|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Documentarista engordou 11 quilos; segundo nutricionistas, lanche tem duas vezes mais calorias que refeição normal
Diretor encara um mês de McDonald's
THIAGO STIVALETTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Ele provou na pele o que todos
já desconfiavam. Munido de uma
obstinação idêntica à de Michael
Moore para realizar um documentário ao mesmo tempo polêmico e divertido, o americano
Morgan Spurlock passou 30 dias
comendo apenas no McDonald's
para mostrar os efeitos devastadores do fast food no corpo em
"Super Size Me -A Dieta do Palhaço", que estréia hoje em SP.
Numa entrevista coletiva, Spurlock rebatia as críticas sobre seu
filme. "Passar um mês comendo
só brócolis também é ruim para a
saúde", dizem os detratores. "Mas
ninguém vende o brócolis como
uma refeição completa, e o
McDonald's gasta fortunas para
nos convencer que o seu cardápio
é completo", diz o diretor.
Todos sabem que fast food em
excesso faz mal, mas os especialistas demonstram isso em números. Nutricionistas ouvidos pela
Folha apontam que uma refeição
no McDonald's é rica em calorias
e pobre em nutrientes.
Pegue-se os números da própria
rede. Hoje em dia, seguindo a
orientação da matriz americana,
uma tabela com a composição de
nutrientes de todos os itens do
cardápio vem no verso do papel
que cobre a bandeja. No site
www.mcdonalds.com.br o internauta pode calcular o total de calorias que vai consumir. Para um
lanche com Big Mac, Coca-Cola
grande (500 ml) e batata frita
grande, uma pessoa ingere um total de 1.020 quilocalorias.
É mais que o dobro existente em
um prato médio com arroz, feijão,
carne e salada. "Mas não se deve
culpar só os fast foods. Quem almoça desregradamente em um
restaurante por quilo comete o
mesmo abuso de calorias", diz a
nutricionista Camila de Abreu.
De acordo com a nutricionista
Mariana Del Bosco, da Associação Brasileira para o Estudo da
Obesidade (Abeso), as refeições
da rede são ricas em gordura, sódio e carboidratos. O exemplo de
lanche citado contém 36% de gordura -o máximo recomendado
em uma refeição é de 25%.
Por outro lado, os lanches são
pobres em vitaminas, minerais e
fibras. A falta desses nutrientes
provoca o que os nutricionistas
chamam de "fome oculta", a vontade de comer apenas algumas
horas depois do lanche.
Os especialistas dizem que não
existe uma freqüência máxima recomendada para o fast food, já
que isso depende do nível de exercícios físicos e outros fatores. Mas
o ideal é ficar em torno de uma
vez por semana. A preocupação
hoje é tanta que existe um projeto
em tramitação no Congresso para
regular a propaganda de alimentos e o destaque dado aos valores
nutricionais, de autoria do senador Tião Viana (PT-AC).
Mas é engano pensar que "Super" é o primeiro ataque à rede.
Segundo Isleide Fontenelle, autora do livro "O Nome da Marca",
um estudo sobre o crescimento
da rede, o primeiro ataque ocorreu nos anos 70. Nos anos 80, o
excesso de calorias nos lanches foi
questionado pela primeira vez. "A
força do McDonald's vem de um
intenso trabalho de relações públicas para a superação de todas
essas crises", diz a autora.
Texto Anterior: Longa tem verba de R$ 3 milhões para lançamento Próximo Texto: Crítica: Filme é "Fahrenheit" da fast food Índice
|