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Crítica
"Natal da Portela" vê contradições de um homem
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Há filmes tortos e há personagens tortos. Ao Natal de
"Natal da Portela" (Canal
Brasil, 19h30) faltava um braço. Mas isso não o impedia de
dominar Madureira, de animar
a Portela, de controlar o jogo
do bicho e de construir hospitais para a "comunidade".
"Natal" foi um dos maiores
fracassos da história do cinema
brasileiro. Deve ser porque é
magnificamente bem dirigido,
porque Milton Gonçalves tem
uma interpretação inesquecível. E, sobretudo, porque Paulo
César Saraceni cria o retrato de
um homem com suas mil contradições sem a menor preocupação de harmonizá-las, suprimi-las ou aplainá-las.
Vivemos falando mal do maniqueísmo de Hollywood, mas
gostamos mesmo é de distinguir heróis de vilões. Não raro,
nossos filmes forçam a distinção -e da maneira mais tola
possível. Em geral, são os que
fazem sucesso.
"Natal" restitui um homem,
seu tempo e suas circunstâncias em sua inteireza e ambigüidade. Foi tido por "mau filme". Azar o nosso.
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