São Paulo, sexta-feira, 20 de agosto de 2010

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cinema

CRÍTICA FANTASIA

Shyamalan faz alegoria em torno do poder

Mais vocacionado cineasta americano para a contemplação, ele acerta ao abordar questões espirituais em 3D

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"O Último Mestre do Ar" pode ser resumido como uma alegoria em torno do poder num momento em que nenhuma nação dispõe de força suficiente para se dizer plenamente hegemônica.
Mas isso, claro, não basta para dar conta da ficção de M. Night Shyamalan. Ele nos situa numa era imaginária em que o mundo se divide em quatro nações: Ar, Fogo, Terra e Água. Acima delas, existe apenas o Avatar.
Ei-lo de novo, mas outras são suas roupas e outro é o sentido. Digamos que Avatar -o mestre do ar do título- seja um Dalai Lama, em termos espirituais, o único a ser dotado de capacidade de dominar os quatro elementos.
Logo de início, descobrimos que o jovem mestre desapareceu por um século, não querendo assumir a responsabilidade. Quando desperta, o mundo está em guerra, com a gente do Fogo buscando dominar os outros. Há um dado importante que corre em paralelo a isso: todos os personagens centrais enfrentam situação de orfandade. São quatro despossuídos precisando corresponder às expectativas de uma geração passada.
De certa forma, é o que dá consistência a esse fabulário não tão diferente de outros que ocupam as telas.

CONTEMPLAÇÃO EM 3D
Mais do que isso, no entanto, a diferença vem de Shyamalan e do 3D. Em primeiro lugar, talvez não exista outro cineasta nos EUA tão vocacionado para a contemplação. E o contemplativo é provavelmente o que melhor rende no 3D (apesar da perda de luminosidade e de o filme sobreviver muito bem se exibido em 2D).
Em segundo, é um dos poucos capazes de integrar tradições ocidental e oriental e materializar, em imagens, questões espirituais.
E tudo aqui diz respeito à espiritualidade. Traduzindo na nossa mais recente linguagem cinematográfica: à transformação do conhecimento de si mesmo em capacidade de desferir golpes bem físicos nos inimigos.
Shyamalan é um dos raros cineastas contemporâneos, também, a enfrentar tal contradição sem cair na vulgaridade de formas ou conteúdos. Daí um filme invulgar.


O ÚLTIMO MESTRE DO AR

DIREÇÃO M. Night Shyamalan
PRODUÇÃO EUA, 2010
COM Noah Ringer, Dev Patel
ONDE nos cines Anália Franco, Cine TAM, Espaço Unibanco Pompeia e circuito
CLASSIFICAÇÃO 10 anos
AVALIAÇÃO ótimo




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