São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 2002

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"SINAIS"

Novo filme do aclamado diretor finaliza trilogia iniciada com "Sexto Sentido"; uma das cenas "se passa" no Brasil

Shyamalan finalmente enquadra o medo

TETÉ RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

O diretor norte-americano de origem hindu M. Night Shyamalan, 32, é um dos cineastas mais criativos em atividade nos EUA. Está sendo chamado tanto de "o próximo Spielberg" (segundo a capa da "Time") quanto "o próximo Hitchcock" (de acordo com o jornal "The New York Times").
Na verdade, ele é o próximo Shyamalan: um diretor que entende de suspense, conta boas histórias e faz um cinema comercial com conteúdo. Estréia hoje no Brasil "Sinais", que conclui sua trilogia do medo, iniciada por "Sexto Sentido", que o lançou para o mundo, e "Corpo Fechado".
No filme, Mel Gibson interpreta um ex-pastor viúvo que cuida de seus dois filhos com a ajuda de um irmão (Joaquin Phoenix) até que o milharal de sua fazenda amanhece com estranhos desenhos simétricos, impossíveis de serem feitos por humanos. Logo, a experiência se repete em outros lugares e cria-se o pânico na população de que a Terra esteja sendo invadida por alienígenas.
Leia a seguir a entrevista que Shyamalan concedeu à Folha.

Folha - Você é medroso?
M. Night Shyamalan -
Sim, muito. Tenho duas filhas, uma delas é muito medrosa, igual a mim, e a outra não tem medo nenhum, de nada. A que não tem medo está constantemente se ferindo, caindo da árvore. A medrosa, que é a mais velha, nunca teve nenhum problema, está sempre a salvo. Não tinha pensado nisso até ver a enorme diferença entre as duas. O medo protege, mas também atrapalha. Eu era um ótimo jogador de beisebol, mas uma vez fui atingido pelo taco e nunca mais joguei...

Folha - Como você controla o medo ao dirigir um filme?
Shyamalan -
Adulto, decidi me dedicar apenas ao que me dá pânico, como dirigir um filme.

Folha - Mas o medo de dirigir um filme é bem diferente...
Shyamalan -
Sim, é o medo de fracassar, mas tão ou mais intenso quanto o de se machucar. Você é rejeitado muitas vezes até conseguir algo na indústria do cinema. Escrevi meu primeiro roteiro aos 15 anos, mandei para os estúdios e ninguém respondeu. Depois, aos 17, escrevi outro roteiro, enviei para os estúdios e todos disseram que não tinham interesse, e essa é uma rejeição até mais intensa do que ser ignorado. A Disney, por exemplo, mandou o roteiro de volta com um bilhete: "Mande o roteiro de novo quando for um escritor de verdade".

Folha - "Sinais" é mesmo a conclusão da trilogia do medo?
Shyamalan -
Engraçado, tenho os três pôsteres na parede do meu escritório e juntos eles certamente parecem fazer parte de uma trilogia, e sinto que algo foi mesmo concluído com esse filme.

Folha - Quer dizer que o próximo não será "de medo"?
Shyamalan -
Não 100%, acredito que tenha encontrado o meu caminho, apesar de não saber exatamente o que é, mas quero mudar um pouco essa direção. Tenho algumas idéias que podem representar uma mudança significativa, como a de fazer uma história em que uma mulher seja a protagonista. Ou um filme infantil. Tenho uma história que conto para as minhas filhas na hora de dormir, mas ainda não está acabada, apesar da campanha que elas fazem todas as noites (risos).

Folha - O marketing de "Sinais" é interessante, no pôster não está escrito "do mesmo diretor de "Sexto Sentido'".
Shyamalan -
E também faço questão de não colocar a estrela do filme no pôster. Acho enganador, você tem uma reação emocional quando vê uma foto do Mel Gibson ou do Bruce Willis. Colocaram essa frase no pôster de "Corpo Fechado" e foi uma injustiça com o filme. Os 20 maiores longas de todos os tempos não vendiam suas estrelas e sim sua história. Pense em "O Exorcista", o pôster mostrava um padre olhando por uma janela com uma iluminação, "Tubarão", em que o bicho aparecia nadando e olhando para um corpo nadando. Queria que o pôster de "Sinais" fizesse o espectador pensar: "Quem mora nessa casa está ferrado".

Folha - Por que você interpreta um personagem tão importante?
Shyamalan -
Por várias razões, a principal porque me amedronta (risos). Quando escrevi esse personagem, realmente senti uma conexão pessoal.

Folha - Uma cena supostamente se passa no Brasil.
Shyamalan -
A cena foi filmada na Filadélfia e não consegui o número que queria de figurantes brasileiros, então coloquei um casal português. Dá para perceber? Os brasileiros ficavam rindo toda vez que os portugueses falavam...


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