São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2010

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Francês segue desafio de manter vivo repertório de Pina Bausch

Com financiamento, mas sem obras novas, grupo prossegue sob direção de Dominique Mercy

Companhia, que tem turnês até 2013, passa pelo Brasil no próximo ano, com duas peças de Bausch (1940-2009)

AMANDA QUEIRÓS
ENVIADA ESPECIAL A LYON

Em junho do ano passado, o bailarino Dominique Mercy se viu num dos momentos mais intrincados de sua vida.
Ao mesmo tempo em que lidava com a perda da amiga e parceira de trabalho Pina Bausch (1940-2009), ele aceitava a missão de dar continuidade ao grupo criado por ela, o Tanztheater Wuppertal, do qual faz parte desde a fundação, em 1973.
Desde então, um mantra o acompanha em todo lugar: manter viva a obra de Pina.
"Sempre há quem nos diga "obrigado" ou "por favor, não desistam". É incrível perceber como ela estava próxima de tanta gente. Isso nos dá bastante força", disse Mercy, 60, em entrevista à Folha durante a 14ª Bienal de Dança de Lyon, na qual a companhia fez cinco apresentações de "Nelken" (cravos), de 1982.
Quando Pina morreu, vítima de um câncer fulminante, a única certeza era o cumprimento das turnês que ela havia acertado até 2011. Hoje, a agenda do grupo tem apresentações até 2013, com financiamento garantido pela cidade alemã de Wuppertal, sede da companhia.
O trabalho, no entanto, tem seus obstáculos. Um deles é a falta de novas peças.
"É importante para qualquer artista continuar a ser criativo. Gostaríamos de fazer algo novo, mas é muito cedo para dizer como e quando isso será. Não há nada a caminho", afirmou o francês.

DILEMA
Outro dilema se encontra na manutenção das obras para além da existência da companhia. Até hoje, apenas "A Sagração da Primavera" e "Orfeu e Eurídice" são dançadas por outro grupo, o Ballet da Ópera de Paris.
"São algumas das poucas peças transferíveis. Há uma química no grupo que faz com que tudo ache o seu lugar", disse. Pina não costumava usar técnicas codificadas. As criações partiam da vida dos bailarinos, originando sua dança-teatro. Segundo Mercy, é essa especificidade que assegura ao grupo manter atuais as 44 peças de seu repertório. Apenas uma bailarina saiu desde a morte de Bausch, sinalizando, na opinião dele, o compromisso do grupo com a longevidade das obras.
"Ensaiamos "Nelken" e foi surpreendente perceber como ela não ficou um dia sequer mais velha. Não acho que haja perigo de virarmos um museu. Os trabalhos, em si, evitam isso. São sempre muito presentes, muito fortes", afirma.
A coreógrafa tinha um caso de amor com o Brasil. O país inspirou a criação de "Água" (2001) e hospedou o grupo seis vezes -a última foi em 2009, três meses após a morte dela.
A companhia se prepara agora para retornar em abril de 2011, quando apresenta duas peças em São Paulo: a dança-ópera "Ifigênia em Tauris" (1974) e "Ten Chi" (2004), coprodução com o Japão. O Rio, que recebeu "Ifigênia" em 1997, vê agora apenas a segunda obra.
"Como temos uma certa regularidade no Brasil, pensamos neste balanço. "Ten Chi" tem um elenco menor, com uma atmosfera de muita ternura, que faz um contraste bonito com "Ifigênia'", disse.


A jornalista AMANDA QUEIRÓS viajou a convite da 14ª Bienal de Dança de Lyon


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