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Comparado a Pessoa, Oliveira ganha homenagem
"Gostei imensamente de receber [o prêmio] desse jeito, porque não gosto de competição, de receber um prêmio contra meus colegas"
Aos 99, o cineasta português recebe Palma de Ouro especial em Cannes
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
O cineasta português Manoel
de Oliveira, que completa cem
anos em dezembro, recebeu
ontem uma Palma de Ouro especial no 61º Festival de Cannes. O prêmio "não é pela longevidade, mas sim pela estima à
sua obra", disse o presidente do
festival, Gilles Jacob, na cerimônia de homenagem.
Jacob montou um curta-tributo ao cineasta português,
chamado "Um Dia na Vida de
Manoel de Oliveira". O filme
reúne depoimentos do diretor
e registros de suas participações em diversas edições do
Festival de Cannes, sendo a
mais recente no ano passado,
como um dos diretores do longa "Cada um com Seu Cinema".
Em depoimento a Jacob, Oliveira conta que certa vez recebeu, no hotel em que se hospedara em Cannes, um cartão
anônimo com crítica aos seus
"planos longos". Dizia a mensagem: "O cinema é movimento.
Pare de fazer fotos fixas".
Bem-humorado, o diretor rebateu o emissário: "Plano não é
foto. Num plano fixo pode haver muito movimento".
Quando recebeu das mãos do
ator Michel Piccoli a Palma de
Ouro, Oliveira fez referência ao
fato de nunca haver vencido o
Festival de Cannes e se disse
"muito emocionado" por "finalmente" receber o prêmio.
"Finalmente"
Em tom mais sério, afirmou:
"Gostei imensamente de receber [a Palma] desse jeito, porque não gosto de competição,
de receber um prêmio contra
os meus colegas. Esse é um belo
modo de ganhar o prêmio".
Os colegas cineastas de Manoel de Oliveira presentes ao
Grande Teatro Lumière para a
homenagem eram tantos que o
diretor-geral do festival,
Thierry Frémaux, decidiu citar
apenas um, para representá-los: o norte-americano Clint
Eastwood, que apresenta hoje
seu concorrente à Palma de
Ouro, "Exchange" (a troca).
Frémaux recomendou a
Eastwood e ao ator e diretor
Sean Penn, presidente do júri,
que visitem o Brasil, depois de
observar que neste ano "há três
centenários" de personalidades
relacionadas ao país: "O de Manoel de Oliveira, o de [Claude]
Lévi-Strauss [pensador francês], que fez trabalhos a respeito na Amazônia, e o do [arquiteto] Oscar Niemeyer".
Jacob, 78, chamou Oliveira
de "um mistério de vitalidade
que nos espanta" e disse que,
com "legendária modéstia", o
cineasta é avesso a elogios a ele
e à sua obra. "Azar se te chateio", afirmou o presidente do
festival, antes de chamá-lo de
gênio português, ao lado do escritor Fernando Pessoa.
Para encerrar a homenagem
foi exibido o primeiro curta de
Oliveira, "Douro, Faina Fluvial" (1931). "Agora que ele já
tem a Palma de Ouro, vamos a
essa bela Caméra d'Or [prêmio
do festival a diretores estreantes]", disse Frémaux.
O cineasta se despediu dizendo: "Cresci ao longo de um século com o cinema, e hoje sei
que foi o cinema que me fez
crescer. Obrigado a todos, e viva o cinema!".
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