|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Montagem baseada na vida e na obra do cantor e compositor carioca de samba estréia hoje em SP
Peça traz o malandro genuíno Noel
VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha
"A vila tem um feitiço sem farofa/
Sem vela e sem vintém/
Que nos faz bem"Noel Rosa
Apesar do nascimento traumático, a fórceps (o que lhe "roubou"
o queixo já nos primeiros minutos de vida), foram possivelmente
os 27 anos mais bem vividos de
que se tem notícia na MPB. O imberbe Noel Rosa (1910-1937) é alçado à cena em mais um espetáculo, "Noel Rosa - Feitiço da Vila", que chega a São Paulo depois
da bem sucedida temporada no
Rio, um ano e meio atrás.
O longo intervalo é atribuído
aos compromissos do ator protagonista Marcelo Serrado, primeiro em favor da sua participação
numa minissérie, agora numa novela, "Força de um Desejo", ambas na Globo.
E não se trata de musical, repara
logo a diretora e autora carioca
Andreia Fernandes, 43. "O problema dos espetáculos que se auto-intitulam musicais, em São
Paulo e no Rio, é que normalmente eles contam um pouco da história do personagem e depois canta
uma música, e assim vai", explica.
"Em "Feitiço da Vila", ao contrário, existe uma linha dramatúrgica, um trabalho de interpretação
mesmo. As músicas não surgem
como apêndices, têm função e estão muito ligadas ao cotidiano do
personagem retratado. Aliás, não
sei se conseguiríamos isso com
outro compositor."
Na passagem de "Três Apitos",
por exemplo ("Mas você não sabe
que enquanto você faz pano/ Faço
junto do piano esses versos pra
você"), música dedicada a Fina,
uma das namoradas de Rosa, ela
não surge feito relâmpago, ocasionalmente, mas integra o enredo desde o início.
A intenção é trazer à tona a malandragem genuína de Noel, o galanteador contumaz, que não se
furtava a uma refrega com Mário
Lago, por exemplo, em virtude da
paixão comum por Ceci. O espetáculo também transforma em
personagens companheiros de
samba (e do morro), como Cartola, Francisco Alves e Ismael Silva.
Esqueça o realismo que viceja
sobre a imagem do cantor e compositor que sofria de complexo de
inferioridade e andava cabisbaixo
de quando em quando. "Feitiço
da Vila" busca uma frequência
oposta: exalta o sambista alegre,
sedutor e irreverente.
A começar pela escolha do ator
principal. "Eu não podia botar
uma pessoa feia. O Marcelo é bonito sem ser galã. Além disso, possui uma formação de ator, é extremamente musical, toca violão,
gaita e canta bem em cena, apesar
de não ser propriamente afinado", explica a diretora.
A direção musical é de Luis Filipe de Lima (um conjunto regional
toca ao vivo). As coreografias são
de Tânia Nardini e Mabel Tude.
Peça: Noel - Feitiço da Vila
Texto e direção: Andreia Fernandes
Com: Edson Nascimento, Odette
Garnier, Otacílio Coutinho e outros
Quando: estréia hoje, 21h; sex. e sáb.,
21h; dom., 18h
Onde: teatro Hilton (av. Ipiranga, 165,
região central, tel. 0/xx/11/259-6508)
Quanto: R$ 25 e R$ 30 (sáb.)
Texto Anterior: Ex-mulher assistiu e aprovou peça Próximo Texto: "Despudoradas" encara tabus de frente Índice
|