São Paulo, terça, 20 de maio de 1997.



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DISCOS LANÇAMENTOS
Bill Evans expõe melancolia dos anos 60

MARCELO REZENDE
da Reportagem Local

São 269 composições, 21 horas de música e 98 performances inéditas contidas em uma caixa de 18 CDs. E é também a comprovação de que para o pianista norte-americano Bill Evans, morto em 1980, nada parece soar excessivo.
Lançada há duas semanas na Europa e nos EUA, "The Complete Bill Evans on Verve" tenta dar conta da trajetória do "garoto misterioso" durante parte dos anos 60 ("Bill Evans - The Secret Sessions", caixa de 8 CDs já editada pela Fantasy, mostra sua produção entre 1965 e 1975).
O jazz, naqueles anos, já não era exatamente um gênero popular, e Evans estava em um de seus mais problemáticos momentos, afundando em dois vícios: o da heroína e o da sofisticação de suas composições, que pretendiam o diálogo com a tradição erudita.
Esse foi o período em que realizou "Alone", "Empathy" e "Conversations with Myself", além de seu celebrado encontro com uma orquestra sinfônica, entre outros trabalhos para a Verve.
Como escreve um dos executivos da gravadora, no livreto de 160 páginas que acompanha a caixa, "sua produção era tão intensa que todos tinham a impressão de que ele lançava um disco a cada mês".
Mas, no princípio, não havia o piano, e sim o violino. Nascido William John Evans, em 1929, em Nova York, foi obrigado, na infância, a aceitar o fato de que seu irmão mais velho seria o pianista.
O início com o instrumento de cordas o obrigou a conhecer -e estudar- os compositores europeus e não apenas os improvisadores da América.
Combinando essa formação com a paixão pelos jazzistas de Nova York e já nos teclados, iniciou sua carreira no final dos anos 40, tocando para vários grupos. Isso durou até o momento em que encontrou o trompetista Miles Davis, em 1958. Para sua música, Evans encontrava também a si mesmo.
Aqueles que o conheceram em seus primeiros anos têm como lembrança um jovem branco que tinha aspirações e fantasias em relação aos músicos negros.
Enquanto parte tentava largar as drogas e viver da música em bases mais profissionais, Evans desejava o oposto. Pretendia um glamour desaparecido. Havia chegado com alguns anos de atraso.
Homossexual, fundou um trio -hoje lendário- com o baterista Paul Motian e o baixista Scott LaFaro, o maior amor de sua vida.
Em 1961, LaFaro morreu, aos 25 anos, em um acidente de carro, e Evans, uma personalidade atraída pela solidão, assumiu a melancolia, exposta nos títulos de seus discos, como "Você Tem Que Acreditar na Primavera" ou "Você Ainda Vai Ouvir Falar de Mim".
Em "The Complete Bill Evans on Verve", um pouco dessa história é contada por meio de composições, fotos, testemunhos e recriações de várias obras clássicas da canção norte-americana.
Ao seu lado, estiveram o saxofonista Stan Getz, o guitarrista Jim Hall (uma das pessoas que mais o ajudaram depois de morte de LaFaro) e o baixista Ron Carter, entre centenas de músicos.
Se Bill Evans morreu, como acreditam alguns, de saudades por alguém que amava, a intenção da Verve, com essa caixa definitiva de seus anos na gravadora, é que o mesmo, agora, não se repita com seus fãs.

Disco: The Complete Bill Evans on Verve (caixa com 18 CDs)
Artista: Bill Evans
Lançamento: Verve
Quanto: R$ 320, em média
Onde Encomendar: Zeitgeist Music (r. 24 de maio, 62, 3º andar, loja 456; tel. 011/222-8173)




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