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MÚSICA
"Missa in Memorian" será apresentada pela primeira vez hoje, em SP, em companhia da Orquestra Jazz Sinfônica
Arrigo entrelaça pop e erudito por Itamar
DA REPORTAGEM LOCAL
Artista "maldito" arraigado na
cultura pop, Itamar Assumpção
(1949-2003) recebe hoje à noite
uma inusitada homenagem: cada
vez mais ligado à música erudita,
Arrigo Barnabé, 53, apresenta pela primeira vez, em companhia de
coro e da Orquestra Jazz Sinfônica, uma "Missa in Memorian" a
seu amigo e colega de geração.
Arrigo justifica a travessia: "Itamar tinha um lado religioso forte.
Seu pai era pai-de-santo, ele vivia
numa espécie de sincretismo. Era
muito louco, mas era um crente.
Eu não acredito em reencarnação,
mas ele acreditava, dizia que a
gente ia se encontrar de novo".
Não se trata de um reencontro
entre crente e ateu: "Tenho formação religiosa, me interesso
muito por religião. Não sou ateu,
acredito em Deus", diz Arrigo,
que vem de compor uma missa
para o artista plástico Arthur Bispo do Rosário e sonha fazer uma
para o cineasta Rogério Sganzerla.
Artisticamente, o músico paranaense afirma que pretendeu fazer uma homenagem, e não traduzir a obra vanguardista de Itamar a uma linguagem de missa
religiosa. Mas, sim, brincou com
as fronteiras aparentemente distante dos dois formatos. "Cito
coisas dele, pedaços de músicas. É
muito sutil, mas as pessoas percebem. Dentro do "Sanctus", em latim, há o "Benedictus", o bendito.
Ali cito o "Nego Dito" de Itamar,
digo que ele está no céu."
Postumamente, o "maldito" se
converterá em "bendito"? Arrigo
contempla a manipulação desses
dois conceitos: "Estou falando
que gosto dele, é uma declaração
de amor. Mas é também uma tentativa de colocá-lo num lugar, o
melhor que posso para conferir
uma legitimidade a ele. Acho que
as pessoas não o valorizaram tanto quanto era preciso quando vivo. Era um grande criador".
Dentro de seu próprio prisma
religioso, que alcança budismo e
zen-budismo, Arrigo hesita em
relembrar o arco de sua própria
trajetória, que vem tremulando
entre o popular e o erudito, entre
o profano e o sacro -sua canção
pop mais conhecida, "Clara Crocodilo", aparecia inicialmente em
versão instrumental, na pornochanchada "A Ilha das Cangaceiras Virgens" (76). "Ah, nem era
para citar isso. Eu era novo, ia para a Boca do Lixo implorar para os
diretores me arrumarem trabalho
como compositor de trilhas.
Aquela trilha toda foi feita com o
Itamar, não sei onde foi parar."
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
MISSA IN MEMORIAN A ITAMAR
ASSUMPÇÃO - Com Arrigo Barnabé e
Orquestra Jazz Sinfônica. Onde: Teatro
Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, Bela
Vista, tel. 0/xx/11/288-0136). Quando:
hoje, às 21h. Quanto: R$ 20.
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