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LIVROS
HISTÓRIA
Livro analisa mito automobilístico e sua época em tom nostálgico
Símbolo dos anos dourados, Simca é tema de "biografia"
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os autores e a editora não
tinham como prever que seu
produto chegaria ao público junto da onda de nostalgia pelos anos
50 provocada pela minissérie sobre Juscelino Kubitschek que a
Rede Globo colocou no ar neste
início de 2006.
Mas é provável que "Simca - A
História desde as Origens", de
Paulo Cesar Sandler e Rogério de
Simone, se beneficie com a
"JKmania" destas semanas. Nada
mais justo, porque o livro é excelente, e a identificação entre Simca e os anos dourados, absoluta.
Mesmo quem não é aficionado
por automóveis, mas viveu no
Brasil do início da segunda metade do século 20 ou tem interesse
pelo período vai gostar de ver as
fotos e ler os textos sobre a história do Simca.
Especialmente o modelo Chambord daquela fábrica foi um ícone
daqueles tempos. Suas linhas
combinavam perfeitamente com
as dos monumentos e edifícios
concebidos por Niemeyer para
Brasília; a montagem do carro no
país apontava para a formação de
um parque industrial automobilístico respeitável; tudo tinha a ver
com o clima de autoconfiança nacional que se vivia.
O primeiro seriado de televisão
brasileiro -"O Vigilante Rodoviário"- tinha num Simca
Chambord um dos personagens
principais. Era nesse modelo que
o Inspetor Carlos e seu cão Lobo,
um pastor alemão, perseguiam os
bandidos nas estradas paulistas.
"O Vigilante" era visivelmente
inspirado numa série americana,
"Patrulha Rodoviária", estrelada
por Broderick Crawford, que havia sido exibida no Brasil. A comparação era em tudo depreciativa
ao produto nacional, menos na
beleza do carro do herói: o Simca
Chambord era muito superior ao
Buick Special 46R dirigido pelo
detetive Dan Matthews.
O Simca se manteve no imaginário coletivo nacional como símbolo de bom gosto e sofisticação
por muito tempo. Na novela "Estúpido Cupido", de 1976, ambientada no início dos anos 60 numa
cidadezinha do interior de São
Paulo, Mederix (Ney Latorraca)
sonhava em ter um Simca.
Em 1986, a banda Camisa de Vênus lançou o rock "Simca Chambord", que dizia: "Um dia meu pai
chegou em casa,/Nos idos de 63/E
da porta ele gritou orgulhoso,/Agora chegou a nossa vez/Eu vou
ser o maior, comprei um/Simca
Chambord".
Mas nem os fãs do Simca nem
os interessados na história do
Brasil contemporâneo tiveram a
possibilidade de conhecer tão
bem o carro e sua relação com o
país da breve democracia otimista
que durou de 1955 a 1964 quanto
agora, com o atual livro.
Fartamente ilustrado, preciso
nos detalhes da história da fábrica
(não apenas a brasileira mas também a francesa desde os seus primórdios na Itália), cheio de curiosidades (como detalhes da visita
de Charles de Gaulle ao Brasil em
1964, quando visitou a fábrica da
Simca na Via Anchieta e desfilou
pelas ruas no seu modelo Tufão),
"Simca" é um livro de mesa que
certamente fará sucesso nas salas
de visita neste início de ano.
Carlos Eduardo Lins da Silva é jornalista,
diretor da Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas e autor de "Mil
Dias: Seis Mil Dias Depois" (Publifolha)
Simca - A História desde as Origens
Autor: Paulo Cesar Sandler e Rogério de Simone
Editora: Alaúde
Quanto: R$ 96
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