São Paulo, Sexta-feira, 21 de Janeiro de 2000


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NETVOX
Como você quer comprar hoje?

MARIA ERCILIA
Colunista da Folha


Os efeitos da revolução que a Internet vai provocar mal começaram a serem sentidos. Nos últimos tempos começaram a se delinear alguns desenvolvimentos surpreendentes, principalmente no rumo tomado pelo comércio eletrônico.
Cinco anos atrás, muitos acreditavam que a Internet daria a todos o poder de se manifestar e publicar suas opiniões. Não se imaginava que as pessoas acabariam se interessando mais pelo poder de comprar e vender infinita e ilimitadamente -no entanto, é o que acontece nos leilões da rede, dia e noite.
Em que lugar, na vida real, você acharia, lado a lado, como que na mesma prateleira, um Omega blindado, uma moeda de mil-réis e a uma patente de acessório para guarda-sol? Quem passeia pelos leilões da Internet tem a impressão de que o conteúdo de todos os porões do mundo foi despejado na rede.
Mas o mais interessante no comércio eletrônico no momento não é o que se vende, ou para quem, ou mesmo o quanto se vende -é o como. A distribuição eletrônica está reescrevendo a cartilha do comércio como o conhecemos. Fazer compras, até cinco anos, significava entrar numa loja, perguntar o preço e levar. Na Internet, as alternativas são várias: é possível entrar num leilão, consultar milhares de classificados ou comparar preços numa programa de busca de produtos. Se nada disso servir, você pode visitar um site em que diz o quanto quer pagar e ver se tem alguém interessado em vender ou ainda pegar carona numa turma de pessoas que querem comprar a mesma coisa, fazendo uma compra por atacado virtual e enxugando o preço.
O comércio eletrônico está virando de ponta-cabeça o velho esquema loja/balcão/preço fixo. Alguns analistas, como Kevin Kelly, ex-editor da "Wired", acreditam que os leilões podem "evoluir" para aceitar também trocas puras e simples.
Quem imaginaria que seria possível, por exemplo, negociar empregos na Internet, como se faz em novos sites que não são simples classificados, mas leilões de trabalho? Neles você pode dizer seu preço e contratar um empregado por um determinado período, para um trabalho x, ou pode dizer quais são suas qualificações e se oferecer a potenciais compradores.
Outra modalidade de varejo impossível antes da Internet: os ciclos de compras, que podem ser encontrados nos sites Accompany e Mercata. Um certo número de pessoas que deseja comprar a mesma coisa se junta e consegue um preço melhor por ela -é uma compra por atacado que pode ser feita por indivíduos. O Yahoo está de olho na fórmula: deve estrear a sua versão do Accompany em breve.
Da mesma forma, não se previa, cinco anos atrás, que o mercado de ações pela Internet cresceria tão rápido como vem crescendo. Novamente, a questão não é apenas de volume, mas de mudança de mentalidade. Com a facilidade de operar, muitas pessoas que jamais tinham sonhado em investir em ações estão se animando a fazer isso.
Uma área menos charmosa, que não aparece tanto na mídia, mas que está sofrendo modificações brutais devido à Internet é o "business-to-business". Sites como FreeMarkets, Ariba e Commerce One, especializados em leilões "business-to-business" (com ligeiras variações no modelo de cada um), estão cada vez mais valorizados, e começam a surgir agregadores especializados em nichos, como e-Steel, que reúne compradores e vendedores de aço.
Outra nova forma de varejo que surgiu com a Internet é o modelo proposto pelo site Priceline: o freguês diz o quanto quer pagar e o site procura um fornecedor que queira vender por aquele preço, numa espécie de leilão invertido.
Menos revolucionários na forma, alguns agregadores de conteúdo reúnem vários serviços que facilitam a compra: análise de produtos, cotação de preços, troca de dicas entre usuários etc. Entre eles, Concierge (de turismo) e Carpoint (carros).
O mercado de software é um dos que mais sofreram transformações até agora, pela própria natureza do produto, facilmente distribuível pela Internet. Empresas como Microsoft e Oracle querem caminhar para um modelo que chamam de "provedor de serviços de aplicação". A idéia é alugar software pela Internet, em vez de oferecê-lo em caixas fechadas.
Como disse Paul Saffo, do Instituto do Futuro: "Nós vamos acabar comprando coisas que antes nem existiam, porque não havia forma de vendê-las...".

E-mail: ercilia@bol.com.br


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