São Paulo, Quinta-feira, 20 de Maio de 1999
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POLÊMICA
O dinheiro desaparecido representa 87,66% do total arrecadado na venda de ingressos e produtos da mostra em 97
Monet no Rio tem desfalque de R$ 1 mi

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

Dois anos após o fim da exposição Monet no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no Rio, os organizadores -os ministérios da Cultura e Fazenda e o consulado francês- estão envolvidos numa prestação de contas cujos números não fecham: sumiram R$ 988.526,93 do que foi arrecadado em bilheteria e com a venda de objetos.
Auditores da Secretaria Federal de Controle do Ministério da Fazenda e da Secretaria de Controle Interno do Ministério da Cultura já examinaram os documentos apresentados pela direção do museu. Não ficaram satisfeitos com o que viram.
Eles exigem a apresentação de notas fiscais que comprovem que o dinheiro foi gasto.
Essas notas ainda não apareceram. Se não aparecerem, o caso vai parar na Justiça.
O dinheiro sumido representa 87,66% do total arrecadado (R$ 1.128.933,07) na venda de ingressos e produtos (gravuras, catálogos, chaveiros e brinquedos, por exemplo) durante a exposição, realizada de 12 de março a 19 de maio de 1997.

Conta privada
Segundo a diretora do museu, Heloísa Aleixo Lustosa, o dinheiro da bilheteria era depositado todos os dias em uma conta aberta no Banco do Brasil pela Associação dos Amigos do Museu Nacional de Belas Artes.
O depósito de dinheiro arrecadado por órgão público em conta privada é ilegal, pois contraria os decretos federais 99.602, de 1967, e 93.872, de 1986.
O dinheiro teria que ficar em conta do Tesouro Nacional, conforme orientação dada à diretora do museu em agosto de 97, por ofício, pelo então presidente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Glauco Campello. Só que a mostra tinha acabado havia três meses.
Lustosa afirma que, por desconhecimento da legislação, concordou com o depósito na conta da associação, desde que os gastos tivessem sua aprovação.
Segundo ela, não foi o que aconteceu. Lustosa acusa Romaric Sulger Buel, então adido cultural e vice-cônsul da França no Rio, de sacar o dinheiro da conta sem autorização da diretoria do Museu Nacional de Belas Artes.
Os saques teriam ocorrido por meio de cheques assinados por Buel -representante, no contrato da mostra, do museu parisiense Marmottan, dono do acervo exposto- e por Bertrand Rigot-Muller, chefe do Setor de Difusão Cultural do consulado e coordenador-geral do evento.
Também assinavam os cheques o vice-presidente da associação de amigos, o advogado João Maurício de Araújo Pinho, e o diretor financeiro da entidade, o banqueiro Theophilo de Azeredo Santos.

Sem acordo
Desde o fim da exposição, o museu, a associação e os franceses discutem sobre os gastos e não chegam a um acordo.
Buel alega que usou o dinheiro da bilheteria para cobrir despesas feitas na preparação da mostra e pagar serviços prestados, e que estava autorizado a fazer esses gastos. O museu rebate o argumento.
A confusão sobre o destino do dinheiro está sendo acompanhada pelo consulado da França.
O cônsul francês no Rio, Denis Delbourg, guarda dezenas de documentos sobre o caso. O primeiro deles é o contrato que permitiu a vinda das obras de Monet ao Brasil, datado de 11 de julho de 96.
Oficialmente, o consulado não teve envolvimento com a exposição.
No protocolo que estabeleceu as bases do "Projeto Monet", Buel é citado como representante do museu Marmottan.
Em nenhum momento ele aparece no protocolo como funcionário do governo da França, mas toda a correspondência trocada entre Buel e os outros envolvidos na exposição está em papel timbrado do consulado.


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