São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2010

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Desânimo

Pesquisa revela que razão para baixa frequência de paulistas a teatros e cinemas é falta de interesse

Caco Galhardo


ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Desta vez, os entrevistados não tergiversaram. Questionados sobre as razões que os deixam do lado de fora de cinemas, teatros e museus, os paulistas miraram, em bloco, uma resposta capaz de embaralhar algumas teses sobre o consumo cultural.
Os números reforçam, primeiro, o que se intuía: 40% dos paulistas não costumam ir ao cinema, 60% não costumam ir ao teatro e 61% não costumam ir a museus. O que chama a atenção é a justificativa para a inércia: "Não me interesso/ não gosto/ não me sinto bem fazendo", respondem os entrevistados.
No caso do cinema, enquanto 29% alegam falta de interesse, apenas 8% citam o preço do ingresso como empecilho. A piadinha "Vá ao teatro, mas não me chame" também ganhou torneado estatístico: 32% dizem não ver peças, simplesmente, porque não têm vontade.
A pesquisa é fruto de projeto da consultora J.Leiva Cultura & Esporte, realizado em parceria com o Datafolha e a Fundação Getúlio Vargas. Foram ouvidas, entre 25/8 e 15/9, 2.400 pessoas, acima de 12 anos, em 82 cidades.
O objetivo da pesquisa era mapear e compreender os hábitos culturais da população. Os resultados serão apresentados e analisados amanhã, durante um seminário na Pinacoteca -com vagas já esgotadas.

BEABÁ
"O que surpreende é o fato de essa resposta aparecer. A pressão por ser culto, consumir cultura é tão grande que, em geral, as pessoas dão desculpas como falta de tempo ou dinheiro", diz Teixeira Coelho, curador do Masp e professor da USP.
"Isso aponta para uma certa sinceridade", observa Teixeira Coelho. "Mas a gente também sabe, por pesquisas internacionais, que, à medida que melhora o nível econômico, melhora o consumo cultural. É claro que o fator econômico pesa, até porque, na cultura, o hábito é fundamental. Falta oportunidade para que as pessoas tenham a cultura introduzida em suas vidas."
O diretor Antonio Araújo, do Teatro da Vertigem, pondera que consumir cultura é abrir-se a uma experiência. "Quem nunca foi exposto a uma ópera pode ter raiva dessa experiência. Voltamos sempre à questão da formação de público", diz Araújo.
O cineasta Domingos Oliveira recorre aos adjetivos "estonteante e deprimente" para falar da pesquisa. Como todos os ouvidos para esta reportagem, ele desvia os olhos dos palcos para as escolas.
"Precisamos cuidar desse um terço [que consome regularmente cultura], porque quem não gosta de arte bom sujeito não é. A doença em geral é a falta de educação", diz Oliveira. "O contato com as artes deveria ser obrigatório no ensino primário."
Paradoxalmente, os "desinteressados" dizem que gostariam de gostar de cultura. Os entrevistados que custam a tirar o pé de casa para consumir cultura dizem ter gosto por "realizar atividades culturais". O "sim", nesse quesito, teve índice de 68%.


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