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"SINAIS"
Novo filme do aclamado diretor finaliza trilogia iniciada com "Sexto Sentido"; uma das cenas "se passa" no Brasil
Shyamalan finalmente enquadra o medo
TETÉ RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM NOVA YORK
O diretor norte-americano de origem hindu M. Night Shyamalan, 32, é um dos cineastas mais criativos em atividade nos EUA. Está sendo chamado tanto de "o
próximo Spielberg" (segundo a capa da "Time") quanto "o próximo Hitchcock" (de acordo com o jornal "The New York Times").
Na verdade, ele é o próximo Shyamalan: um diretor que entende de suspense, conta boas histórias e faz um cinema comercial com conteúdo. Estréia hoje no
Brasil "Sinais", que conclui sua trilogia do medo, iniciada por "Sexto Sentido", que o lançou para o mundo, e "Corpo Fechado".
No filme, Mel Gibson interpreta um ex-pastor viúvo que cuida de seus dois filhos com a ajuda de um irmão (Joaquin Phoenix) até que o milharal de sua fazenda
amanhece com estranhos desenhos simétricos, impossíveis de serem feitos por humanos. Logo, a experiência se repete em outros lugares e cria-se o pânico na população de que a Terra esteja sendo invadida por alienígenas.
Leia a seguir a entrevista que Shyamalan concedeu à Folha.
Folha - Você é medroso?
M. Night Shyamalan - Sim, muito. Tenho duas filhas, uma delas é
muito medrosa, igual a mim, e a
outra não tem medo nenhum, de
nada. A que não tem medo está
constantemente se ferindo, caindo da árvore. A medrosa, que é a
mais velha, nunca teve nenhum
problema, está sempre a salvo.
Não tinha pensado nisso até ver a
enorme diferença entre as duas. O
medo protege, mas também atrapalha. Eu era um ótimo jogador
de beisebol, mas uma vez fui atingido pelo taco e nunca mais joguei...
Folha - Como você controla o medo ao dirigir um filme?
Shyamalan - Adulto, decidi me
dedicar apenas ao que me dá pânico, como dirigir um filme.
Folha - Mas o medo de dirigir um
filme é bem diferente...
Shyamalan - Sim, é o medo de
fracassar, mas tão ou mais intenso
quanto o de se machucar. Você é
rejeitado muitas vezes até conseguir algo na indústria do cinema.
Escrevi meu primeiro roteiro aos
15 anos, mandei para os estúdios e
ninguém respondeu. Depois, aos
17, escrevi outro roteiro, enviei
para os estúdios e todos disseram
que não tinham interesse, e essa é
uma rejeição até mais intensa do
que ser ignorado. A Disney, por
exemplo, mandou o roteiro de
volta com um bilhete: "Mande o
roteiro de novo quando for um
escritor de verdade".
Folha - "Sinais" é mesmo a conclusão da trilogia do medo?
Shyamalan - Engraçado, tenho
os três pôsteres na parede do meu
escritório e juntos eles certamente
parecem fazer parte de uma trilogia, e sinto que algo foi mesmo
concluído com esse filme.
Folha - Quer dizer que o próximo
não será "de medo"?
Shyamalan - Não 100%, acredito
que tenha encontrado o meu caminho, apesar de não saber exatamente o que é, mas quero mudar
um pouco essa direção. Tenho algumas idéias que podem representar uma mudança significativa, como a de fazer uma história
em que uma mulher seja a protagonista. Ou um filme infantil. Tenho uma história que conto para
as minhas filhas na hora de dormir, mas ainda não está acabada,
apesar da campanha que elas fazem todas as noites (risos).
Folha - O marketing de "Sinais" é
interessante, no pôster não está
escrito "do mesmo diretor de "Sexto Sentido'".
Shyamalan - E também faço
questão de não colocar a estrela
do filme no pôster. Acho enganador, você tem uma reação emocional quando vê uma foto do Mel
Gibson ou do Bruce Willis. Colocaram essa frase no pôster de
"Corpo Fechado" e foi uma injustiça com o filme. Os 20 maiores
longas de todos os tempos não
vendiam suas estrelas e sim sua
história. Pense em "O Exorcista",
o pôster mostrava um padre
olhando por uma janela com uma
iluminação, "Tubarão", em que o
bicho aparecia nadando e olhando para um corpo nadando. Queria que o pôster de "Sinais" fizesse
o espectador pensar: "Quem mora nessa casa está ferrado".
Folha - Por que você interpreta
um personagem tão importante?
Shyamalan - Por várias razões, a
principal porque me amedronta
(risos). Quando escrevi esse personagem, realmente senti uma
conexão pessoal.
Folha - Uma cena supostamente
se passa no Brasil.
Shyamalan - A cena foi filmada
na Filadélfia e não consegui o número que queria de figurantes
brasileiros, então coloquei um casal português. Dá para perceber?
Os brasileiros ficavam rindo toda vez que os portugueses falavam...
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