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Antunes retoma "Foi Carmen"
Cantora luso-brasileira e Kazuo Ohno inspiram espetáculo de teatro-dança que o diretor remonta em SP
Emilie Sugai é dançarina convidada a contracenar com elenco do CPT; no palco, o samba mistura-se à expressão corporal do butô, nô e kabuki
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Você não é do tempo em que
todo mundo era obcecado por
Carmen Miranda?", questiona
à reportagem Antunes Filho,
78. "Não estou discutindo politicamente se ela foi usada pelo
[presidente norte-americano
Franklin] Roosevelt ou não,
mas apenas usando o mito para
compor um poema teatral."
Antunes guarda, ele mesmo,
certa obsessão com a primeira
experiência radical de teatro-dança de sua carreira, "Foi Carmen" (2005). O espetáculo teve
poucas sessões naquele ano
(Japão, Festival de Teatro de
Curitiba) e é remontado a partir de hoje no Sesc Anchieta, em
São Paulo. "Virou uma obra
cult. Isso me assusta um pouco", diz Antunes. Ele convida o
público a transitar por uma
profusão de citações entre os
mundos ocidental e oriental.
A alusão explícita à atriz e
cantora luso-brasileira Carmen
Miranda (1909-55), com canções, gestos, figurinos e adereços (samba, em suma), surge
junto com referências ao butô,
ao nô e ao kabuki, variações de
gêneros dramáticos milenares
e contemporâneos da dança e
do teatro japoneses -luvas para o centenário da imigração.
"Faço uma reflexão sobre o
tempo, o espaço, o movimento
e as pulsações ocidental e
oriental desses elementos em
cena", diz Antunes. A palavra
sucumbe à expressão do corpo.
Na origem desse projeto híbrido, repousa uma homenagem ao dançarino japonês Kazuo Ohno, 101, que o diretor conheceu em 1980. A parte final
do espetáculo faz um paralelo
entre os mitos de Carmen e da
bailarina argentina Antonia
Mercé y Luque (1890-1936), a
quem Ohno dedicou o solo "Admirando la Argentina" (1977), o
primeiro que Antunes viu.
Um enredo mínimo dá conta
de uma menina (Paula Arruda)
que sonha em ser Carmen Miranda. Em outros tempo e espaço, um malandro (Lee Thalor) percorre ruas do Rio e tem uma visão da própria (a dançarina convidada Emilie Sugai),
um vulto sempre de costas,
"porque ela foi, está morta", diz
Antunes. Há ainda uma passista (por Patrícia Carvalho).
Cinco vezes Antunes
Com "Foi Carmen", o diretor
atinge nesta semana cinco produções em cartaz em São Paulo
com elencos mistos do Centro
de Pesquisa Teatral (CPT) e do
Grupo de Teatro Macunaíma.
Da série "Prêt-à-Porter", que
faz dez anos, é possível assistir
à "Coletânea 1" (ter., às 20h, no
Sesc Avenida Paulista, até 24/
6) e ao "Prêt-à-Porter 9" (sáb.,
às 18h30, no Sesc Consolação,
até 30/8). Seguem ainda "Senhora dos Afogados" (sex. e
sáb., às 21h, e dom., às 19h, no
Sesc Anchieta, até 27/7) e "O
Céu Cinco Minutos Antes da
Tempestade", do círculo de
dramaturgia do CPT, coordenado por Antunes (sex., às 21h,
no Sesc Consolação, até 25/7).
"Falo aos atores: "O CPT é de
vocês, não sou eu". Tenho de
descentralizar esse troço. Agora temos base para isso."
FOI CARMEN
Quando: estréia hoje, às 21h; ter., às
21h; até 29/7
Onde: Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova,
245, tel. 0/xx/11/3234-3000; classificação: 14 anos)
Quanto: R$ 2,50 a R$ 10
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