São Paulo, quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

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Crítica/ "Guerra ao Terror"

Filme vai na contramão do cinema de ação dos EUA

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

"Guerra ao Terror" é o mais radical experimento cinematográfico saído de Hollywood em muitos anos. Um filme emocionante e surpreendente, que merece estar em qualquer lista dos melhores filmes de guerra já feitos.
A história acompanha 38 dias na vida de um trio de soldados americanos no Iraque, cuja missão é desarmar bombas escondidas em estradas, prédios e carros de Bagdá.
Logo no início, o grupo perde seu líder, morto por uma bomba. Seu substituto é o sargento William James (o ótimo Jeremy Renner). James tem um dom quase paranormal para desarmar explosivos, mas sua arrogância e seu aparente destemor põem os companheiros em frequente risco de vida.
O filme anda na contramão do moderno cinema de ação hollywoodiano: no lugar da violência estilizada e da fotografia de publicidade de muitos filmes do gênero, a diretora Kathryn Bigelow optou por um tom documental, com câmera na mão e imagens sujas e granuladas, como um noticiário de TV. O efeito é hipnotizante.
Bigelow não pinta a guerra em tons grandiloquentes. Batalhas são disputadas em ruas empoeiradas e becos estreitos. Não há heróis nem duelos ao entardecer. Tiroteios não são coreografados como balés, e terminam sem clímax ou vencedor. Ela mostra que não compactua com a visão de filmes de guerra como faroestes bélicos.
Uma das cenas mais impressionantes de "Guerra ao Terror" traz o grupo surpreendido por uma emboscada no meio do deserto. Os soldados localizam os atiradores, escondidos em um casebre a cerca de um quilômetro de distância. Segue-se um tiroteio dos mais angustiantes que o cinema já viu: os dois lados disparam tiros usando rifles de longo alcance. Ouve-se o zunido das balas, que demoram a chegar ao destino, devido à distância. Essa demora, e o suspense provocado por não saber onde os tiros vão cair, dão à sequência a impressão de um mórbido jogo de xadrez.
Bigelow estende a cena por mais tempo do que qualquer manual de roteiro indicaria. Por vários minutos, os soldados, desidratados e famintos, estirados na areia escaldante do deserto, esperam pelo próximo tiro do inimigo invisível. Ninguém fala nada. Até que um deles diz: "Acho que encerramos por hoje. Vamos embora". A mensagem é clara: a guerra não é uma aventura, mas um monótono ritual de morte.


Avaliação: ótimo

Estreia nos cinemas em 5 de fevereiro




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