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"Marquise' mostra que a arte imita a arte
CECÍLIA SAYAD
da Redação
Personagens ilustres, o suporte
de uma superprodução e uma bela
e jovem estrela até podem garantir
o sucesso de um filme.
Some-se a isso um ambiente mágico (trupes teatrais no século 17),
humor, lágrimas e sexo. "Marquise", que estréia hoje, tem todos os
elementos que poderiam fazer dele
um filme de entretenimento sem
ambições artísticas. Mas é uma sucessão de clichês que, em vez de
entreter, aborrece.
Sophie Marceau ("Anna Karenina") interpreta Marquise Du Parc,
atriz que trabalhou com Molière e
acabou nos braços de Racine.
Descoberta pelo principal ator da
trupe de Molière como dançarina,
casa-se com ele e entra para o grupo. Apesar de sua persistência em
ser atriz, não consegue domar a inflexibilidade do dramaturgo, que
diante da falta de talento da moça
só lhe reserva números de dança.
Até que surge Racine, de quem se
torna amante, e que escreve para
ela a tragédia "Andrômaca".
A galeria de personagens históricos do longa pode ser prato cheio
para roteiristas, mas não basta. A
diretora Véra Belmont optou por
não fazer um relato histórico,
adaptando os personagens às exigências impostas pela dramaturgia
para dar fluência a sua trama.
O que se tem então é Lambert
Wilson no papel de um Racine sem
escrúpulos, Bernard Giraudeau
como um Molière inflexível e uma
Marquise que quer provar ser mais
do que um belo corpo.
Mas o fato de que esses personagens existiram ressalta, aqui, a artificialidade dos elementos que visam a garantir a eficácia da história
-a linguagem excessivamente
teatral, a alternância entre humor e
tragédia, o tom apelativo.
"Amadeus", de Milos Forman,
caiu na mesma armadilha ao especular sobre o suposto mistério envolvendo a morte de Mozart, mas o
charme de sua narrativa tornou
aceitável sua história. Já a trama de
"Minha Amada Imortal" não foi
capaz de sustentar os dramas de
Beethoven, caindo no melodrama.
"Marquise" segue a mesma trilha
desses filmes e também abusa do
elemento trágico, que toma o espaço do cômico não só na carreira da
atriz (ela troca Molière por Racine), mas também em sua vida. Sai
de cena a sensualidade inconsequente e entram doenças e traições
que já foram melhor trabalhadas
em clássicos como "A Dama das
Camélias" (com uma heroína
mundana e doente) e "A Malvada"
(em que o maior admirador se revela um traidor -vide a relação de
Marquise com sua camareira).
Poderia ser uma alegoria de como a vida imita a arte. Resulta
mais, porém, em imitação da arte
pela arte.
²
Filme: Marquise
Produção: França, 1997
Direção: Véra Belmont
Com: Sophie Marceau, Lambert Wilson
Quando: a partir de hoje, nos cines Olido 2,
Gemini 2 e circuito
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