São Paulo, Sexta-feira, 21 de Janeiro de 2000


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TEATRO
Montagem baseada na vida e na obra do cantor e compositor carioca de samba estréia hoje em SP
Peça traz o malandro genuíno Noel

VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha

 "A vila tem um feitiço sem farofa/
Sem vela e sem vintém/
Que nos faz bem"Noel Rosa
Apesar do nascimento traumático, a fórceps (o que lhe "roubou" o queixo já nos primeiros minutos de vida), foram possivelmente os 27 anos mais bem vividos de que se tem notícia na MPB. O imberbe Noel Rosa (1910-1937) é alçado à cena em mais um espetáculo, "Noel Rosa - Feitiço da Vila", que chega a São Paulo depois da bem sucedida temporada no Rio, um ano e meio atrás.
O longo intervalo é atribuído aos compromissos do ator protagonista Marcelo Serrado, primeiro em favor da sua participação numa minissérie, agora numa novela, "Força de um Desejo", ambas na Globo.
E não se trata de musical, repara logo a diretora e autora carioca Andreia Fernandes, 43. "O problema dos espetáculos que se auto-intitulam musicais, em São Paulo e no Rio, é que normalmente eles contam um pouco da história do personagem e depois canta uma música, e assim vai", explica. "Em "Feitiço da Vila", ao contrário, existe uma linha dramatúrgica, um trabalho de interpretação mesmo. As músicas não surgem como apêndices, têm função e estão muito ligadas ao cotidiano do personagem retratado. Aliás, não sei se conseguiríamos isso com outro compositor."
Na passagem de "Três Apitos", por exemplo ("Mas você não sabe que enquanto você faz pano/ Faço junto do piano esses versos pra você"), música dedicada a Fina, uma das namoradas de Rosa, ela não surge feito relâmpago, ocasionalmente, mas integra o enredo desde o início.
A intenção é trazer à tona a malandragem genuína de Noel, o galanteador contumaz, que não se furtava a uma refrega com Mário Lago, por exemplo, em virtude da paixão comum por Ceci. O espetáculo também transforma em personagens companheiros de samba (e do morro), como Cartola, Francisco Alves e Ismael Silva.
Esqueça o realismo que viceja sobre a imagem do cantor e compositor que sofria de complexo de inferioridade e andava cabisbaixo de quando em quando. "Feitiço da Vila" busca uma frequência oposta: exalta o sambista alegre, sedutor e irreverente.
A começar pela escolha do ator principal. "Eu não podia botar uma pessoa feia. O Marcelo é bonito sem ser galã. Além disso, possui uma formação de ator, é extremamente musical, toca violão, gaita e canta bem em cena, apesar de não ser propriamente afinado", explica a diretora.
A direção musical é de Luis Filipe de Lima (um conjunto regional toca ao vivo). As coreografias são de Tânia Nardini e Mabel Tude.


Peça: Noel - Feitiço da Vila Texto e direção: Andreia Fernandes Com: Edson Nascimento, Odette Garnier, Otacílio Coutinho e outros Quando: estréia hoje, 21h; sex. e sáb., 21h; dom., 18h Onde: teatro Hilton (av. Ipiranga, 165, região central, tel. 0/xx/11/259-6508) Quanto: R$ 25 e R$ 30 (sáb.)

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