São Paulo, segunda-feira, 21 de janeiro de 2002 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SUNDANCE O "invasor" Beto Brant enfia o pé na porta do cinema mundial
SÉRGIO DÁVILA ENVIADO ESPECIAL A PARK CITY (UTAH) "Ai, ai..." O cineasta Beto Brant sofria quando a apresentadora avisou que anunciaria o vencedor do prêmio de melhor filme latino-americano de Sundance 2002. Seu "O Invasor" concorria nesta categoria do principal festival de cinema dos Estados Unidos. "P.Q.P.!" foi a primeira reação do produtor Renato Ciasca, ao ouvir "The Trespasser", o nome em inglês do filme brasileiro, ser pronunciado no palco pela argentina Nurla Bronfman. Então os dois se abraçaram e correram para o palco montado no Clube de Tênis de Park City, cidade a 80 km de Salt Lake City (Utah). A dupla voltou com uma placa retangular de vidro gravada com a frase "O papel de toda a arte é fazer o silêncio passar rapidamente". Antes, Brant disse: "Sinto muito orgulho de estar entre as pessoas que representam a resistência à crueldade do mundo". Crueldade, aliás, é um dos temas dominantes de "O Invasor", principalmente a do personagem Anísio, desde já eternizado como um dos melhores criados no cinema brasileiro. Interpretado pelo estreante Paulo Miklos, dos Titãs, o marginal contratado por dois donos de uma construtora para assassinar o sócio domina o filme. É o terceiro longa do paulista de 36 anos, nascido em Jundiaí e criado em São Paulo, que já dirigiu "Os Matadores" (1996) e "Ação Entre Amigos". Brant é considerado prata da casa em Park City: "Ação" participou de Sundance em 1999, e o roteiro do próprio "Invasor" passou pelo renomado laboratório do festival. Sua vitória representa a vitória de uma facção pouco privilegiada do cinema brasileiro, a paulistana, menos afeita a turmas, conchavos e fora da área de influência da Globo. Menos organizada, também, o que resulta em pouco patrocínio e orçamentos apertados. "O Invasor" foi feito em 16mm com filme 800 ASA, o que lhe dá uma iluminação peculiar. "Queria algo cinza e bruto, como São Paulo", disse à Folha Beto Brant. Levou 11 meses e custou R$ 1 milhão, com dinheiro principalmente do Ministério da Cultura, da BR Distribuidora e do Consórcio Europa. Ainda não tem previsão de estréia no Brasil. "Sabemos das dificuldades que o cinema latino-americano encontra nos países de origem", disse à Folha Nicole Guillemet, co-diretora e número dois do festival, atrás apenas do fundador, Robert Redford. "Assim, esperamos que um prêmio como esse ajude o diretor a conseguir mais reconhecimento e público em sua própria casa." Não só "em casa". "O Invasor" foi convidado a participar da mostra Panorama do prestigioso Festival de Berlim em fevereiro e tem presença garantida nos festivais de San Francisco e Los Angeles, convites feitos em Sundance. Em Sundance também apareceram os primeiros contatos internacionais, ainda incipientes. Um diretor americano quer refilmar a história, só que na periferia de Los Angeles. Roteiros foram prometidos para avaliação de Brant. O Brasil ainda concorria na categoria curta-metragem, com "Palace 2", de Fernando Meirelles e Kátia Lund. O vencedor foi "Gasline" (EUA), de Dave Silver. É o segundo ano seguido que o país ganha na categoria filme latino-americano, que neste ano contava com o diretor Andrucha Waddington ("Eu Tu Eles") no júri. Em 2001, Sandra Werneck dividiu o prêmio com "Amores Possíveis". Uma tendência? "Espere até o ano que vem para ver a surpresa", brincou Guillemet. Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Sexo feminino é destaque na premiação principal Índice |
|