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ARTES
Para dar nova visão a uma geração de artistas, exposição reúne 66 obras
MAM abriga ode ao abstracionismo
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A década de 60 no Brasil foi das
mais férteis no campo das artes.
No teatro, José Celso Martinez
Corrêa, com o Oficina, em 1967,
encenava "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade; na música, surgia o tropicalismo e, nas artes
plásticas, Hélio Oiticica e Lygia
Clark, entre outros, partiam do
neoconcretismo para construir
novas experiências com a participação do público.
Em meio a tantos movimentos,
produções paralelas e nem tão radicais permaneceram na sombra.
Com a mostra "Gesto e Expressão: O Abstracionismo Informal
nas Coleções JPMorganChase e
MAM", que é aberta hoje, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a instituição dá foco a um significativo grupo de artistas que
permaneceu obnubilado por conta da projeção dos grupos de vanguarda daquele período.
"Fatalmente, esse é um grupo
que será recuperado. Já se reviu
em demasia a geometria dos anos
50, é preciso olhar agora para os
abstracionistas", aposta Maria
Alice Milliet, uma das curadoras
da exposição, organizada a partir
de dois acervos, do próprio MAM
e do banco JPMorganChase.
Nos anos 60, havia uma forte
reação ao abstracionismo no país,
especialmente por conta de críticos vinculados à esquerda como
Ferreira Gullar e Mário Pedrosa,
que não viam com entusiasmo a
apropriação do trabalho de Jackson Pollock (1912-56), um dos
mais importantes artistas do abstracionismo, pelo governo dos
EUA, como propaganda cultural.
"É preciso superar esse tipo de
análise", defende Milliet.
Com isso, o que se observa no
MAM é uma ode à pintura, que ao
mesmo tempo representa "um
dos últimos grandes momentos
da pintura", segundo a própria
curadora. O abstracionismo é
considerado o último estágio do
longo caminho iniciado pelos impressionistas na arte moderna e,
agregado à palavra informal, tem-se por referência a pintura de
Wassily Kandinsky (1866-1944).
Para alguns críticos, o que se segue, a arte pop, já é considerada a
arte pós-moderna. Com isso, seria nesse momento a tão cantada
morte da pintura, que acaba sempre por se reinventar.
A mostra, que reúne 66 obras
-todas dos anos 60- de 25 artistas, procura dar especial atenção à produção de Yolanda Mohalyi (1909-78) e Manabu Mabe
(1924-97), cada um com seis trabalhos exibidos. "Mabe é um pioneiro dentro desse grupo. Ele tem
projeção graças ao Prêmio Leirner, em 1959, organizado na Galeria de Artes das Folhas, como alternativa ao racionalismo do concretismo e na crença do fazer pictórico", afirma o crítico Luiz Camillo Osório, também curador da
mostra. Organizado por Isai Leirner, o prêmio que levava seu nome surgiu por conta da polêmica
suscitada pelo corte da maioria
dos brasileiros de tendência figurativa inscritos na 4ª Bienal de São
Paulo, quando o júri foi acusado
de privilegiar os concretistas.
O percurso da exposição segue
com Mohalyi, artista de origem
húngara que, ao entrar para o abstracionismo no Brasil, alcança
uma "explosão de cores", segundo Milliet. Há boas surpresas na
mostra, como os trabalhos de
Franz Weissman e Samson Flexor, e algumas licenças poéticas,
que incluem Iberê Camargo, Arthur Luiz Piza e Mira Schendel
dentro do movimento.
Especial destaque tem o grupo
de origem japonesa, como o próprio Mabe, além de Kazuo Wakabayashi, Sachiko Koshikoku, Tikashi Fukushima, Yutaka Toyota
e Tomie Ohtake. Curiosamente,
naquele período todo o grupo
vendia muito mais que artistas
dos outros movimentos. Chegou
o momento do reconhecimento.
GESTO E EXPRESSÃO: O
ABSTRACIONISMO INFORMAL NAS
COLEÇÕES JPMORGANCHASE E MAM.
Curadoria: Maria Alice Milliet e Luiz
Camillo Osório. Onde: MAM-SP (pq.
Ibirapuera, portões 2 e 3, tel. 0/xx/11/
5549-9688). Quando: abertura hoje (para
convidados); de ter. a sex, das 12h às 18h,
qui., até as 22h; sáb. e dom., das 10h às
18h; até 20/6. Quanto: R$ 5.
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