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FEIRA DE FRANKFURT
Sucessor de Peter Weidhaas é Lorenzo Rudolf, que dirigiu feira de arte de Basel por nove anos
Despedida de diretor encerra edição 99
CASSIANO ELEK MACHADO
enviado especial a Frankfurt
A 51ª edição da Feira de Livros
de Frankfurt terminou anteontem com carimbos discretos em
seu passaporte. Foi uma feira de
medalhões literários (Tom Wolfe,
Günter Grass, Saramago e outros), de negócios mornos e de
público estável (os mesmos 290
mil do ano passado).
Mas, pelo menos para a história
interna da Feira, 1999 será um ano
de uma grande virada de página.
Depois de 25 anos dirigindo o
maior evento editorial do mundo,
o alemão Peter Weidhaas se despediu do comando de Frankfurt.
Nesta segunda-feira, ele viu pela
última vez os 6.700 estandes da
Feira "virarem abóbora". É assim
que ele define, com bom humor, a
rapidez com que, a cada ano, a gigantesca empreitada de 189 mil
m2 é desmontada.
Aos 62, resolveu se aposentar
para "começar uma vida nova".
"Estava muito cansado. Calcule
24 vezes 365 vezes 25 anos. Este
foi o número de horas de minha
vida dados a esta feira", disse
Weidhaas à Folha. "Eu poderia
escrever um livro só sobre os sonhos que tive relacionados a ela."
Não seria estranho se ele o fizesse. Weidhaas é uma das vozes
mais fortes na defesa da tese de
que o livro, tal como o conhecemos, é eterno.
"Livros eletrônicos, editoras
virtuais e outras tecnologias só
ajudam. O livro hoje é universal.
No mundo todo se lê desde as intrigas de John Grisham até as mitologias do brasileiro Paulo Coelho, passando pela história de
uma família do sul da Índia, como
a feita por Arundathi Roy, ou pela
filosofia alemã de Jürgen Habermas. O livro está muito saudável."
Por que, então, na maior feira
de livros do mundo, é quase impossível ver alguém lendo?
"Bem, aqui não é um lugar para
leituras", explica Weidhaas.
"Frankfurt é um tremendo lugar
de comércio. De comparação,
trocas, contatos. Comunicação e
diálogo são as essências do evento, não a leitura. As leituras aqui
só são feitas nos hotéis, e sempre
na diagonal."
Se tivesse que passar os olhos na
diagonal de seus 25 anos de Feira
(32, se fossem contados os sete
anos em que foi diretor de relações internacionais do evento),
Weidhaas enxergaria em 1989 as
linhas mais interessantes.
"Foi o ano mais turbulento para
mim." No ano anterior, o escritor
Salman Rushdie tivera uma sentença de morte ("fatwa") decretada pelo aiatolá Khomeini graças à
publicação de seu livro "Versos
Satânicos".
Weidhaas anunciou, em seguida, que as editoras iranianas não
seriam recebidas enquanto houvesse a oferta pela cabeça do autor
anglo-indiano.
"Foi muito dolorido. Sempre lutei para incluir o maior número
de países e editoras. Mas tivemos
que reagir."
As editoras iranianas só voltaram a Frankfurt este ano, já que a
sentença de morte foi revogada
no final de 1998.
Além dos iranianos, a delegação
que mais recebeu atenção de Weidhaas nesta edição foi um grupo
de 15 escritores de diversas origens culturais da antiga Iugoslávia. Chamado de "Grupo 99", eles
brigam contra o "chauvinismo
político e cultural" e têm no topo
do abaixo-assinado para apoio ao
grupo a assinatura de Weidhaas.
Durante a entrevista, Weidhaas
recebe um chamado. Existe um
problema com uma manifestação
em frente ao estande coletivo do
Paquistão. Um grupo exibe cartazes contra o recente golpe de Estado. Weidhaas pede licença. "Preciso intermediar."
Ele sai apressado e aponta para
Lorenzo Rudolf, 39, que assume a
direção no próximo ano. "Agora é
com ele", diz Weidhaas.
Diretor da feira de arte suíça
"ART Basel" por nove anos, Rudolf resume seus prognósticos
com: "Ainda é muito cedo para
falar em mudanças".
E teremos artes plásticas em
Frankfurt? "O foco continuará
sendo o livro. Quando eu quiser
ver boa arte contemporânea vou
para a Bienal de São Paulo", disse
à Folha o novo diretor da maior
feira de livros do mundo.
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