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Crítica/ "Guerra ao Terror"
Filme vai na contramão do cinema de ação dos EUA
ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA
"Guerra ao Terror" é
o mais radical experimento cinematográfico saído de Hollywood em muitos anos. Um filme emocionante e surpreendente, que merece estar em
qualquer lista dos melhores filmes de guerra já feitos.
A história acompanha 38 dias
na vida de um trio de soldados
americanos no Iraque, cuja
missão é desarmar bombas escondidas em estradas, prédios e
carros de Bagdá.
Logo no início, o grupo perde
seu líder, morto por uma bomba. Seu substituto é o sargento
William James (o ótimo Jeremy Renner). James tem um
dom quase paranormal para
desarmar explosivos, mas sua
arrogância e seu aparente destemor põem os companheiros
em frequente risco de vida.
O filme anda na contramão
do moderno cinema de ação
hollywoodiano: no lugar da violência estilizada e da fotografia
de publicidade de muitos filmes do gênero, a diretora
Kathryn Bigelow optou por um
tom documental, com câmera
na mão e imagens sujas e granuladas, como um noticiário de
TV. O efeito é hipnotizante.
Bigelow não pinta a guerra
em tons grandiloquentes. Batalhas são disputadas em ruas
empoeiradas e becos estreitos.
Não há heróis nem duelos ao
entardecer. Tiroteios não são
coreografados como balés, e
terminam sem clímax ou vencedor. Ela mostra que não compactua com a visão de filmes de
guerra como faroestes bélicos.
Uma das cenas mais impressionantes de "Guerra ao Terror" traz o grupo surpreendido
por uma emboscada no meio do
deserto. Os soldados localizam
os atiradores, escondidos em
um casebre a cerca de um quilômetro de distância. Segue-se
um tiroteio dos mais angustiantes que o cinema já viu: os
dois lados disparam tiros usando rifles de longo alcance. Ouve-se o zunido das balas, que
demoram a chegar ao destino,
devido à distância. Essa demora, e o suspense provocado por
não saber onde os tiros vão cair,
dão à sequência a impressão de
um mórbido jogo de xadrez.
Bigelow estende a cena por
mais tempo do que qualquer
manual de roteiro indicaria.
Por vários minutos, os soldados, desidratados e famintos,
estirados na areia escaldante
do deserto, esperam pelo próximo tiro do inimigo invisível.
Ninguém fala nada. Até que um
deles diz: "Acho que encerramos por hoje. Vamos embora".
A mensagem é clara: a guerra
não é uma aventura, mas um
monótono ritual de morte.
Avaliação: ótimo
Estreia nos cinemas em 5 de fevereiro
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