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POLÊMICA
O dinheiro desaparecido representa 87,66% do total arrecadado na venda de ingressos e produtos da mostra em 97
Monet no Rio tem desfalque de R$ 1 mi
SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio
Dois anos após o fim da exposição Monet no Museu Nacional de
Belas Artes (MNBA), no Rio, os organizadores -os ministérios da
Cultura e Fazenda e o consulado
francês- estão envolvidos numa
prestação de contas cujos números
não fecham: sumiram R$
988.526,93 do que foi arrecadado
em bilheteria e com a venda de objetos.
Auditores da Secretaria Federal
de Controle do Ministério da Fazenda e da Secretaria de Controle
Interno do Ministério da Cultura
já examinaram os documentos
apresentados pela direção do museu. Não ficaram satisfeitos com o
que viram.
Eles exigem a apresentação de
notas fiscais que comprovem que o
dinheiro foi gasto.
Essas notas ainda não apareceram. Se não aparecerem, o caso vai
parar na Justiça.
O dinheiro sumido representa
87,66% do total arrecadado (R$
1.128.933,07) na venda de ingressos e produtos (gravuras, catálogos, chaveiros e brinquedos, por
exemplo) durante a exposição,
realizada de 12 de março a 19 de
maio de 1997.
Conta privada
Segundo a diretora do museu,
Heloísa Aleixo Lustosa, o dinheiro
da bilheteria era depositado todos
os dias em uma conta aberta no
Banco do Brasil pela Associação
dos Amigos do Museu Nacional de
Belas Artes.
O depósito de dinheiro arrecadado por órgão público em conta privada é ilegal, pois contraria os decretos federais 99.602, de 1967, e
93.872, de 1986.
O dinheiro teria que ficar em
conta do Tesouro Nacional, conforme orientação dada à diretora
do museu em agosto de 97, por ofício, pelo então presidente do
Iphan (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional),
Glauco Campello. Só que a mostra
tinha acabado havia três meses.
Lustosa afirma que, por desconhecimento da legislação, concordou com o depósito na conta da associação, desde que os gastos tivessem sua aprovação.
Segundo ela, não foi o que aconteceu. Lustosa acusa Romaric Sulger Buel, então adido cultural e vice-cônsul da França no Rio, de sacar o dinheiro da conta sem autorização da diretoria do Museu Nacional de Belas Artes.
Os saques teriam ocorrido por
meio de cheques assinados por
Buel -representante, no contrato
da mostra, do museu parisiense
Marmottan, dono do acervo exposto- e por Bertrand Rigot-Muller, chefe do Setor de Difusão Cultural do consulado e coordenador-geral do evento.
Também assinavam os cheques o
vice-presidente da associação de
amigos, o advogado João Maurício
de Araújo Pinho, e o diretor financeiro da entidade, o banqueiro
Theophilo de Azeredo Santos.
Sem acordo
Desde o fim da exposição, o museu, a associação e os franceses discutem sobre os gastos e não chegam a um acordo.
Buel alega que usou o dinheiro
da bilheteria para cobrir despesas
feitas na preparação da mostra e
pagar serviços prestados, e que estava autorizado a fazer esses gastos. O museu rebate o argumento.
A confusão sobre o destino do
dinheiro está sendo acompanhada
pelo consulado da França.
O cônsul francês no Rio, Denis
Delbourg, guarda dezenas de documentos sobre o caso. O primeiro
deles é o contrato que permitiu a
vinda das obras de Monet ao Brasil, datado de 11 de julho de 96.
Oficialmente, o consulado não
teve envolvimento com a exposição.
No protocolo que estabeleceu as
bases do "Projeto Monet", Buel é
citado como representante do museu Marmottan.
Em nenhum momento ele aparece no protocolo como funcionário
do governo da França, mas toda a
correspondência trocada entre
Buel e os outros envolvidos na exposição está em papel timbrado do
consulado.
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