São Paulo, segunda, 20 de julho de 1998

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PRIMAVERA-VERÃO 98/99
Roupa vira, enfim, estrela da moda em SP

ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha

Os estilistas falam em evolução, revolução, exercício e mudança. É que começa hoje em São Paulo, somente para convidados, a quinta edição do MorumbiFashion Brasil, mais importante evento da moda brasileira, que mostra agora as coleções de primavera-verão 98/99 das 20 principais confecções nacionais.
Depois de dois anos, as passarelas deixam o bucólico espaço do parque do Ibirapuera para tomar lugar no Jóquei Clube, em tendas (uma delas, a maior do mundo, com 15m de pé direito, 50m de comprimento e 40m de altura, usada nas Olimpíadas de Atlanta).
Dois mil profissionais estão envolvidos no evento, com custo total de US$ 1,5 milhão. Tudo isso para fazer funcionar um star-system à volta de uma estrela até então incomum: a roupa.
Se antes o hype, a badalação, os convidados especiais, os artistas e as montagens grandiosas orientavam as temporadas e coberturas de moda, desta vez é -quem diria- o tecido quem manda, numa valorização das intenções mais consistentes dos estilistas.
"Explorei o acidente que o tricoline, por exemplo, dá. Para onde quer ir é para onde a gente está indo. Respeitamos o lugar onde o tecido quer ficar. Idem para a modelagem", diz Renato Loureiro, um dos destaques da última temporada, com aguardado desfile terça.
Lino Villaventura, que desfila na quinta, confirma: "Inverti o trabalho. Agora uso o próprio tecido para dar as texturas e os detalhes de que tanto gosto, além de preguear, aquecer e enrugar. Montei os tecidos conforme a vontade deles. Quando vi, havia mudado toda a direção da roupa, do comportamento e do corte. É um grande exercício. Mas sempre mantendo os detalhes."
Esses detalhes, mais simplicidade e "moulage", são outras palavras em alta na temporada. O moulage é a técnica de trabalhar direto com o tecido, no corpo de uma modelo no ateliê ou num manequim.
Alexandre Herchcovitch, sempre esperadíssimo, desfila amanhã coleção que destaca o jeans e uma série especial de peças em que ele pega uma tira contínua de tecido e vai enrolando no corpo. "É uma evolução da modelagem. É tudo justo, tudo o que faz aparecer o corpo", diz o estilista, que desta vez traz modelos "lindas, maquiadas, com sapatos de salto".
Valdemar Iódice, proprietário e estilista da Iódice (amanhã), fez até curso de moulage "para absorver a nova atitude da moda": "As estruturas da roupa sofreram alteração. Agora, ou é acompanhar a silhueta e evitar as costuras, ou as novas formas, cilíndricas".
"É a valorização do pano", afirma Walter Rodrigues, que mostra coleção na quarta. "A roupa é importante, mas não podemos esquecer o ser humano. Ela deve funcionar para evocar o desejo. É um exercício de conquista."
Para fazer chegar todas as sutilezas dessa nossa nova estrela, foi convocada de Nova York a light designer Elizabeth Geldhof, responsável pela iluminação de desfiles de marcas como Chanel e Calvin Klein. "As roupas precisam aparecer bem nas revistas e nos jornais", disse. "Combino os conceitos pretendidos pelos estilistas à praticidade necessária para fotógrafos e cinegrafistas."



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