São Paulo, sexta, 20 de novembro de 1998

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"Marquise' mostra que a arte imita a arte

CECÍLIA SAYAD
da Redação

Personagens ilustres, o suporte de uma superprodução e uma bela e jovem estrela até podem garantir o sucesso de um filme.
Some-se a isso um ambiente mágico (trupes teatrais no século 17), humor, lágrimas e sexo. "Marquise", que estréia hoje, tem todos os elementos que poderiam fazer dele um filme de entretenimento sem ambições artísticas. Mas é uma sucessão de clichês que, em vez de entreter, aborrece.
Sophie Marceau ("Anna Karenina") interpreta Marquise Du Parc, atriz que trabalhou com Molière e acabou nos braços de Racine.
Descoberta pelo principal ator da trupe de Molière como dançarina, casa-se com ele e entra para o grupo. Apesar de sua persistência em ser atriz, não consegue domar a inflexibilidade do dramaturgo, que diante da falta de talento da moça só lhe reserva números de dança.
Até que surge Racine, de quem se torna amante, e que escreve para ela a tragédia "Andrômaca".
A galeria de personagens históricos do longa pode ser prato cheio para roteiristas, mas não basta. A diretora Véra Belmont optou por não fazer um relato histórico, adaptando os personagens às exigências impostas pela dramaturgia para dar fluência a sua trama.
O que se tem então é Lambert Wilson no papel de um Racine sem escrúpulos, Bernard Giraudeau como um Molière inflexível e uma Marquise que quer provar ser mais do que um belo corpo.
Mas o fato de que esses personagens existiram ressalta, aqui, a artificialidade dos elementos que visam a garantir a eficácia da história -a linguagem excessivamente teatral, a alternância entre humor e tragédia, o tom apelativo.
"Amadeus", de Milos Forman, caiu na mesma armadilha ao especular sobre o suposto mistério envolvendo a morte de Mozart, mas o charme de sua narrativa tornou aceitável sua história. Já a trama de "Minha Amada Imortal" não foi capaz de sustentar os dramas de Beethoven, caindo no melodrama.
"Marquise" segue a mesma trilha desses filmes e também abusa do elemento trágico, que toma o espaço do cômico não só na carreira da atriz (ela troca Molière por Racine), mas também em sua vida. Sai de cena a sensualidade inconsequente e entram doenças e traições que já foram melhor trabalhadas em clássicos como "A Dama das Camélias" (com uma heroína mundana e doente) e "A Malvada" (em que o maior admirador se revela um traidor -vide a relação de Marquise com sua camareira).
Poderia ser uma alegoria de como a vida imita a arte. Resulta mais, porém, em imitação da arte pela arte.
²
Filme: Marquise Produção: França, 1997 Direção: Véra Belmont Com: Sophie Marceau, Lambert Wilson Quando: a partir de hoje, nos cines Olido 2, Gemini 2 e circuito


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