São Paulo, Terça-feira, 20 de Julho de 1999
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Barroco brasileiro vai a Paris


Capital francesa joga luz sobre a arte brasileira ao ocupar todo o museu Petit Palais com 350 peças barrocas durante o festejado réveillon do milênio


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

O barroco brasileiro vai ganhar neste final de ano -mais precisamente no período do réveillon- uma visibilidade nunca imaginada em seus mais de três séculos de história. Cerca de 350 peças produzidas a partir da metade do século 17 ocuparão todas as 13 salas do museu parisiense Petit Palais, um dos mais prestigiosos da cidade. Será a única escala da mostra, que ficará em cartaz entre 4 de novembro deste ano e 6 de fevereiro de 2000. Depois, as peças voltam a suas coleções originais.
Sete Estados brasileiros cederão obras: Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Pará, sendo que os três primeiros estão sendo visitados agora pelos dois curadores franceses da mostra: Gilles Chazal, diretor do Petit Palais, e Édouard Pommier, diretor da União Latina, entidade co-organizadora do evento. A mostra conta ainda com curadoria do brasileiro Ângelo Oswaldo Araújo Santos, secretário da Cultura de Minas Gerais. O evento está avaliado entre US$ 2 milhões e US$ 3 milhões.
Para ter uma idéia da visibilidade da mostra, basta notar que cerca de 35 mil turistas brasileiros pretendem passar o réveillon deste ano na França, e que Paris deverá receber mais de 3 milhões de turistas do mundo inteiro. O ministério da Cultura da França deverá gastar cerca de US$ 12 milhões com os festejos na cidade, que incluem a iluminação da torre Eiffel com 20 mil lâmpadas.
Apesar de toda a luz e visibilidade que o barroco brasileiro tem recebido nos últimos anos, reflexo da aproximação das comemorações pelos 500 Anos do Descobrimento do país e consequente valorização dos movimentos históricos do país, a vertente brasileira dessa escola -nascida e crescida principalmente na Europa contra-reformista (leia texto abaixo)- também possui detratores, que a julgam cópia de seus irmãos ricos: italianos, espanhóis e portugueses, principalmente, opinião não dividida pelos curadores franceses.
"O barroco brasileiro tem sua importância própria. É uma das manifestações do barroco, como o português, italiano, espanhol ou austríaco. É necessário descobri-lo em suas particularidades e seus limites. Ele tem uma força e uma originalidade que merecem ser descobertas", justificou Gilles Chazal.
"Ele tem sua personalidade. Ele se desenvolveu em meio geográfico, cultural e humano particulares. Ele estabelece relações profundas com a vitalidade e o orgulho da natureza brasileira. O barroco brasileiro está muito próximo da população com a qual, para a qual e pela qual ele foi criado", complementou Édouard Pommier.
É interessante notar que, logo após a independência do Brasil, vem da mesma França o "impulso civilizador neoclássico", que pretenderia dotar a cultura brasileira de características clássicas em substituição à "desordem" do barroco. O rompimento político com Portugal deveria, assim, ser acompanhado de um rompimento estético.
Os brasileiros que não puderem ir a Paris no período da mostra poderão ter acesso a uma grande mostra de barroco em São Paulo no ano 2000, a partir de maio.
A escola é um dos nove segmentos da megamostra organizada pela Associação Brasil 500 Anos para a Fundação Bienal. O segmento tem curadoria de Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


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