São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2001

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VALE A PENA LER DE NOVO

Diretor lança hoje "O Circo Eletrônico", depois de escrever "Antes que me Esqueçam" (1988)

Daniel Filho reconta a história da televisão

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"O Circo Eletrônico - Fazendo TV no Brasil", de Daniel Filho, que será lançado hoje à noite em São Paulo, é uma obra importante para estudantes de comunicação ou fascinados por televisão.
Para quem não está exatamente em nenhuma dessas categorias, mas se interessa por histórias da TV, principalmente aquelas secretas de bastidores, há um outro livro recomendado: "Antes que me Esqueçam", que o próprio Daniel Filho escreveu, em 1988.
Com proposta semelhante à de "O Circo Eletrônico", o livro não foi exatamente um sucesso editorial e já andava esquecido nas prateleiras de sebos, onde foi achado pela Folha. As obras se distanciam, apesar do objetivo comum de contar a história da TV.
Em 1988, três anos antes de sair da TV Globo e tentar a sorte na Cultura e Bandeirantes, Daniel Filho já era um dos profissionais mais importantes da televisão, mas parecia inseguro. Seus dilemas, que começam a ser expostos pelo próprio título do livro, aparecem de maneira escancarada.
O livro traz a história da TV como consequência da narração de sua própria vida. Por não querer fazer o que fez em "O Circo Eletrônico", ou seja, um roteiro técnico da TV, Daniel Filho quebra a vidraça dos bastidores, desabafa e não poupa ninguém. Nem ele próprio, nem seus grandes amigos, nem seus maiores amores.
É assim que ficamos sabendo no primeiro livro que um dos seriados de maior sucesso na TV, "Malu Mulher", foi causa e consequência de um romance entre seu criador, Daniel Filho, e a protagonista, Regina Duarte. Em "O Circo Eletrônico", a narração não passa pelo envolvimento entre eles. Há também um depoimento de Regina Duarte centrado na técnica de direção de Daniel Filho.
E a técnica é mesmo a protagonista de "O Circo Eletrônico". Sua ordem é cronológica, e o conteúdo, didático: "O cenógrafo é responsável pela concepção e execução dos cenários".
"Antes que me Esqueçam" é mais emocional. Algumas histórias são contadas de modo similar. Quando Daniel Filho foi contratado pela TV Tupi, por exemplo. "Na hora de assinar eu disse: "Escuta aqui, eu não sou produtor nem diretor". A resposta veio seca e cortante: "Sim, a gente sabe. Mas, se virar produtor ou diretor, já está contratado'", foi o relato de "Antes que me Esqueçam". Em "O Circo": "Reclamei: "Ora, mas eu sou só ator!". E tive como resposta: "É, mas se vier a dirigir ou produzir ou o que seja, já está contratado para isso também".
Fatos são fatos. Mas alguns mereceram tratamentos diversos. No primeiro livro, Daniel Filho dedica praticamente um capítulo inteiro para falar mal de Gloria Magadan, uma cubana que introduziu a novela no Brasil e que acabou sendo substituída por ele. "(...) Toda arrumada e pintada, continua irremediavelmente velha. (...) Daniel a observa de longe, e ela a todo o momento ameaça tirá-lo para dançar (...). É difícil escapar da tirana. A essa altura, ela já deu uns amassos em Walter Clark (...). Daniel não quer correr o mesmo risco, mas a forma com a qual está vencendo as dificuldades na emissora torna-o absolutamente irresistível para a tirana."
Em "O Circo Eletrônico", a cubana é poupada, a não ser por uma crítica a uma de suas novelas. Feita por Boni. "O Circo Eletrônico" tem como vantagem, para o leitor, a atualização do que se produziu na TV brasileira nos últimos 13 anos, o que não é pouco. A Globo também sai ganhando. Daniel Filho dedica páginas para explicar por que a emissora é líder. E o melhor: afasta os holofotes da intimidade de seus astros.


O CIRCO ELETRÔNICO - FAZENDO TV NO BRASIL. De: Daniel Filho. Editora: Jorge Zahar Editor. Lançamento: hoje, às 19h30, na Saraiva Megastore do shopping Eldorado. 360 páginas. R$ 39.


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