São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

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MÚSICA

Zélia Duncan organiza homenagem aos 70 anos de Hermínio Bello de Carvalho; Chico Buarque e Maria Bethânia participam

CD presta tributo ao criador de "Alvorada"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Zélia Duncan diz que ouve com freqüência pessoas de fora do meio musical afirmando não conhecer letras de Hermínio Bello de Carvalho. Quando ela canta trechos de "Alvorada", "Sei Lá, Mangueira" e outros clássicos, os interlocutores associam, surpresos, os versos ao poeta.
Com "Timoneiro", CD que está produzindo ao lado de Bia Paes Leme para comemorar em março os 70 anos de Carvalho, Duncan não quer repisar os antigos sucessos para quem ainda desconhece seu autor, mas mostrar como ele continua em plena atividade.
"Com exceção de uma, todas as músicas do disco são inéditas. Não queremos mostrar um compositor do passado, mas alguém que está na ativa, cuja música está viva. É um disco de festa, não de nostalgia", diz Duncan.
A única música não-inédita não é, como o título do CD pode sugerir, "Timoneiro", parceria com Paulinho da Viola que se tornou o maior sucesso do disco "Bebadosamba" (1996). Mas "Cobras e Lagartos" (Sueli Costa/Carvalho), registrada apenas no disco "Chico Buarque & Maria Bethânia Ao Vivo" (1975) e escolhida agora por Bethânia, que sempre quis regravá-la.
O projeto da gravadora Biscoito Fino vai além de "Timoneiro". A idéia é lançar em março uma caixa reunindo, ao lado do novo, quatro discos antigos que têm letras de Carvalho: "Pastores da Noite" (1978, de Vital Lima); "Águas Vivas" (1982, de Alaíde Costa); "Lira do Povo" (1985, vários cantores); e "Cantoria" (1995, vários também).
Os dois últimos foram feitos para marcar os 50 e 60 anos de Carvalho. Como fica claro, ele gosta de comemorar seus aniversários, mas prefere não pôr o carro na frente dos bois. Diz que só dará entrevistas quando o CD já estiver pronto, e toda a festa de 28 de março, confirmada.
"Ele opinou no repertório, naturalmente. Na semana passada, por exemplo, veio com uma música que tinha acabado de fazer com o Cristóvão Bastos e pediu para incluir. A Zezé Gonzaga, uma cantora fundamental para ele, vai gravar", conta Duncan.
Com as novas sugestões, o disco vai crescendo. Pensado para ter 14 faixas, já está com 16. Segundo a cantora-produtora, como o repertório é vasto, o problema está no excesso de opções.
"Não vou dizer que o repertório é eclético, porque detesto essa palavra. Mas ele é variado, sortido, múltiplo", afirma ela, lembrando que, além de sambas e choro, os gêneros mais visitados pelo letrista, há outros sons no CD.

Parcerias
Como março já está próximo, as gravações estão acontecendo a toque de caixa. Na última segunda-feira, Chico Buarque e Zeca Pagodinho cantaram "Mulher Faladeira" (Maurício Carrilho/Maurício Tapajós/Carvalho) acompanhados pelos Meninos de Cordeiro, alunos da Escola Portátil de Música, da qual o poeta é conselheiro.
Na quarta-feira, foi a vez de Lenine e Zé Renato gravarem "Amigo É Casa", um choro de Capiba que Carvalho fez a letra e estava engavetado havia anos.
A canção "Ventania", parceira com Joyce, está inédita desde os anos 70 e foi registrada agora por Monica Salmaso e pelo Quarteto Maogani. Paulinho da Viola, Simone, Dona Ivone Lara, Alaíde Costa e Joyce são outros nomes que participam de "Timoneiro".
"Acho que, com esse CD, o público vai ter mais uma oportunidade de constatar a grandeza dessa obra", exalta Duncan, que se aproximou de Carvalho durante a temporada de "Eu me Transformo em Outras", show baseado no disco homônimo a que o letrista assistiu várias vezes.


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