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18º SP FASHION WEEK
Moda tece armadilhas no segundo dia
ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA
Três armadilhas se revelaram
no segundo dia da SPFW, que
lança até terça 47 coleções para o
inverno 2005. A saber: Isabela Capeto em seu segundo desfile; o
adolescente Pedro Lourenço em
apresentação numa galeria de arte; a marca de praia Rosa Chá com
roupa para fora da areia.
Apontada como revelação da
última temporada, Capeto trouxe
do Rio um estilo artesanal, feminino, folk, de extrema personalidade -elementos que compõem
algumas vontades do momento.
Os fashionistas adoraram. Daí a
expectativa na sala 4. Sob essa difícil sombra, a última coisa que
deveria ter feito é uma estrutura
semelhante à de 2004, com modelos saindo de trás e andando ao
redor da sala, causando déjà vu.
São dois temas. O grunge, com
suéteres de lã puídos pelo tempo,
e um estilo boneca, com muitos
frufrus, bordados, camisolas e tules. Em lugar de se completar, eles
se confundem. É possível sentir
na edição uma tentativa de criar
uma imagem, mas falta um impacto de coleção, de coerência e
unidade. Falta liga. Seu desfile
lembra mais um punhado de roupas reunidas num brechó. O look
de abertura é fechado demais, as
calças compridas são feias, os casacos parecem emprestados.
O trabalho mais forte é mesmo
o dos bordados, em muitos
paetês -sozinhos ou combinados com o tule-, nos vestidos, os melhores momentos da coleção. Outro hit é
a malha com bordadinho
de Branca de Neve ou
Cinderela, a essência da estilista.
Pedro Lourenço fez a elite da
imprensa de moda se jogar para a
galeria Leme, um dos mais badalados espaços de arte da cidade. É
filho de Gloria Coelho e Reinaldo
Lourenço, que desfilam hoje.
"Don't believe the hype", cantava
a música enquanto o povo esperava. Pedro Lourenço tem 14 anos. É
talentoso, mas deveria amadurecer fora dos holofotes da SPFW.
Assim, seu desfile não soaria pretensioso e suas sinceras tentativas
como criador poderiam ser vistas
como tal. Nesse mercado feito de
relacionamentos, todos saúdam o
jovem imperador. Sobram superlativos, e o garoto tem até direito a
claque entre uma entrada e outra.
Como se faz com a criança amada, passamos a mão na cabeça
diante de seus erros e elogiamos
suas qualidades. Como um jovem
que pede ajuda dos pais para o dever de casa, são excepcionalmente
bem-feitas suas construções, modelagens e acabamentos. Pausa
para refletir sobre a figura do estilista hoje. Seria ele um artista do
moulage, do tecido e da costura,
seria ele um criativo desenhista
que elabora silhuetas malucas,
proporções surpreendentes, a tão
sonhada reinvenção da roda (ou
da camisa, ou da calça)?
Algumas idéias do jovem não
são lá tão frescas, e ele repete alguns pecadilhos assinados (militarismo, insetos). Mas, falando
enfim de suas qualidades, há interessantes construções, principalmente nos volumes dos vestidos
arredondados do meio, nervurados; e nos looks do final, diferentes drapeados de saias e cores, tão
bizarros desdobramentos do zíper que chegam a surpreender.
Pedro Lourenço é bom. Deixem-no aprender e crescer em paz.
De volta à Bienal, não fosse a beleza de Ana Beatriz Barros e a presença impecável de Michelle Alves, poderíamos achar que foi só
perda de tempo. A excelente marca de Amir Slama mostra inverno
que fica entre a roupa de ginástica
(sem o ser); um prêt-à-porter folk
(que não sabe fazer) e queima ótimas idéias para seu verão, como o
top-halteres e os biquínis drapeados, como em Larissa Castro.
Isabela Capeto:
Pedro Lourenço:
Rosa Chá:
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