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CINEMA ESTRÉIAS
Novo "Jornada nas Estrelas" remete ao futuro do pretérito
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
E vamos nós na Enterprise, outra
vez, embarcados na mais estranha
série já feita no cinema.
"Jornada nas Estrelas: Primeiro
Contato" -enésimo filme da série- não é uma reprise. Mas é
quase impossível não lembrar de
"Flash Gordon", o seriado dos
anos 30. A mesma iconografia futurista, a mesma crença na ciência
e na evolução parecem orientar os
dois trabalhos.
Mas é também a maneira como
as coisas se põem em cena que faz a
aproximação. Há cenários que não
têm cara de passado ou de futuro,
mas de cenários, simplesmente.
Há uma relação antiquada com
os efeitos especiais, que não procuram seduzir pelo efeito realista,
mas por solicitar ao espectador
que acredite naquilo que vê.
Dito isso, "Primeiro Contato"
trata de uma volta ao passado. Não
deixa de lembrar, por exemplo,
"De Volta para o Futuro", a ficção científica dos anos 80, já que a
tripulação do comandante
Jean-Luc Picard (Patrick Stewart)
deve voltar de um futuro remotíssimo até o ano 2063.
Sua missão: impedir que os
Borgs -terríveis alienígenas que
incorporam os humanos- tomem conta de uma Terra devastada pela guerra nuclear e comprometam todo o futuro.
No mais, os Borgs não deixam de
evocar uma pilha de filmes de horror (inclusive os de Zé do Caixão),
já que buscam a perfeição de maneira obsessiva. Dessa perfeição
monstruosa faria parte sua natureza, que amalgama traços mecânicos a elementos orgânicos.
Desde a viagem no tempo até o
tipo de inimigo que enfrenta, a tripulação da Enterprise pode vir do
século que quiser. O filme nos remete sempre, inevitavelmente, ao
passado.
É, literalmente, o futuro do pretérito. A Enterprise (na tradição da
série) move-se num terreno dado.
Tematicamente, os alienígenas
são totalitários -tratamos, então,
da luta entre liberdade e tirania,
como nos tempos da Guerra Fria
ou da luta contra o nazismo.
Os valores envolvidos são aqueles que conhecemos, nada mais.
São apenas um pouco hiperbólicos: os Borgs não se contentam em
eliminar a individualidade. Eliminam também o coletivismo, integrando todos os seres a um único
ser referencial.
No desenvolvimento, outros fatores nos remetem a sagas já exploradas mais criativamente.
Exemplo: os Borgs são invasores
de corpos, como em "The Body
Snatchers", de Don Siegel, ou
"Eles Vivem", de John Carpenter.
Mas esses filmes -e há outros-
baseavam-se na angústia de nunca
sabermos, a rigor, se a invasão já
havia acontecido ou não. Se tal sujeito, quando aparecia, ainda era
um homem ou já um mutante.
"Jornada nas Estrelas: Primeiro
Contato" mantém-se fiel a si mesma. O espectador pisa sempre em
um terreno de certezas, de idéias e
situações idas e vividas.
É até certo ponto esperável -já
que a série se dirige ao público
adolescente-, mas ainda assim
seria possível pedir um pouco
mais de inquietude na evolução.
Alguns achados (como o fato de
Picard já ter sido absorvido, algum
dia, pelos Borgs) permanecem
inexplorados, já que o roteiro evita
qualquer ambiguidade e a direção
apenas enfatiza essa platitude.
Com isso, "Primeiro Contato"
sustenta-se no de sempre: tecnicalidades sobre o futuro, figuras inverossímeis, algum humor (infelizmente pouco), dois ou três momentos curiosos (como a cena de
amor entre o robô Data -Brent
Spiner- e a rainha Borg -Alice
Krige), uma ou duas auto-ironias.
Não é muito. Mas a maior parte
do que se pode arrolar como virtudes de "Primeiro Contato" acaba,
quase sempre, soterrada pela música infernal de Jerry Goldsmith.
Filme: Jornada nas Estrelas: Primeiro
Contato
Produção: EUA, 1996
Direção: Jonathan Frakes
Com: Patrick Stewart, Jonathan Frakes
Quando: a partir de hoje, nos cines
Ipiranga 1, Gemini 2, Liberty, Center
Iguatemi 2 e circuito
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