohalyi, artista de origem húngara que, ao entrar para o abstracionismo no Brasil, alcança uma "explosão de cores", segundo Milliet. Há boas surpresas na mostra, como os trabalhos de Franz Weissman e Samson Flexor, e algumas licenças poéticas, que incluem Iberê Camargo, Arthur Luiz Piza e Mira Schendel dentro do movimento.
Especial destaque tem o grupo de origem japonesa, como o próprio Mabe, além de Kazuo Wakabayashi, Sachiko Koshikoku, Tikashi Fukushima, Yutaka Toyota e Tomie Ohtake. Curiosamente, naquele período todo o grupo vendia muito mais que artistas dos outros movimentos. Chegou o momento do reconhecimento.


GESTO E EXPRESSÃO: O ABSTRACIONISMO INFORMAL NAS COLEÇÕES JPMORGANCHASE E MAM.
Curadoria: Maria Alice Milliet e Luiz Camillo Osório. Onde: MAM-SP (pq. Ibirapuera, portões 2 e 3, tel. 0/xx/11/ 5549-9688). Quando: abertura hoje (para convidados); de ter. a sex, das 12h às 18h, qui., até as 22h; sáb. e dom., das 10h às 18h; até 20/6. Quanto: R$ 5.



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