|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Um Cara Quase Perfeito"
Comédia de fundo moral reflete sobre a construção da identidade
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Histórias sobre o inferno astral de um
personagem geralmente conduzem a fábulas
de fundo moral. É no calvário
que gente egoísta, como o badalado empresário de roteiristas Jack (Ben Affleck), de
"Um Cara Quase Perfeito",
irá reavaliar a própria vida, à
força, para se transformar
em uma pessoa "melhor".
Mike Binder, o diretor, impõe um tratamento de comédia dramática à queda desse
antipático personagem.
Mesmo que seja um dos profissionais mais badalados de
Los Angeles, Jack se sente
um tanto vazio, já que não
tem talento para escrever.
Decide, então, freqüentar
um curso de criação literária,
onde é instado a escrever um
diário e revelar todos os seus
podres. É a deixa para que
uma jornalista desleal, Barbi
(Bai Ling), se aposse dos segredos que podem arruinar
sua carreira. Ele descobre
ainda que sua mulher o trai.
Mas qual é a intenção de
uma fábula moral? Defender
uma tese e um caminho modelo a seguir? No registro da
comédia, há um certo sadismo no ato de observar a desgraça alheia. "Um Cara Quase Perfeito" fica no meio do
caminho, entre lições dúbias,
já que Jack e outros personagens ganham as coisas na base da força e/ou da mentira.
Perde-se também em soluções cômicas deslocadas, numa crítica à arrogância dos
ricos e poderosos.
O longa, no entanto, toca
em questões mais interessantes. Jack é, em certo sentido, uma espécie de criador
do presente, já que seleciona
o que será visto ou não. Seu
poder de deus, no entanto, é
meramente ilusório. Seja nas
páginas de seu diário, onde
irá relembrar seu passado
para entender o homem que
se tornou, seja na profissão,
em que decide quem será ou
não um astro, Jack vê-se impotente, já que acaba vítima
do acaso e será traído justamente por suas escolhas.
UM CARA QUASE PERFEITO
Direção: Mike Binder
Produção: EUA, 2006
Com: Ben Affleck, Rebecca Romijn
Quando: em cartaz nos cines Kinoplex Itaim, Jardim Sul e circuito
Texto Anterior: Crítica/"Sonhadora": Filme família revê mais uma vez amizade entre criança e cavalo Próximo Texto: Santoro estréia monossilábico na série "Lost" Índice
|