São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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Irmãs Milhazes retomam parceria

Espetáculo coreografado por Márcia tem cenário criado por Beatriz; "sociedade" começou na infância, como brincadeira

Folha acompanha encontro da família Milhazes no ateliê de Beatriz, no Rio, antes da estréia de "Meu Prazer", que acontece hoje, em São Paulo


ADRIANA PAVLOVA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Na infância, era só diversão.
Bola e Bolinha passavam horas brincando de teatro. Fantasiavam-se de bonecas e inventavam histórias. Na platéia, apenas seus pais -quando muito.
Depois da adolescência, a brincadeira ficou mais séria. O teatro havia virado um palco de verdade para Bolinha, uma bailarina recém-formada, mostrar seu primeiro espetáculo, "Dançando Villa-Lobos". Bola, uma pintora iniciante, deu sua contribuição: fez o cenário e criou os figurinos.
Hoje, mais de duas décadas depois do primeiro espetáculo profissional, Márcia Milhazes (Bolinha), 47, e Beatriz Milhazes (Bola), 48, voltam a unir seus talentos de coreógrafa e pintora, como acontece sempre que a parte dançante das irmãs tem um novo trabalho.
Em "Meu Prazer", que estréia hoje no Sesc Consolação, em São Paulo, os quatro bailarinos da Márcia Milhazes Companhia de Dança desfiam uma torrente de sentimentos amorosos. No fundo da cena, suspenso, há um jardim repleto das mesmas flores e mandalas coloridas que tornaram Beatriz Milhazes uma das artistas brasileiras mais disputadas pelo mercado internacional.
"Somos uma família unida", dizia Márcia, há uma semana, num encontro familiar testemunhado pela Folha, no ateliê de Beatriz -uma charmosa casa no Horto, no Rio.
A pintora também elogiava: "Família a gente não escolhe, por isso me sinto privilegiada de ter uma com a qual partilho tudo no meu dia-a-dia", disse Beatriz, madrinha do único herdeiro da família, Thomaz Camilo, 7, filho da coreógrafa.

Domingo no museu
As duas irmãs e a mãe (Glauce, 69, professora de história da arte aposentada, que hoje produz os espetáculos da filha coreógrafa) rememoraram histórias como a dos personagens Bola e Bolinha, apelidos de infância que se mantêm até hoje (o pai, José, com 73 anos, advogado, é o Bolão).
Mas, sobretudo, tentaram explicar como, não tendo nenhum outro artista na família, transformaram-se em expoentes da arte que escolheram. "Elas viveram a ebulição cultural dos anos 60 e 70. Nós as levávamos para ver Bethânia no teatro Casa Grande, mas também passávamos domingos inteiros na recreação do Museu de Arte Moderna, onde, não era raro, Lygia Clark estava criando", conta Glauce.
"Meus pais sempre amaram ser brasileiros. Isso talvez explique a brasilidade que as pessoas vêem nos nossos trabalhos. As cores da obra da Bia ou as trilhas dos meus espetáculos [Márcia garimpa obras brasileiras históricas] têm a ver com isso", diz Márcia.
Em "Meu Prazer", o jardim colorido e a trilha formada por uma colagem de piano solo e acordeão -há apenas uma música com voz, "Misterioso Amor", com Francisco Alves- são o contraponto a um balé dramaturgicamente intenso.
"Há uma mulher que conduz o espetáculo. É como se ela estivesse lendo cartas de amor e, mergulhada num mundo dos sonhos, fosse descobrindo outros personagens, seus sentimentos e desejos. Tudo muito intenso, mas com poesia", afirma Márcia.
O curioso é que, mesmo tão próximas, Beatriz jamais assiste aos ensaios dos espetáculos da irmã. Ela cria sua parte a partir de conversas. Mesmo assim, o cenário é parte fundamental da dança.
"Ela criou uma flor para cada bailarino, e uma das intérpretes dança boa parte do tempo no meio do jardim", conta Márcia, que, no próximo ano, pretende criar uma instalação com a irmã para ser apresentada em um museu. Afinal, Bola e Bolinha ainda têm muito a fazer juntas.


MEU PRAZER
Quando: estréia hoje, às 21h; ter., qua. e qui., às 21h; até 28/8
Onde: Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/3234-3000)
Quanto: R$ 5 a R$ 20
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos




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