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NETVOX
Como você quer comprar hoje?
MARIA ERCILIA
Colunista da Folha
Os efeitos da revolução que a
Internet vai provocar mal começaram a serem sentidos. Nos últimos tempos começaram a se delinear alguns desenvolvimentos
surpreendentes, principalmente
no rumo tomado pelo comércio
eletrônico.
Cinco anos atrás, muitos acreditavam que a Internet daria a
todos o poder de se manifestar e
publicar suas opiniões. Não se
imaginava que as pessoas acabariam se interessando mais pelo
poder de comprar e vender infinita e ilimitadamente -no entanto, é o que acontece nos leilões da
rede, dia e noite.
Em que lugar, na vida real, você
acharia, lado a lado, como que na
mesma prateleira, um Omega
blindado, uma moeda de mil-réis
e a uma patente de acessório para
guarda-sol? Quem passeia pelos
leilões da Internet tem a impressão de que o conteúdo de todos os
porões do mundo foi despejado
na rede.
Mas o mais interessante no comércio eletrônico no momento
não é o que se vende, ou para
quem, ou mesmo o quanto se vende -é o como. A distribuição eletrônica está reescrevendo a cartilha do comércio como o conhecemos. Fazer compras, até cinco
anos, significava entrar numa loja, perguntar o preço e levar. Na
Internet, as alternativas são várias: é possível entrar num leilão,
consultar milhares de classificados ou comparar preços numa
programa de busca de produtos.
Se nada disso servir, você pode visitar um site em que diz o quanto
quer pagar e ver se tem alguém
interessado em vender ou ainda
pegar carona numa turma de
pessoas que querem comprar a
mesma coisa, fazendo uma compra por atacado virtual e enxugando o preço.
O comércio eletrônico está virando de ponta-cabeça o velho esquema loja/balcão/preço fixo. Alguns analistas, como Kevin Kelly,
ex-editor da "Wired", acreditam
que os leilões podem "evoluir" para aceitar também trocas puras e
simples.
Quem imaginaria que seria
possível, por exemplo, negociar
empregos na Internet, como se faz
em novos sites que não são simples classificados, mas leilões de
trabalho? Neles você pode dizer
seu preço e contratar um empregado por um determinado período, para um trabalho x, ou pode
dizer quais são suas qualificações
e se oferecer a potenciais compradores.
Outra modalidade de varejo
impossível antes da Internet: os
ciclos de compras, que podem ser
encontrados nos sites Accompany
e Mercata. Um certo número de
pessoas que deseja comprar a
mesma coisa se junta e consegue
um preço melhor por ela -é uma
compra por atacado que pode ser
feita por indivíduos. O Yahoo está
de olho na fórmula: deve estrear a
sua versão do Accompany em
breve.
Da mesma forma, não se previa, cinco anos atrás, que o mercado de ações pela Internet cresceria tão rápido como vem crescendo. Novamente, a questão não
é apenas de volume, mas de mudança de mentalidade. Com a facilidade de operar, muitas pessoas que jamais tinham sonhado
em investir em ações estão se animando a fazer isso.
Uma área menos charmosa,
que não aparece tanto na mídia,
mas que está sofrendo modificações brutais devido à Internet é o
"business-to-business". Sites como FreeMarkets, Ariba e Commerce One, especializados em leilões "business-to-business" (com
ligeiras variações no modelo de
cada um), estão cada vez mais
valorizados, e começam a surgir
agregadores especializados em
nichos, como e-Steel, que reúne
compradores e vendedores de aço.
Outra nova forma de varejo que
surgiu com a Internet é o modelo
proposto pelo site Priceline: o freguês diz o quanto quer pagar e o
site procura um fornecedor que
queira vender por aquele preço,
numa espécie de leilão invertido.
Menos revolucionários na forma, alguns agregadores de conteúdo reúnem vários serviços que
facilitam a compra: análise de
produtos, cotação de preços, troca
de dicas entre usuários etc. Entre
eles, Concierge (de turismo) e
Carpoint (carros).
O mercado de software é um
dos que mais sofreram transformações até agora, pela própria
natureza do produto, facilmente
distribuível pela Internet. Empresas como Microsoft e Oracle querem caminhar para um modelo
que chamam de "provedor de serviços de aplicação". A idéia é alugar software pela Internet, em vez
de oferecê-lo em caixas fechadas.
Como disse Paul Saffo, do Instituto do Futuro: "Nós vamos acabar comprando coisas que antes
nem existiam, porque não havia
forma de vendê-las...".
E-mail: ercilia@bol.com.br
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