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PRIMAVERA-VERÃO 98/99
Roupa vira, enfim, estrela da moda em SP
ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha
Os estilistas falam em evolução,
revolução, exercício e mudança. É
que começa hoje em São Paulo,
somente para convidados, a quinta edição do MorumbiFashion
Brasil, mais importante evento da
moda brasileira, que mostra agora
as coleções de primavera-verão
98/99 das 20 principais confecções
nacionais.
Depois de dois anos, as passarelas deixam o bucólico espaço do
parque do Ibirapuera para tomar
lugar no Jóquei Clube, em tendas
(uma delas, a maior do mundo,
com 15m de pé direito, 50m de
comprimento e 40m de altura,
usada nas Olimpíadas de Atlanta).
Dois mil profissionais estão envolvidos no evento, com custo total de US$ 1,5 milhão. Tudo isso
para fazer funcionar um
star-system à volta de uma estrela
até então incomum: a roupa.
Se antes o hype, a badalação, os
convidados especiais, os artistas e
as montagens grandiosas orientavam as temporadas e coberturas
de moda, desta vez é -quem diria- o tecido quem manda, numa
valorização das intenções mais
consistentes dos estilistas.
"Explorei o acidente que o tricoline, por exemplo, dá. Para onde
quer ir é para onde a gente está indo. Respeitamos o lugar onde o tecido quer ficar. Idem para a modelagem", diz Renato Loureiro, um
dos destaques da última temporada, com aguardado desfile terça.
Lino Villaventura, que desfila na
quinta, confirma: "Inverti o trabalho. Agora uso o próprio tecido
para dar as texturas e os detalhes
de que tanto gosto, além de preguear, aquecer e enrugar. Montei
os tecidos conforme a vontade deles. Quando vi, havia mudado toda
a direção da roupa, do comportamento e do corte. É um grande
exercício. Mas sempre mantendo
os detalhes."
Esses detalhes, mais simplicidade e "moulage", são outras palavras em alta na temporada. O
moulage é a técnica de trabalhar
direto com o tecido, no corpo de
uma modelo no ateliê ou num manequim.
Alexandre Herchcovitch, sempre esperadíssimo, desfila amanhã
coleção que destaca o jeans e uma
série especial de peças em que ele
pega uma tira contínua de tecido e
vai enrolando no corpo. "É uma
evolução da modelagem. É tudo
justo, tudo o que faz aparecer o
corpo", diz o estilista, que desta
vez traz modelos "lindas, maquiadas, com sapatos de salto".
Valdemar Iódice, proprietário e
estilista da Iódice (amanhã), fez
até curso de moulage "para absorver a nova atitude da moda":
"As estruturas da roupa sofreram
alteração. Agora, ou é acompanhar a silhueta e evitar as costuras,
ou as novas formas, cilíndricas".
"É a valorização do pano", afirma Walter Rodrigues, que mostra
coleção na quarta. "A roupa é importante, mas não podemos esquecer o ser humano. Ela deve
funcionar para evocar o desejo. É
um exercício de conquista."
Para fazer chegar todas as sutilezas dessa nossa nova estrela, foi
convocada de Nova York a light
designer Elizabeth Geldhof, responsável pela iluminação de desfiles de marcas como Chanel e Calvin Klein. "As roupas precisam
aparecer bem nas revistas e nos
jornais", disse. "Combino os
conceitos pretendidos pelos estilistas à praticidade necessária para
fotógrafos e cinegrafistas."
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