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LIVRO LANÇAMENTO
Mãe faz biografia 'que não podia' de Cazuza
especial para a Folha
Lucinha Araujo, mãe de Agenor
de Miranda, o Cazuza, com a ajuda
da jornalista e escritora Regina
Echeverria ("Furacão Elis"), publica "Cazuza - Só as Mães São Felizes", livro que une entrevistas do
filho, depoimentos de amigos e
dos pais.
Não deve ter sido nada fácil ser
mãe de Cazuza, boêmio perdulário
de humor instável. Também não
deve ter sido fácil ser mãe de um
famoso portador do vírus da Aids,
quando pouco se sabia da doença:
os pais de Cazuza chegaram a ouvir de um médico americano que
deveriam evitar beijar o filho.
Para expor seus dramas e comédias, Araujo escreveu uma explícita declaração de amor ao filho,
morto em 1990, num misto de de
desabafo e registro histórico.
Cazuza, pilar do rock dos 80, teve
músicas cantadas por Gal Costa e
Ney Matogrosso -com quem teve
um caso amoroso, segundo depoimento do próprio, no livro- e
embalou as noites cariocas com se
sexo, drogas e rock.
Toda a renda do livro será doada à Sociedade Viva Cazuza, fundada
há sete anos pela mãe e que abriga
crianças portadoras do vírus HIV.
Por telefone, do Rio, Lucinha
Araujo falou à Folha.
Folha - Como era viver com um
filho que não parava quieto?
Lucinha Araujo - Ele me fazia de
gato e sapato. Mas tinha de ser assim, sou muito mandona. Um filho deve aprender com a mãe. No
meu caso, aprendi quase tudo com
meu filho. Ele queria viver mil
anos em dez. Teve tudo que escolheu. Tinha muita coisa pra dar
pro Brasil.
Folha - Foi difícil escrever o livro?
Araujo - O livro é triste e alegre,
como Cazuza. Na minha ignorância, demorei para conhecer meu filho. No dia em que ele morreu, eu
achava que não iria conseguir viver sem ele. Foi então que me falaram para escrever o livro.
Folha - O livro é uma espécie de
exorcismo?
Araujo - Passei a limpo minha
vida com ele. Não é uma biografia.
Mãe não pode escrever sobre o filho.
Folha - Como era lidar com uma
doença que ninguém conhecia?
Araujo - Aprendi tudo sobre ela.
Sabia mais que muitos médicos.
Não fui contaminada, mas contagiada. A doença chega perto de nós
a cada dia. Sei e sempre soube o
que pega e o que não pega.
Folha - Por que o primeiro teste
dele (em 1985) deu negativo?
Araujo - Ele teve febre às vésperas de um show. Foi ele que pediu ao
médico para fazer o teste. Os testes, então, eram muito falhos. Ele
dizia que não era promíscuo.
Folha - Você acha que ele se contaminou em San Francisco (EUA),
onde morou antes da fama?
Araujo - Acho que sim. Foi lá
que começou tudo. Ele deve ter encubado a doença durante anos.
Folha - Como vocês reagiram
quando ele declarou publicamente
que tinha o vírus?
Araujo - Foi um alívio. Ele estava doido para falar, nós não deixávamos. Foi uma surpresa, as pessoas foram amáveis em excesso.
Folha - Você acha que as pessoas
famosas portadoras do vírus deve
riam se abrir?
Araujo - É um peso que se tira. É
como pedir ajuda aos amigos.
Mas, para algumas pessoas, como
artistas globais, não sei se adianta.
Folha - Como nasceu a idéia da
Sociedade Viva Cazuza?
Araujo - Alguns meses depois
de sua morte, houve o show "Viva
Cazuza", e me deram o cheque da
renda para ser doado a uma instituição ligada à Aids. Eu não queria
saber disso. Mas quando cheguei
no Hospital Gaffrée e Guinle com o
dinheiro, eles pediram para eu trabalhar com eles. Vi aí o videoteipe
do que tinha vivido. Os doentes ficavam iguais ao meu filho.
Folha - Por isso você decidiu cuidar de crianças portadoras?
Araujo - O dinheiro era do meu
filho, dos direitos autorais de suas
músicas. Pensei numa casa de
apoio que, hoje, é referência no
Brasil. São 33 crianças morando e
estudando. Sou maluca, tudo bem.
(MARCELO RUBENS PAIVA)
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