São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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Roqueiros veteranos que "ensinaram" Ringo Starr a tocar bossa nova lançam novo CD

The Beatles, The Rolling Stones e... The Jordans

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

"Prepare uma boa cuba libre. Vista aquele jeans meio folgado com barra dobrada. Passe um gel no cabelo (a brilhantina não existe mais) e dê um trato no topete. Ponha este CD para tocar e viaje no tempo, pois, afinal, o sonho ainda não acabou."
A dica está no encarte simples, nada robusto, e revela o espírito do disco "Geração Surf 2" e de seu dono: o quarteto The Jordans, uma das bandas que detêm mais história no rock deste país.
Pitada dessa relevância está em "Bouddha", faixa presente neste álbum recém-lançado: a música, o primeiro compacto dos Jordans, chegou às lojas em 1961, anterior às estréias fonográficas dos Beatles ("Love Me Do", 62) e dos Rolling Stones ("Come On", 63), e apenas sete anos após Elvis e seu primeiro single, "That's All Right Mama". "Rocket 88", de Jackie Brenston e Ike Turner, que muitos consideram o Big Bang do rock, havia aparecido em 51.
Mais: por culpa de uma turnê pela Europa em 67, os Jordans, por 20 minutos, ficaram trancados em um estúdio com os Beatles, tiveram cinco LPs "afanados" por John Lennon e até ensinaram Ringo Starr a tocar bossa nova na bateria (leia a história na pág. E3).
Tudo isso começou nos primórdios do rock no Brasil, em 1956, na zona leste de São Paulo, quando os amigos Romeu Mantovani Sobrinho (guitarra), o Aladdin, 61 e Olímpio Sinval Drago (guitarra), o Sival, 60, criaram o Three Players com o baterista Tiguês, que depois seria substituído por Valdemar Botelho Jr., o Foguinho, 58. Em 1961, já com o nome The Jordans, a banda gravaria "A Vida Sorri Assim" com sua formação clássica: Aladdin, Sival, Foguinho, José de Andrade (baixo), o Tony, 58, o saxofonista Irupê e Mingo (guitarra). (Este último sairia do grupo em seguida para formar o The Clevers, que depois originaria Os Incríveis.)
"No começo, pouco antes de formar a banda, tocávamos serenata para as garotas do bairro. Aí, quando ouvimos "Rock Around the Clock" [música de Bill Haley", em 55, tivemos a idéia de montar a banda. Mas não sabíamos tocar direito, não", diz Aladdin à Folha.
O sucesso dos Jordans e de sua surf music instrumental viria com "Suspense", lançado no final de 61. Este segundo disco estourou com a música "Blue Star", que ficou por mais de seis meses nos primeiros lugares das paradas.
"Blue Star" foi a "Anna Júlia" dos Jordans. A banda passou a ser presença constante em programas como "Ritmos da Juventude", na rádio Nacional, "Whiskey a Go Go" (Excelsior) e, na TV Record, nos shows de Tony e Celly Campello (a estréia do grupo na telinha, em 58), "Astros do Disco", "Show do dia 7" e ... "Jovem Guarda". Neste último, nas tardes de domingo, até 67, os Jordans funcionaram também como banda de apoio de Roberto Carlos.
"Com o Roberto, veio também o profissionalismo. Muitos não conseguiram esse apoio e pararam", conta Aladdin. Os Jordans pararam também, pouco depois. Em 72, eles deixaram de gravar e cada um seguiu direções distintas, fora da música. Voltaram 20 anos depois e gravaram a coletânea "35 Anos de Rock Instrumental". Agora, remexem a história, e reparecem com "Geração Surf 2".


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