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MÚSICA
Zélia Duncan organiza homenagem aos 70 anos de Hermínio Bello de Carvalho; Chico Buarque e Maria Bethânia participam
CD presta tributo ao criador de "Alvorada"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Zélia Duncan diz que ouve com
freqüência pessoas de fora do
meio musical afirmando não conhecer letras de Hermínio Bello
de Carvalho. Quando ela canta
trechos de "Alvorada", "Sei Lá,
Mangueira" e outros clássicos, os
interlocutores associam, surpresos, os versos ao poeta.
Com "Timoneiro", CD que está
produzindo ao lado de Bia Paes
Leme para comemorar em março
os 70 anos de Carvalho, Duncan
não quer repisar os antigos sucessos para quem ainda desconhece
seu autor, mas mostrar como ele
continua em plena atividade.
"Com exceção de uma, todas as
músicas do disco são inéditas.
Não queremos mostrar um compositor do passado, mas alguém
que está na ativa, cuja música está
viva. É um disco de festa, não de
nostalgia", diz Duncan.
A única música não-inédita não
é, como o título do CD pode sugerir, "Timoneiro", parceria com
Paulinho da Viola que se tornou o
maior sucesso do disco "Bebadosamba" (1996). Mas "Cobras e Lagartos" (Sueli Costa/Carvalho),
registrada apenas no disco "Chico
Buarque & Maria Bethânia Ao
Vivo" (1975) e escolhida agora
por Bethânia, que sempre quis regravá-la.
O projeto da gravadora Biscoito
Fino vai além de "Timoneiro". A
idéia é lançar em março uma caixa reunindo, ao lado do novo,
quatro discos antigos que têm letras de Carvalho: "Pastores da
Noite" (1978, de Vital Lima);
"Águas Vivas" (1982, de Alaíde
Costa); "Lira do Povo" (1985, vários cantores); e "Cantoria" (1995,
vários também).
Os dois últimos foram feitos para marcar os 50 e 60 anos de Carvalho. Como fica claro, ele gosta
de comemorar seus aniversários,
mas prefere não pôr o carro na
frente dos bois. Diz que só dará
entrevistas quando o CD já estiver
pronto, e toda a festa de 28 de
março, confirmada.
"Ele opinou no repertório, naturalmente. Na semana passada,
por exemplo, veio com uma música que tinha acabado de fazer
com o Cristóvão Bastos e pediu
para incluir. A Zezé Gonzaga,
uma cantora fundamental para
ele, vai gravar", conta Duncan.
Com as novas sugestões, o disco
vai crescendo. Pensado para ter 14
faixas, já está com 16. Segundo a
cantora-produtora, como o repertório é vasto, o problema está
no excesso de opções.
"Não vou dizer que o repertório
é eclético, porque detesto essa palavra. Mas ele é variado, sortido,
múltiplo", afirma ela, lembrando
que, além de sambas e choro, os
gêneros mais visitados pelo letrista, há outros sons no CD.
Parcerias
Como março já está próximo, as
gravações estão acontecendo a toque de caixa. Na última segunda-feira, Chico Buarque e Zeca Pagodinho cantaram "Mulher Faladeira" (Maurício Carrilho/Maurício
Tapajós/Carvalho) acompanhados pelos Meninos de Cordeiro,
alunos da Escola Portátil de Música, da qual o poeta é conselheiro.
Na quarta-feira, foi a vez de Lenine e Zé Renato gravarem "Amigo É Casa", um choro de Capiba
que Carvalho fez a letra e estava
engavetado havia anos.
A canção "Ventania", parceira
com Joyce, está inédita desde os
anos 70 e foi registrada agora por
Monica Salmaso e pelo Quarteto
Maogani. Paulinho da Viola, Simone, Dona Ivone Lara, Alaíde
Costa e Joyce são outros nomes
que participam de "Timoneiro".
"Acho que, com esse CD, o público vai ter mais uma oportunidade de constatar a grandeza dessa obra", exalta Duncan, que se
aproximou de Carvalho durante a
temporada de "Eu me Transformo em Outras", show baseado no
disco homônimo a que o letrista
assistiu várias vezes.
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