São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

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18º SP FASHION WEEK

Moda tece armadilhas no segundo dia

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Três armadilhas se revelaram no segundo dia da SPFW, que lança até terça 47 coleções para o inverno 2005. A saber: Isabela Capeto em seu segundo desfile; o adolescente Pedro Lourenço em apresentação numa galeria de arte; a marca de praia Rosa Chá com roupa para fora da areia.
Apontada como revelação da última temporada, Capeto trouxe do Rio um estilo artesanal, feminino, folk, de extrema personalidade -elementos que compõem algumas vontades do momento. Os fashionistas adoraram. Daí a expectativa na sala 4. Sob essa difícil sombra, a última coisa que deveria ter feito é uma estrutura semelhante à de 2004, com modelos saindo de trás e andando ao redor da sala, causando déjà vu.
São dois temas. O grunge, com suéteres de lã puídos pelo tempo, e um estilo boneca, com muitos frufrus, bordados, camisolas e tules. Em lugar de se completar, eles se confundem. É possível sentir na edição uma tentativa de criar uma imagem, mas falta um impacto de coleção, de coerência e unidade. Falta liga. Seu desfile lembra mais um punhado de roupas reunidas num brechó. O look de abertura é fechado demais, as calças compridas são feias, os casacos parecem emprestados.
O trabalho mais forte é mesmo o dos bordados, em muitos paetês -sozinhos ou combinados com o tule-, nos vestidos, os melhores momentos da coleção. Outro hit é a malha com bordadinho de Branca de Neve ou Cinderela, a essência da estilista.
Pedro Lourenço fez a elite da imprensa de moda se jogar para a galeria Leme, um dos mais badalados espaços de arte da cidade. É filho de Gloria Coelho e Reinaldo Lourenço, que desfilam hoje. "Don't believe the hype", cantava a música enquanto o povo esperava. Pedro Lourenço tem 14 anos. É talentoso, mas deveria amadurecer fora dos holofotes da SPFW. Assim, seu desfile não soaria pretensioso e suas sinceras tentativas como criador poderiam ser vistas como tal. Nesse mercado feito de relacionamentos, todos saúdam o jovem imperador. Sobram superlativos, e o garoto tem até direito a claque entre uma entrada e outra.
Como se faz com a criança amada, passamos a mão na cabeça diante de seus erros e elogiamos suas qualidades. Como um jovem que pede ajuda dos pais para o dever de casa, são excepcionalmente bem-feitas suas construções, modelagens e acabamentos. Pausa para refletir sobre a figura do estilista hoje. Seria ele um artista do moulage, do tecido e da costura, seria ele um criativo desenhista que elabora silhuetas malucas, proporções surpreendentes, a tão sonhada reinvenção da roda (ou da camisa, ou da calça)?
Algumas idéias do jovem não são lá tão frescas, e ele repete alguns pecadilhos assinados (militarismo, insetos). Mas, falando enfim de suas qualidades, há interessantes construções, principalmente nos volumes dos vestidos arredondados do meio, nervurados; e nos looks do final, diferentes drapeados de saias e cores, tão bizarros desdobramentos do zíper que chegam a surpreender. Pedro Lourenço é bom. Deixem-no aprender e crescer em paz.
De volta à Bienal, não fosse a beleza de Ana Beatriz Barros e a presença impecável de Michelle Alves, poderíamos achar que foi só perda de tempo. A excelente marca de Amir Slama mostra inverno que fica entre a roupa de ginástica (sem o ser); um prêt-à-porter folk (que não sabe fazer) e queima ótimas idéias para seu verão, como o top-halteres e os biquínis drapeados, como em Larissa Castro.
Isabela Capeto:
Pedro Lourenço:
Rosa Chá:


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