São Paulo, sexta-feira, 20 de julho de 2007

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ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@folha.com.br

Herchcovitch vai para a Zoomp

Estilista assume como novo diretor de criação da grife, pioneira no jeanswear brasileiro e que passa por reestruturação após um longo período de crise

O estilista Alexandre Herchcovitch é o novo diretor de criação da Zoomp. A contratação do celebrado designer por uma das mais famosas grifes de jeanswear do país foi selada na última quarta-feira pela HLDC Investimentos, empresa brasileira que comprou a Zoomp há dois anos.
Herchcovitch será também curador criativo do grupo Zoomp S/A, por meio do qual a HLDC pretende iniciar agora um processo de aquisição de outras grifes.
A função de curador criativo de marcas, já praticada no exterior, é inédita no Brasil. O estilista vai selecionar as novas grifes a serem adquiridas e repensar o conceito e a criação de cada uma delas, junto com o recém-criado conselho estratégico de executivos da empresa.

Estilista deixa a Cori
No mesmo dia em que disse "sim" para a Zoomp, Herchcovitch desligou-se da Cori, onde atuava há cinco anos, também como diretor de criação.
As suas novas tarefas vão se juntar à série de atividades que o transformaram num dos mais ativos criadores-empresários na moda brasileira, com licenciamentos de mais de 200 produtos, quatro lojas no país e uma em Tóquio.
"Meu ex-patrão na Cori me disse que consigo colocar ovo em pé. Espero que sim. Voltar para a Zoomp é um prêmio para mim", diz Herchcovitch. Ele já havia trabalhado na empresa de 1998 a 2002, sob a batuta do estilista Renato Kherlakian, fundador da grife.
Kherlakian vai permanecer como editor sênior da Zoomp, cargo que vem exercendo desde que vendeu a empresa. Ele também planeja com o grupo HLDC a criação de uma nova grife. "Temos uma boa relação com o Renato e esperamos que isso dure", diz Enzo Monzani, 43, um dos donos da HLDC, junto com Conrado Will.
Fundada em 1974, a Zoomp ajudou a criar a cara moderna do jeans brasileiro e foi até o final dos anos 90 uma das grifes mais bem-sucedidas do país.
Depois, entrou em crise, e conta-se que pouco antes da sua venda tinha uma dívida de R$ 200 milhões. Monzani afirma que a dívida era menor que isso, mas ainda assim "considerável". Ele também não revela por quanto a HLDC adquiriu a Zoomp nem os valores da contratação de Herchcovitch.
Durante dois anos, o grupo tratou de sanear e reestruturar os negócios da marca. A nova etapa é reconquistar o mercado e o prestígio, hoje muito enfraquecido, sobretudo entre os jovens, seus principais consumidores potenciais.
"Decidimos investir em moda porque vivemos atualmente num capitalismo de marcas. Elas agregam muito valor ao processo de investimento, e a Zoomp é uma das grifes com mais reconhecimento entre os consumidores", diz Monzani. A reestruturação da marca vai custar cerca de R$ 40 milhões.
Neste projeto de reerguimento, o HLDC também contratou para presidente da Zoomp S/A o economista Vicente Mello, 37, ex-vice-presidente da Forum, e para diretora de marketing Marcia Matsuno, 38, executiva da Luminosidade, empresa que cuida da São Paulo Fashion Week.
"Vamos construir um grupo de gestão de marcas com grifes sinérgicas e complementares, porque o mercado hoje é fragmentado. Não pretendemos que a Zoomp abarque toda a demanda do consumidor", diz Mello. A idéia é comprar grifes de perfis diferentes da Zoomp, como as especializadas em malharia feminina e acessórios.
Foi justamente a possibilidade de escolher as grifes do grupo que mais fascinou Herchcovitch. "Poder selecionar as futuras marcas me atraiu muito. A moda brasileira está saindo de um tempo em que tinha uma estrutura muito familiar e está entrando numa outra era, em que grupos começam a adquirir e gerir as marcas", diz.
Para ele, este é um caminho incontornável. "Quem não souber lidar com isso e não assumir o risco vai sofrer futuramente. É algo que estou vivendo na minha própria empresa", conta.

A volta ao jeanswear
Atualmente com 19 lojas próprias, a Zoomp pretende ampliar a distribuição e fazer propostas de aquisição para as suas 17 franquias. "Mas só compraremos as franquias que quiserem ser vendidas. Como a Zoomp encolheu nos últimos anos, achamos que ela tem muito potencial de expansão", afirma Enzo. Ele quer ter 80 lojas nos próximos três anos.
A Zoomp emprega hoje 307 funcionários e produz 1 milhão e 700 mil peças por ano, em fábricas terceirizadas. A sua sede deverá mudar da região de Tamboré (a cerca de 30 km de São Paulo) para a capital.
Herchcovitch adianta que pretende reavivar o jeanswear da Zoomp. "Vamos ser especialistas em jeanswear, o que não quer dizer fazer apenas calças jeans, mas criar todo um lifestyle casual. É este o talento histórico da grife", afirma.
Para Monzani, o objetivo da Zoomp será produzir roupas com personalidade, que não sejam necessariamente caras. "Você não precisa cobrar R$ 1.000 para ter uma peça com muita informação de moda."
Para Herchcovitch, com a entrada de grifes estrangeiras no país, no final dos anos 90, a Zoomp e outras empresas de jeanswear quiseram se tornar marcas de luxo. "Algumas delas se perderam nesse processo, outras não", diz. Ele quer dar um novo sentido à palavra "luxo". "Para mim o luxo não tem a ver com o valor do produto, mas está mais ligado ao design, à raridade e ao estilo", define.


com VIVIAN WHITEMAN


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