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Francês segue desafio de manter vivo repertório de Pina Bausch
Com financiamento, mas sem obras novas, grupo prossegue sob direção de Dominique Mercy
Companhia, que tem turnês até 2013, passa pelo Brasil no próximo ano, com duas peças de Bausch (1940-2009)
AMANDA QUEIRÓS
ENVIADA ESPECIAL A LYON
Em junho do ano passado,
o bailarino Dominique Mercy
se viu num dos momentos
mais intrincados de sua vida.
Ao mesmo tempo em que
lidava com a perda da amiga
e parceira de trabalho Pina
Bausch (1940-2009), ele aceitava a missão de dar continuidade ao grupo criado por
ela, o Tanztheater Wuppertal, do qual faz parte desde a
fundação, em 1973.
Desde então, um mantra o
acompanha em todo lugar:
manter viva a obra de Pina.
"Sempre há quem nos diga
"obrigado" ou "por favor, não
desistam". É incrível perceber
como ela estava próxima de
tanta gente. Isso nos dá bastante força", disse Mercy, 60,
em entrevista à Folha durante a 14ª Bienal de Dança de
Lyon, na qual a companhia
fez cinco apresentações de
"Nelken" (cravos), de 1982.
Quando Pina morreu, vítima de um câncer fulminante,
a única certeza era o cumprimento das turnês que ela havia acertado até 2011. Hoje, a
agenda do grupo tem apresentações até 2013, com financiamento garantido pela
cidade alemã de Wuppertal,
sede da companhia.
O trabalho, no entanto,
tem seus obstáculos. Um deles é a falta de novas peças.
"É importante para qualquer artista continuar a ser
criativo. Gostaríamos de fazer algo novo, mas é muito
cedo para dizer como e quando isso será. Não há nada a
caminho", afirmou o francês.
DILEMA
Outro dilema se encontra
na manutenção das obras
para além da existência da
companhia. Até hoje, apenas
"A Sagração da Primavera" e
"Orfeu e Eurídice" são dançadas por outro grupo, o Ballet da Ópera de Paris.
"São algumas das poucas
peças transferíveis. Há uma
química no grupo que faz
com que tudo ache o seu lugar", disse. Pina não costumava usar técnicas codificadas. As criações partiam da
vida dos bailarinos, originando sua dança-teatro.
Segundo Mercy, é essa especificidade que assegura ao
grupo manter atuais as 44
peças de seu repertório. Apenas uma bailarina saiu desde
a morte de Bausch, sinalizando, na opinião dele, o compromisso do grupo com a
longevidade das obras.
"Ensaiamos "Nelken" e foi
surpreendente perceber como ela não ficou um dia sequer mais velha. Não acho
que haja perigo de virarmos
um museu. Os trabalhos, em
si, evitam isso. São sempre
muito presentes, muito fortes", afirma.
A coreógrafa tinha um caso de amor com o Brasil. O
país inspirou a criação de
"Água" (2001) e hospedou o
grupo seis vezes -a última
foi em 2009, três meses após
a morte dela.
A companhia se prepara
agora para retornar em abril
de 2011, quando apresenta
duas peças em São Paulo: a
dança-ópera "Ifigênia em
Tauris" (1974) e "Ten Chi"
(2004), coprodução com o Japão. O Rio, que recebeu "Ifigênia" em 1997, vê agora
apenas a segunda obra.
"Como temos uma certa
regularidade no Brasil, pensamos neste balanço. "Ten
Chi" tem um elenco menor,
com uma atmosfera de muita
ternura, que faz um contraste
bonito com "Ifigênia'", disse.
A jornalista AMANDA QUEIRÓS viajou a
convite da 14ª Bienal de Dança de Lyon
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