São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2000

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MUNDO GOURMET
Melhor ficar com o narguilé para esquecer os dissabores

JOSIMAR MELO
COLUNISTA DA FOLHA

Um amigo recomendou o restaurante; ao chegar, a cenografia é atraente; já são dois motivos para acender uma expectativa positiva. Mas o saldo de duas visitas ao Tanger foi decepcionante.
As sinuosas instalações, os forros de tenda árabe, o mobiliário, contribuem para sugerir uma viagem ao Marrocos. Mas os problemas se sucedem. O liquidificador, no bar do meio do salão, incomoda. A fumaça num aquecedor, quando foge ao controle, sufoca. As bebidas podem chegar depois da comida, que pode vir fria.
Há uma evidente descoordenação entre as instâncias que compõem um restaurante. Especialmente quando a casa enche, talvez pelo atraente cenário, que revela a mão da proprietária: a israelense Ariela Doctors, 27 anos, antes produtora de cinema e TV por oito anos.
O nascimento do Tanger derivou do interesse de Ariela pela culinária de sua avó marroquina, e que sua mãe, Dinah Doctors, 50, também nascida no Marrocos, procura transmitir em seu trabalho na cozinha.
O problema não se restringe, porém, à temperatura do prato. Tome-se, por exemplo, o cuscuz royal, mais nobre representante do prato nacional, o cuscuz marroquino. Em sua terra, ele combina pedaços de cordeiro e legumes com o cuscuz de sêmola, tudo banhado no caldo dos cozimentos, resultando num conjunto úmido que exala perfumes. No Tanger, não há caldos, o prato é árido como o deserto.
Os tagines de cordeiro, em duas versões (com ameixas ou com pêra ao mel), vêm com frutas sem suculência e sem molho. Menos mal, há um petisco, as pastillas (fina massa com recheio de frango ou de salmão), ambas saborosas embora frias por dentro; e o salmão, entre os pratos mais franceses (embora o nome, "à l'unilateral", evoque um preparado que seria bem mais malpassado). Melhor fumar o aromático narguilé da casa para esquecer os dissabores.


Cotação: $$°Avaliação:  

Restaurante: Tanger (r. Fradique Coutinho, 1.664, Vila Madalena, zona oeste, tel. 0/xx/11/3037-7223)
Horário: ter. e qua., das 12h às 15h e das 20h à 0h; qui. e sex., das 12h às 15h e das 20h à 1h; sáb., das 13h às 16h30 e das 20h à 1h; dom., das 13h às 16h30
Cozinha: áridos pratos marroquinos
Ambiente: bem típico e aconchegante
Serviço: desconexo
Quanto: couvert, R$ 3,50; entradas e saladas, de R$ 7,20 a R$ 14,50; pratos principais, de R$ 18 a R$ 23; sobremesas, de R$ 5,20 a R$ 7,20

$ (até R$ 22); $$ (de R$ 22,01 a R$ 42); $$$ (de R$ 42,01 a R$ 62); $$$$ (acima de R$ 62). Avaliação: excelente    ; ótimo   ; bom  ; regular (sem estrela); ruim  



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