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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@folha.com.br
Herchcovitch vai para a Zoomp
Estilista assume como novo diretor de criação da grife, pioneira no jeanswear
brasileiro e que passa por reestruturação após um longo período de crise
O estilista Alexandre Herchcovitch é o novo diretor de criação da Zoomp. A contratação
do celebrado designer por uma
das mais famosas grifes de
jeanswear do país foi selada na
última quarta-feira pela HLDC
Investimentos, empresa brasileira que comprou a Zoomp há
dois anos.
Herchcovitch será também
curador criativo do grupo
Zoomp S/A, por meio do qual a
HLDC pretende iniciar agora
um processo de aquisição de
outras grifes.
A função de curador criativo
de marcas, já praticada no exterior, é inédita no Brasil. O estilista vai selecionar as novas grifes a serem adquiridas e repensar o conceito e a criação de cada uma delas, junto com o recém-criado conselho estratégico de executivos da empresa.
Estilista deixa a Cori
No mesmo dia em que disse
"sim" para a Zoomp, Herchcovitch desligou-se da Cori, onde
atuava há cinco anos, também
como diretor de criação.
As suas novas tarefas vão se
juntar à série de atividades que
o transformaram num dos mais
ativos criadores-empresários
na moda brasileira, com licenciamentos de mais de 200 produtos, quatro lojas no país e
uma em Tóquio.
"Meu ex-patrão na Cori me
disse que consigo colocar ovo
em pé. Espero que sim. Voltar
para a Zoomp é um prêmio para mim", diz Herchcovitch. Ele
já havia trabalhado na empresa
de 1998 a 2002, sob a batuta do
estilista Renato Kherlakian,
fundador da grife.
Kherlakian vai permanecer
como editor sênior da Zoomp,
cargo que vem exercendo desde
que vendeu a empresa. Ele
também planeja com o grupo
HLDC a criação de uma nova
grife. "Temos uma boa relação
com o Renato e esperamos que
isso dure", diz Enzo Monzani,
43, um dos donos da HLDC,
junto com Conrado Will.
Fundada em 1974, a Zoomp
ajudou a criar a cara moderna
do jeans brasileiro e foi até o final dos anos 90 uma das grifes
mais bem-sucedidas do país.
Depois, entrou em crise, e
conta-se que pouco antes da
sua venda tinha uma dívida de
R$ 200 milhões. Monzani afirma que a dívida era menor que
isso, mas ainda assim "considerável". Ele também não revela
por quanto a HLDC adquiriu a
Zoomp nem os valores da contratação de Herchcovitch.
Durante dois anos, o grupo
tratou de sanear e reestruturar
os negócios da marca. A nova
etapa é reconquistar o mercado
e o prestígio, hoje muito enfraquecido, sobretudo entre os jovens, seus principais consumidores potenciais.
"Decidimos investir em moda porque vivemos atualmente
num capitalismo de marcas.
Elas agregam muito valor ao
processo de investimento, e a
Zoomp é uma das grifes com
mais reconhecimento entre os
consumidores", diz Monzani. A
reestruturação da marca vai
custar cerca de R$ 40 milhões.
Neste projeto de reerguimento, o HLDC também contratou para presidente da
Zoomp S/A o economista Vicente Mello, 37, ex-vice-presidente da Forum, e para diretora de marketing Marcia Matsuno, 38, executiva da Luminosidade, empresa que cuida da São
Paulo Fashion Week.
"Vamos construir um grupo
de gestão de marcas com grifes
sinérgicas e complementares,
porque o mercado hoje é fragmentado. Não pretendemos
que a Zoomp abarque toda a
demanda do consumidor", diz
Mello. A idéia é comprar grifes
de perfis diferentes da Zoomp,
como as especializadas em malharia feminina e acessórios.
Foi justamente a possibilidade de escolher as grifes do grupo que mais fascinou Herchcovitch. "Poder selecionar as futuras marcas me atraiu muito.
A moda brasileira está saindo
de um tempo em que tinha uma
estrutura muito familiar e está
entrando numa outra era, em
que grupos começam a adquirir
e gerir as marcas", diz.
Para ele, este é um caminho
incontornável. "Quem não souber lidar com isso e não assumir o risco vai sofrer futuramente. É algo que estou vivendo na minha própria empresa",
conta.
A volta ao jeanswear
Atualmente com 19 lojas próprias, a Zoomp pretende ampliar a distribuição e fazer propostas de aquisição para as suas 17 franquias. "Mas só compraremos as franquias que quiserem ser vendidas. Como a
Zoomp encolheu nos últimos
anos, achamos que ela tem
muito potencial de expansão",
afirma Enzo. Ele quer ter 80 lojas nos próximos três anos.
A Zoomp emprega hoje 307
funcionários e produz 1 milhão
e 700 mil peças por ano, em fábricas terceirizadas. A sua sede
deverá mudar da região de
Tamboré (a cerca de 30 km de
São Paulo) para a capital.
Herchcovitch adianta que
pretende reavivar o jeanswear
da Zoomp. "Vamos ser especialistas em jeanswear, o que não
quer dizer fazer apenas calças
jeans, mas criar todo um lifestyle casual. É este o talento
histórico da grife", afirma.
Para Monzani, o objetivo da
Zoomp será produzir roupas
com personalidade, que não sejam necessariamente caras.
"Você não precisa cobrar R$
1.000 para ter uma peça com
muita informação de moda."
Para Herchcovitch, com a
entrada de grifes estrangeiras
no país, no final dos anos 90, a
Zoomp e outras empresas de
jeanswear quiseram se tornar
marcas de luxo. "Algumas delas
se perderam nesse processo,
outras não", diz. Ele quer dar
um novo sentido à palavra "luxo". "Para mim o luxo não tem a
ver com o valor do produto,
mas está mais ligado ao design,
à raridade e ao estilo", define.
com VIVIAN WHITEMAN
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