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CONTOS MÍNIMOS
Restos de
um sonho
HELOISA SEIXAS
Na manhã fria, chuvosa, o
mendigo dorme. Nem o
tráfego pesado, nem os
transeuntes apressados,
nem o martelar de uma
obra ali perto, nada é capaz
de despertá-lo. Dorme profundamente, embora a manhã já vá alta. É uma segunda-feira triste, e triste é
também aquela figura, que
tem por travesseiro um
emaranhado de panos e
uma muleta, sobre a qual
adormeceu, zeloso -provavelmente seu único bem.
Ou talvez não. Talvez haja
outro. Sim, porque, se reparamos bem, veremos que
tem por cobertor uma bandeira do Brasil, resto de um
sonho ainda há pouco desfeito.
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