São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 2006

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LIVROS

HISTÓRIA


Livro analisa mito automobilístico e sua época em tom nostálgico

Símbolo dos anos dourados, Simca é tema de "biografia"

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os autores e a editora não tinham como prever que seu produto chegaria ao público junto da onda de nostalgia pelos anos 50 provocada pela minissérie sobre Juscelino Kubitschek que a Rede Globo colocou no ar neste início de 2006.
Mas é provável que "Simca - A História desde as Origens", de Paulo Cesar Sandler e Rogério de Simone, se beneficie com a "JKmania" destas semanas. Nada mais justo, porque o livro é excelente, e a identificação entre Simca e os anos dourados, absoluta.
Mesmo quem não é aficionado por automóveis, mas viveu no Brasil do início da segunda metade do século 20 ou tem interesse pelo período vai gostar de ver as fotos e ler os textos sobre a história do Simca.
Especialmente o modelo Chambord daquela fábrica foi um ícone daqueles tempos. Suas linhas combinavam perfeitamente com as dos monumentos e edifícios concebidos por Niemeyer para Brasília; a montagem do carro no país apontava para a formação de um parque industrial automobilístico respeitável; tudo tinha a ver com o clima de autoconfiança nacional que se vivia.
O primeiro seriado de televisão brasileiro -"O Vigilante Rodoviário"- tinha num Simca Chambord um dos personagens principais. Era nesse modelo que o Inspetor Carlos e seu cão Lobo, um pastor alemão, perseguiam os bandidos nas estradas paulistas.
"O Vigilante" era visivelmente inspirado numa série americana, "Patrulha Rodoviária", estrelada por Broderick Crawford, que havia sido exibida no Brasil. A comparação era em tudo depreciativa ao produto nacional, menos na beleza do carro do herói: o Simca Chambord era muito superior ao Buick Special 46R dirigido pelo detetive Dan Matthews.
O Simca se manteve no imaginário coletivo nacional como símbolo de bom gosto e sofisticação por muito tempo. Na novela "Estúpido Cupido", de 1976, ambientada no início dos anos 60 numa cidadezinha do interior de São Paulo, Mederix (Ney Latorraca) sonhava em ter um Simca.
Em 1986, a banda Camisa de Vênus lançou o rock "Simca Chambord", que dizia: "Um dia meu pai chegou em casa,/Nos idos de 63/E da porta ele gritou orgulhoso,/Agora chegou a nossa vez/Eu vou ser o maior, comprei um/Simca Chambord".
Mas nem os fãs do Simca nem os interessados na história do Brasil contemporâneo tiveram a possibilidade de conhecer tão bem o carro e sua relação com o país da breve democracia otimista que durou de 1955 a 1964 quanto agora, com o atual livro.
Fartamente ilustrado, preciso nos detalhes da história da fábrica (não apenas a brasileira mas também a francesa desde os seus primórdios na Itália), cheio de curiosidades (como detalhes da visita de Charles de Gaulle ao Brasil em 1964, quando visitou a fábrica da Simca na Via Anchieta e desfilou pelas ruas no seu modelo Tufão), "Simca" é um livro de mesa que certamente fará sucesso nas salas de visita neste início de ano.


Carlos Eduardo Lins da Silva é jornalista, diretor da Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas e autor de "Mil Dias: Seis Mil Dias Depois" (Publifolha)

Simca - A História desde as Origens
   
Autor: Paulo Cesar Sandler e Rogério de Simone
Editora: Alaúde
Quanto: R$ 96


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