São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2000

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MÚSICA

DJ Jamaika, De Menos Crime e Somos Nós a Justiça trazem novidades

Rap nacional fecha o ano com novos lançamentos

MARCELO VALLETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O ano 2000 foi bom para o rap nacional. Novos selos do gênero surgiram, vários grupos estrearam em disco, nomes tradicionais ganharam destaque, grandes eventos foram realizados e a chamada "música das ruas" finalmente chegou às grandes gravadoras multinacionais, além de conquistar maior espaço em algumas emissoras de rádio e de TV.
Para fechar o ano, a Warner, uma das cinco maiores gravadoras do mundo, lança seu primeiro disco de rap brasileiro, "Pá Doido Pirá", do brasiliense DJ Jamaika, ou Jeferson da Silva Alves, 33.
Jamaika, que compõe rap em português desde 1983 -quando a onda da "break dance" estourou nos EUA e se espalhou pelo mundo-, foi DJ do Câmbio Negro, extinto grupo de Brasília que misturava rap e black music ao rock pesado, até 1994. "Pá Doido Pirá" é seu terceiro disco solo, o primeiro por uma multinacional.
"Era para o disco ter saído há mais tempo. Mas achei melhor lançar agora", diz. "Se fosse há três anos, eu não estaria preparado para entrar nesse esquema. Não existiam gravadoras pegando grupos de rap por aí", afirma Jamaika, confiante no crescimento do gênero. "A Sony abriu um selo só para o rap. Com certeza, vai expandir muito mais. Mas deve existir a preocupação de quem vai estar mandando a idéia."
O músico se diz preocupado com o teor das letras mais violentas do rap. "Deve existir uma grande conscientização dos grupos no conceito das letras, sobre o tipo de informação que eles estão passando. A partir do momento em que o rap for para a televisão, por exemplo, é necessário tomar muito cuidado com o que você vai falar. Queira ou não, você escuta muitos grupos que falam coisas que você não gostaria que seu filho ouvisse, porque não é vantajoso, não vai levar a lugar nenhum."
O rapper também defende o crescimento do gênero por meio de letras que não enfoquem exclusivamente o universo das periferias urbanas. "As letras estão muito viradas para a periferia. Acho que não se deve fazer música só para as quebradas. Tem muita gente que não sabia o que era rap e hoje está curtindo."
Ele continua: "Antigamente, a idéia de que rap era música de ladrão era muito forte. Mas, com o tempo e com essa mudança que está acontecendo com o rap, ele está entrando cada vez mais em mais casas, cada vez mais jovens estão comprando os CDs, e pessoas mais velhas, que a gente nunca imaginou que iam escutar, também estão correndo atrás. Daí vem essa idéia de mudar um pouco esse conceito".
A necessidade de alguma educação musical também é considerada fundamental para Jamaika: "Se pelo menos um integrante de cada grupo fizesse aulas de música, aulas de canto e entendesse o que é música, a maioria do rap não seria apenas à base de sampler. A gente vem buscando a originalidade. Vamos roubar música? Vamos, porque o rap é isso mesmo. Mas vale a pena criar um pouco também, não ficar só em batida e letra. O rap tem de ser aceito como música, não como modismo".
Outro entrave para o gênero é a falta de estrutura para os eventos de rap. "Quando chamavam a gente para fazer a abertura de um show, não nos davam nem um vale-transporte. Não rola nada, nem camarim."
Quem também reclama de falta de estrutura são os integrantes do grupo paulistano De Menos Crime, que lança "Rap das Quebradas", seu novo disco, por uma pequena gravadora -seu CD anterior, que contém o hit "Fogo na Bomba", vendeu mais de 100 mil cópias. "Os eventos de rap deixam muito a desejar", afirma Lerap, 29, um dos vocalistas. "Ainda não somos tratados como artistas."
Outro lançamento de destaque deste final de ano é "Se Tu Lutas, Tu Conquistas", do SNJ, ou Somos Nós a Justiça (leia ao lado).


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