LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

"Por que o paulistano nunca pergunta como a gente vai, mas o que a gente está fazendo?"
Essa frase, ouvida em tom de jocosa cobrança em meados dos anos 90 no Rio de Janeiro, dá bem a medida da importância que o fazer, seja lá o que for, desfruta no imaginário da cidade de São Paulo; desbanca o ir, o estar ou o sentir-se, por exemplo, preocupações bem mais consistentes em locais onde a maior qualidade de vida ocorre de forma evidente.
Esse fazer -sem definições que o limitem, mas, ao contrário, observado em suas múltiplas possibilidades- é o mote explícito do livro de fotografias "Cidade de Todos os Sonhos - São Paulo do Brasil", uma realização do banco Santander Banespa, sob a curadoria do jornalista Gilberto Dimenstein, colunista da Folha, para comemorar os 450 anos da cidade.
Essa intenção, de invocar o fazer, é anunciada na abertura do texto que permeia todo o livro, autoria de Okky de Souza.
Assim é que 96 personagens encontram-se reunidos em duplas, a partir da eleição de suas afinidades, para que se possa ter uma amostra representativa do que se faz, e quem o faz, na cidade de São Paulo. Cada imagem é acompanhada de uma pequena definição que o retratado faz da cidade.
Vender, equilibrar, difundir, construir, pintar, conversar, criar, animar, superar, desenhar, brilhar, florir, comer ou ler, eis alguns dos verbos conjugados nesse alinhamento de idéias com imagens, a partir do qual posicionaram-se, em páginas lado a lado, entre outros, Silvio Santos e o camelô Marcelo Félix de Lima; o consagrado poeta Augusto de Campos e o morador de rua conhecido como Poeta da Pedroso; a escritora Tatiana Belinky e o bibliófilo José Mindlin; o pintor de quadros Gregório Gruber e o pintor de paredes Zezão.
O time de fotógrafos selecionados para registrar esses "fazedores" é tão eclético quando os próprios retratados o são, o que dá um tom de diversidade apropriado a uma publicação relacionada a São Paulo: André Andrade, Alex Szabzon, Christian Gaul, Cristiano Mascaro, Daniel Klajmic, Edu Simões, Felipe Hellmeister, J.R. Duran, Luiz Garrido...
As particularidades estéticas e técnicas de cada um desses artistas, aliadas à riqueza do diferencial dos personagens registrados, oferece a oportunidade para que se observe o que sugere Dimenstein logo no começo do livro: "A poesia desta cidade não está na paisagem geográfica, mas na paisagem humana. Vivemos aqui um confronto entre o caos urbano e a riqueza humana".