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MÚSICA ERUDITA LES PERCUSSIONS DE STRASBOURG
Não existe inteligência mais funda do que a das emoções
ARTHUR NESTROVSKI
da Equipe de Articulistas
Era uma floresta de instrumentos, iluminados de baixo por uma
luz verde. Tambores, gongos, sinos, xilofones, mais centenas de
pequenos e grandes objetos não-identificados. Tudo faria prever
uma noite de exuberância e exaltação; e uma noite de muito barulho.
Mas o concerto de Les Percussions de Strasbourg, anteontem no
Cultura Artística, foi quase o contrário: um exemplo de delicadeza e
controle, se bem que também de
uma elegância no limite da frieza.
Composta há 70 anos, "Ionisation" de Edgar Varèse (1883-1965)
soa hoje como exemplo acabado
do primitivismo modernista.
É a irmã espiritual das máscaras
africanas de Picasso. Mas Les Percussions fez dela uma peça muito
menos carregada de símbolos e
muito mais rica de música. O menos agora é mais: menos sirene,
menos teatro, menos futurismo.
A mesma discrição só fez aumentar o interesse também de "First
Construction in Metal" (1939), de
John Cage (1912-92). Mas o menos
nem sempre é tamanha virtude. E
composições mais recentes, como
"Darkness", de Franco Donatoni, e
"Drus, Flous, Debridés, des Bouts
S'ebrouent", de Jean-Marc Singier,
sofreram, nalguma medida, com o
resguardo dos percussionistas.
Ambas resistem ao desejo de
misturar timbres e querem fazer
dos instrumentos de percussão
instrumentos de pensamento. Mas
o resultado está mais próximo da
paisagem do que da meditação sonora; e a platéia escutou com admiração, mais do que com entrega.
Até aí teria sido só um bom concerto; mas a última peça mudou
tudo. Composta há quatro anos,
"Métal", de Philippe Manoury
trouxe o que se espera de uma peça
contemporânea: assombro, outra
idéia de som, outra idéia de narrativa e aquela beleza estranha que
vem junto com o novo.
São 12 metalofones, de afinação
variada, que enchem os ouvidos de
escalas fugidias, arpejos distribuídos no espaço, lindos corais de
acordes e ressonâncias e melodias
em uníssono. Os dois planos principais -um veludo de fundo, que
deve às texturas da música eletroacústica, e golpes fortíssimos, que
vão surgindo à nossa frente-
mesclam-se em ritmos irregulares,
para não dizer dramáticos.
E foi só aqui que Les Percussions
de Strasbourg conseguiu saltar do
plano do perfeitamente controlado para o do descontroladamente
perfeito. Depois de um concerto
inteiro de elegância e refinamento,
mas também de uma certa distância, "Métal" serviu para nos lembrar que, na música, afinal, não
existe inteligência mais funda do
que a das emoções. E que isso vale
para a música de qualquer época:
inclusive a nova, inclusive a nossa.
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