São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2004

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MÚSICA

"Missa in Memorian" será apresentada pela primeira vez hoje, em SP, em companhia da Orquestra Jazz Sinfônica

Arrigo entrelaça pop e erudito por Itamar

DA REPORTAGEM LOCAL

Artista "maldito" arraigado na cultura pop, Itamar Assumpção (1949-2003) recebe hoje à noite uma inusitada homenagem: cada vez mais ligado à música erudita, Arrigo Barnabé, 53, apresenta pela primeira vez, em companhia de coro e da Orquestra Jazz Sinfônica, uma "Missa in Memorian" a seu amigo e colega de geração.
Arrigo justifica a travessia: "Itamar tinha um lado religioso forte. Seu pai era pai-de-santo, ele vivia numa espécie de sincretismo. Era muito louco, mas era um crente. Eu não acredito em reencarnação, mas ele acreditava, dizia que a gente ia se encontrar de novo".
Não se trata de um reencontro entre crente e ateu: "Tenho formação religiosa, me interesso muito por religião. Não sou ateu, acredito em Deus", diz Arrigo, que vem de compor uma missa para o artista plástico Arthur Bispo do Rosário e sonha fazer uma para o cineasta Rogério Sganzerla.
Artisticamente, o músico paranaense afirma que pretendeu fazer uma homenagem, e não traduzir a obra vanguardista de Itamar a uma linguagem de missa religiosa. Mas, sim, brincou com as fronteiras aparentemente distante dos dois formatos. "Cito coisas dele, pedaços de músicas. É muito sutil, mas as pessoas percebem. Dentro do "Sanctus", em latim, há o "Benedictus", o bendito. Ali cito o "Nego Dito" de Itamar, digo que ele está no céu."
Postumamente, o "maldito" se converterá em "bendito"? Arrigo contempla a manipulação desses dois conceitos: "Estou falando que gosto dele, é uma declaração de amor. Mas é também uma tentativa de colocá-lo num lugar, o melhor que posso para conferir uma legitimidade a ele. Acho que as pessoas não o valorizaram tanto quanto era preciso quando vivo. Era um grande criador".
Dentro de seu próprio prisma religioso, que alcança budismo e zen-budismo, Arrigo hesita em relembrar o arco de sua própria trajetória, que vem tremulando entre o popular e o erudito, entre o profano e o sacro -sua canção pop mais conhecida, "Clara Crocodilo", aparecia inicialmente em versão instrumental, na pornochanchada "A Ilha das Cangaceiras Virgens" (76). "Ah, nem era para citar isso. Eu era novo, ia para a Boca do Lixo implorar para os diretores me arrumarem trabalho como compositor de trilhas. Aquela trilha toda foi feita com o Itamar, não sei onde foi parar."
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


MISSA IN MEMORIAN A ITAMAR ASSUMPÇÃO - Com Arrigo Barnabé e Orquestra Jazz Sinfônica. Onde: Teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, tel. 0/xx/11/288-0136). Quando: hoje, às 21h. Quanto: R$ 20.


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