São Paulo, sábado, 20 de setembro de 1997.



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ENTREVISTA
Integrante do grupo de rap Fugees vem ao Brasil em novembro para lançar CD solo sobre o Carnaval
Wyclef Jean revela influência caribenha

SÉRGIO MARTINS
especial para a Folha

Wyclef Jean, 26, vem ao Brasil mostrar seu telecoteco de influências caribenhas. O rapper haitiano deve desembarcar no país em novembro para promover seu álbum solo, "Wyclef Jean Presents The Carnival", lançado nos Estados Unidos no início de julho.
Ele é uma espécie de Joãosinho Trinta do Grêmio Recreativo Unidos do Refugee Camp. Trabalha duro nas composições, veste a música dos Fugees com samples da melhor qualidade e prepara o terreno para a batucada verbal dos parceiros Lauryn Hill e Pras.
Essa receita transformou os Fugees em supercampeões do rap americano. "The Score", segundo álbum do grupo, vendeu 11 milhões de discos no mundo todo.
"Carnival" leva adiante as idéias de Wyclef. Num disco semiconceitual, o rapper revive suas raízes caribenhas (na regravação de "Guantanamera"), sampleia "Stayin' Alive", dos Bee Gees, e compõe uma sinfonia hip hop.
Em entrevista exclusiva à Folha, Wyclef falou sobre as gravações de "Carnival" e explicou o esquema de criação dos Fugees. Leia abaixo os melhores momentos.

Folha - O que significa "The Carnival"?
Wyclef Jean -
Minha família é do Haiti, país em que o Carnaval é bastante popular. Tudo pode acontecer no Carnaval. Crianças brincando, prostituição e o apocalipse, quando a polícia vem reprimir a diversão.
Folha - Você conhece o Carnaval brasileiro?
Jean -
Não, mas devo visitar o Brasil em novembro para promover "The Carnival". A princípio, vou fazer performances como DJ. Porém estou com vontade de tocar em alguns clubes.
Folha - Por que você decidiu regravar "Guantanamera"?
Jean -
Para nós, haitianos, essa música tem um significado muito forte. Trata-se de uma canção de luta, de resistência. E também sou fã de Celia Cruz. Eu a convidei para cantar no disco, ela aceitou.
Folha - No disco há também um sample de "Stayin' Alive", dos Bee Gees. A disco music influenciou sua música?
Jean -
Eu amo disco music, ela faz parte da minha infância. E "Stayin' Alive" é uma canção simbólica. A letra é uma mensagem para o pessoal se manter vivo, deixar de lado a violência, que já levou Tupac Shakur.
Folha -Como funciona o trabalho entre os Fugees?
Jean -
Eu produzo os discos e componho a maioria das músicas. Pras cuida dos negócios -ele inclusive deve lançar uma grife dos Fugees. E Lauryn canta e compõe.
Folha - Vocês são criticados por se aproveitarem de músicas dos outros para fazer sucesso.
Jean -
Eu acho que o rap está dando muito dinheiro, daí a preocupação das pessoas. Podemos utilizar samples de algumas canções, mas criamos novas melodias e letras para elas. Sobre as gravações, é certo que tivemos sucesso com "Killing Me Softly". Mas há melodias originais, como "Ready Or Not".
Folha - Você recentemente participou de "Fallen Is Babylon", novo disco de Ziggy Marley e Melody Makers. Como aconteceu essa aproximação?
Jean -
Eu conheci Steve Marley (irmão mais novo de Ziggy) no ano passado, quando excursionamos na turnê "Smookin' Grooves". Ele me apresentou aos Melody Makers e fizemos uma nova versão para "No Woman No Cry", que foi utilizada no nosso disco "Bootleg Versions". Depois, fui convidado a participar do novo álbum de Ziggy. Foi uma honra. Bob Marley foi uma das minhas maiores influências.
Folha - As letras dos Fugees têm diversas referências cinematográficas, como "O Poderoso Chefão" (na capa de "The Score"). Qual sua ligação com o cinema?
Jean -
Eu adoro cinema, sou fã de Francis Ford Coppola. Pena que eu não tenho tido muito tempo para assistir a filmes. O último a que assisti foi "A Outra Face". Mas sabe qual é o melhor filme de todos os tempos? É "Orfeu do Carnaval". Devo ter visto umas dez vezes. Amo a história, as músicas...
Folha - Há planos de uma refilmagem de "Orfeu do Carnaval"...
Jean -
É mesmo? Será que não tem nenhum papel para mim? Adoraria trabalhar nesse filme!



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