São Paulo, segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

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Gaitista busca rastros da Galícia no Brasil e fala hoje em São Paulo

Carlos Núñez fez pesquisas musicais na Bahia junto a imigrantes galegos

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

A gaita de fole foi o primeiro instrumento europeu a desembarcar no Brasil. É o que conta Pero Vaz de Caminha, membro da frota de Pedro Álvares Cabral responsável pela famosa carta destinada ao rei de Portugal, em que relatava como eram as terras recém-descobertas.
Caminha conta como Diogo Dias, experiente integrante do grupo, aproximara-se dos índios brasileiros, levando consigo um gaiteiro que vinha a bordo. "E meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e andavam com ele ao som da gaita."
Quinhentos e oito anos depois, um dos mais famosos gaiteiros do mundo volta a desembarcar na Bahia. O galego Carlos Núñez, 36, nascido em Vigo, é um sonhador, obcecado em buscar, nos territórios que formavam a "Grande Galícia", traços em comum dentre as transformações que a música tradicional galega adquiriu nos vários países em que foi dividida.
Seu trabalho -que conta com sete álbuns que galgam as listas de mais vendidos na Espanha- busca o fio condutor entre as sonoridades que hoje sobrevivem no noroeste da França -a terra do personagem Asterix-, na Irlanda, na Escócia e no noroeste de Espanha e Portugal, onde a cultura celta se misturou à paisagem local.
Núñez está há algumas semanas no Brasil, buscando o que frutificou daquele longínquo contato entre a gaita que veio a bordo das naus portuguesas e a nossa cultura. "O Brasil nordestino tem nostalgia de um sertão medieval, e nisso lembra a Espanha.
Este sonho é uma imagem da Galícia do passado que se estabeleceu aqui", diz, em entrevista à Folha, por telefone, de Salvador, onde fez pesquisas.
Começou visitando o veterano violeiro e compositor Elomar. Depois foi conhecer idosos galegos no Hospital Espanhol da cidade. Encheu de lágrimas os olhos dos imigrantes, que evocaram imagens de uma Galícia há muito deixada atrás.
"Alguns já não podem nem mais falar, mas lembravam das músicas, reconheceram como parte de sua história, com nostalgia e carinho", conta Núñez.
O artista dá hoje uma palestra no Instituto Cervantes de São Paulo. Pouco conhecido no Brasil, a aproximação mais recente ocorreu quando foi exibido aqui "Mar Adentro" (2004), de Alejandro Amenábar. O longa, que conta a história verídica de Ramon Sampedro, um tetraplégico que lutou anos para que lhe fosse dado o direito legal ao suicídio, tem imensa participação de Núñez.
É possível assistir a apresentações de Núñez pelo YouTube. Quem acha que verá um sisudo artista erudito se surpreenderá. Seus shows são vibrantes e voltados a grandes públicos, com guitarras, baixo e baterias que não devem nada a qualquer conjunto de pop e rock.


CARLOS NÚÑEZ
Quando:
hoje, às 20h
Onde: auditório do Instituto Cervantes (av. Paulista, 2.439/7º andar)
Quanto: entrada franca


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