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MÚSICA
A roqueira tem ainda participação especial como backing vocal no CD que Rita Cadillac prepara apenas com composições suas
Rita Lee grava disco só com inéditas
TOM CARDOSO
especial para a Folha
Aos 52 anos, Rita Lee anda com
pique de menina. A roqueira saiu
da toca, arrastou o marido e produtor Roberto de Carvalho para o
estúdio e juntos preparam um
disco de canções e parcerias inéditas. Ao mesmo tempo, Rita observa reticente o oba-oba da imprensa internacional com Os Mutantes, grupo de que ela fez parte
na década de 60 e 70 e que hoje virou cult nos Estados Unidos.
"Não aguento mais ouvir falar de
Mutantes", declarou durante entrevista exclusiva à Folha.
Rita também soltou o verbo
contra o grupo Tutti Frutti, que
acompanhou-a durante um bom
tempo e foi responsável por uma
das melhores fases de sua carreira. Elogiou Rita Cadillac, "a única
bunda inteligente do país", com
quem gravou uma participação
especial no disco "Rita Canta Rita", e disse estar pronta para interpretar Evita Perón no filme "Olga
del Volga", dirigido por Patrício
Bisso.
"Feiticeira corcunda"
Nada de disco acústico. Rita não
quer desgrudar das guitarras. Em
seu novo CD, vai até abrir espaço
para "umas batucadas de pista",
mas não seguirá a onda tecno que
impregnou o rock brasileiro.
"Não pretendo cair de sola nas
tecnologias sintéticas. Será um
disco basicamente rock'n'roll,
desses que eu sempre fiz." Para isso, convidou o produtor Apollo 9
para dividir a produção com Roberto de Carvalho. "O Apollo é
um cara antenadíssimo, vai saber
trocar figurinhas com os velhinhos roqueiros."
Rita ainda não definiu o repertório, mas não deve deixar de incluir a ótima e afiada "Pagu", parceria com Zélia Duncan (veja letra
nesta página). Bem no estilo "porra-louca", como ela mesma se define, Rita ironiza o excesso de
bundas fabricadas na televisão
brasileira: "Nem toda feiticeira é
corcunda/ Nem toda brasileira é
bunda/ Meu peito não é de silicone/ Sou mais macho do que muito
hôme", diz o refrão.
"É uma pauleira femealista que
dá sequência à minha série mulheres no poder. "Pagu" é tataraneta de "Cor de Rosa Choque", bisneta de "Luz del Fuego" e "Elvira Pagã", neta de "Todas as Mulheres" e
filha de "Santa Rita de Sampa'",
explica a compositora, que encomendou ao velho amigo Tom Zé,
seu "parceiro do futuro", a letra
de "3001", uma espécie de continuação de "2001", que os dois
compuseram em 1968 e que virou
clássico da MPB. Há ainda parcerias com Itamar Assumpção
("Aviso ao Meliantes") e Pato Fu
("Amor em Pedaços").
Deslumbre tardio
Rita não nega a importância dos
Mutantes no cenário musical brasileiro, mas não suporta mais ouvir falar do grupo. Desde que a coletânea "Everything Is Possible"
foi lançada nos Estados Unidos
pelo selo Luaka Bop, de David
Byrne, a artista não pára de dar
entrevista por e-mail para a imprensa norte-americana.
"Os gringos descobriram o caminho das Índias tropicais com
um belo atraso. Os Mutantes sempre estiveram anos-luz à frente de
sua época", diz Rita. "É sempre
bom morrer e renascer artisticamente, mas daí a ficar deslumbrada com as homenagens póstumas
de Beasties e Becks é demais para
mim", diz Rita, referindo-se ao
grupo Beastie Boys e ao cantor
Beck, que se dizem influenciados
pela banda paulistana em seus últimos trabalhos.
"O tropicalismo nunca precisou
de paternalismos estrangeiros para continuar sendo o movimento
musical mais genial da MPB", diz.
Traição
Com o grupo Tutti Frutti, Rita
viveu um dos melhores momentos de sua carreira, gravando o
histórico "Fruto Proibido", em
1975, que figura em qualquer lista
dos dez melhores discos do rock
brasileiro. Passados anos do fim
da banda, o Tutti Frutti voltou a
fazer shows pelo país e recebeu
propostas para gravar um disco.
Da formação original, restou
apenas o guitarrista Luiz Carlini,
que é acusado de traição por Rita.
"Carlini registrou o nome Tutti
Frutti escondido de todos nós. Foi
uma traição inesquecível, uma
atitude desonesta de sua parte."
"Desejo sorte para ele, é um batalhador e bom guitarrista, mas
nunca conseguiu o sucesso que
pretendia em nenhuma das milésimas vezes que usou o nome Tutti Frutti com outras formações."
O guitarrista se defende: "Registrei o Tutti Frutti achando que Rita não iria mais precisar do grupo,
pois estava gravando com Roberto na época. Eu fui muito legal
com ela como guitarrista. Participei no processo de criação de vários sucessos dela e topei ficar sem
crédito numa boa".
Lee & Cadillac
A roqueira sempre foi fã da xará
Rita Cadillac, desde os tempos em
que a chacrete rebolava no programa televisivo do Chacrinha.
Quando soube que Cadillac estava planejando gravar um CD só
com canções de sua autoria, Rita
achou ótimo e topou dar uma
canja como backing vocal.
"Sempre gostei da Cadillac, sem
dúvida a única bunda inteligente
que eu conheço. Conversamos
pelo telefone e eu sugeri a ela incluir no repertório "Bwana" e "Barata Tonta", músicas que falam de
"mulheres objeto" com classe."
Comediante nata
Aproveitando o talento cênico
de Rita Lee, o artista plástico, ator
e agora cineasta Patrício Bisso
convidou-a para interpretar Evita
Perón em seu primeiro longa-metragem, inspirado na sexóloga Olga del Volga, um de seus mais célebres personagens.
"Aceitei o convite porque sei
que, quando começar a gravar,
vai ser muito legal, como tudo o
que Bisso faz", diz Rita. O diretor
devolve o elogio: "A Rita é uma
comediante nata. Ela devia ser
melhor aproveitada em filmes e
em programas de televisão. Em
vez de ficar convidando a Xuxa e a
Angélica, chamem a Rita, que o
resultado vai ser bem melhor".
Bisso afirma que vendeu um
apartamento para viabilizar o filme. O elenco terá ainda Paulo Autran, no papel de Freud, Agnaldo
Rayol interpretando Stálin, Antunes Filho como Stanislavsky e outros atores, ainda não confirmados.
"O José Wilker é a cara do Lênin, adoraria tê-lo no filme", diz
Bisso, que vai, claro, interpretar
sua personagem Olga del Volga.
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