São Paulo, sábado, 20 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÍTICA CULTURAL

Em encontro com setor, ministério e Microsoft divergiram sobre pirataria e direitos autorais

MinC reconhece videogame como produto audiovisual

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, reconheceu oficialmente os jogos eletrônicos como produtos audiovisuais e artísticos. O anúncio foi feito ontem pela manhã, durante o discurso de abertura da feira Electronic Game Show, que acontece até amanhã no Expo Center Norte, em São Paulo.
"É preciso valorizar a ação de jovens desenvolvedores desse segmento que, como a literatura, o cinema e a TV no passado, vem enfrentando desconfiança desde a década de 80", disse o ministro.
A cerimônia foi considerada uma vitória por representantes da Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos), que reivindica o apoio do MinC às empresas de jogos eletrônicos do país -cerca de 40, segundo a entidade.
Em uma reunião com a Abragames à tarde, o governo deveria nomear um representante do setor de jogos para trabalhar diretamente com o ministério.
O reconhecimento do potencial da indústria nacional de games, cujo faturamento atual é estimado em R$ 100 milhões, permite que jogos possam se beneficiar de incentivos da Lei Rouanet e da Lei do Audiovisual e que sejam incluídos no projeto de criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual, a Ancinav.
"Na medida em que o governo considera os jogos eletrônicos como atividade cultural e expressão artística, eles terão todos os direitos que as outras expressões artísticas têm", afirmou o Secretário do Audiovisual, Orlando Senna.
Senna foi um dos membros da mesa que discutiu as políticas públicas para o setor, entre elas o concurso JogosBR, que escolheu 36 projetos de roteiros dos quais oito serão contemplados com R$ 240 mil, entregues para empresas desenvolvedoras nacionais. O governo anunciou ainda que, em 2005, deverá promover uma segunda edição do concurso.
O debate esquentou quando Senna e Cláudio Prado, secretário de políticas digitais do MinC, saíram em defesa de "um outro modelo econômico para a gestão de conteúdo digital", em referência explícita aos programas de software livre adotados pelo governo. "O direito autoral é o freio do século 21", declarou Prado.
Os diretores Milton Beck, da Microsoft, e Bertrand Caudron, da empresa Electronic Arts, líder mundial no mercado de games, discordaram categoricamente. "O custo médio de desenvolvimento de um jogo é de US$ 1 mi a US$ 15 mi. Duvido que alguém investirá isso em um jogo para distribuir de graça", retrucou Caudron.
Os representantes das multinacionais reclamaram também das taxas de importação de consoles e jogos, superior a de produtos de informática, segundo Beck. "São mais de 60% em impostos. Isso estimula a importação ilegal."


Texto Anterior: Rodapé: O efeito contagioso de Deus
Próximo Texto: Cinema: Paulista ganha novas salas em fevereiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.