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CRÍTICA REPORTAGEM
Livro dá cores reais às ações militares brasileiras no Haiti
FÁBIO ZANINI
EDITOR DE MUNDO
É mais um tributo a "Tropa
de Elite" que até um livro sobre o Haiti pegue carona no
fenômeno. "DOPaz" (ed. Objetiva), da jornalista Tahiane
Stochero, assume sem rodeios que estava no forno, à
espera do gancho. Logo na
capa, promete contar "como
a tropa de elite do Exército
brasileiro pacificou a favela mais violenta do Haiti".
O título é uma referência
ao Departamento de Operações de Paz do Exército brasileiro, que recebe a missão,
em 2006, de "pacificar" Cité
Soleil, uma das áreas mais
violentas da capital haitiana.
O oportunismo editorial é evidente, mas há paralelos com o Bope.
Tomada por gangues, Cité
Soleil era, à época, impenetrável para o Estado. O Brasil,
no comando da Minustah, a
força de paz da ONU que se
instalou no país em 2004, tinha como ponto de honra fazer-se presente e para isso escalou os melhores.
Como em qualquer operação militar urbana, "efeitos
colaterais" se traduziram na
morte de civis inocentes, nos
abundantes episódios de fogo amigo e no desrespeito à
regra de engajamento básica
de que "o emprego da força deve ser pautado pela proporcionalidade".
Em apenas dois meses e
meio, entre dezembro de
2006 e fevereiro de 2007, há
110 mortos. Muitos são os erros, mas raríssimas as admissões de culpa pelo Exército.
"Pega esta pá, malandro, e
começa a cavar. Hoje você
vai falar de qualquer jeito",
diz um soldado brasileiro a
um morador, instruindo-o a
abrir sua própria cova. O informante, como é óbvio, abre
o bico para o cover de capitão Nascimento.
O grande mérito do livro é
dar cores reais às ações militares brasileiras. A partir de
relatórios de operações obtidos por Tahiane, alguns secretos, soldados, identificados por codinomes, expressam temor e heroísmo em conversas cheias de tensão.
A narrativa seca mostra
por dentro como Cité Soleil
foi conquistada dia a dia, rua
a rua, a ponto de, em janeiro
de 2010, às vésperas do terremoto que devastou a capital,
ter se transformado numa região razoavelmente segura.
Sua "pacificação" é hoje
exaltada por um Exército
brasileiro sedento por sucesso, mas os bastidores, até hoje, não tinham vindo à tona.
Se faltou algo, foi retratar
os civis haitianos como algo
mais que figurantes na sucessão de operações e mais
operações militares. Eles, afinal, que podem dizer se o
custo dos efeitos colaterais compensou o da pacificação.
DOPAZ
AUTORA Tahiane Stochero
EDITORA Objetiva
QUANTO R$ 36,90 (216 págs.)
AVALIAÇÃO bom
LANÇAMENTO hoje, às 19h, na
Livraria da Vila (r. Fradique
Coutinho, 915, Vila Madalena, tel.
0/xx/11/3814-5811)
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