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MÚSICA
Programas na rede veiculam novas tendências e recuperam raridades
Talentos do rádio brasileiro
migram para a Internet
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Internet, ainda criança, vai se
tornando abrigo para profissionais que ficaram sem ter onde
atuar pela brutalização em regra
das programações de rádios brasileiras.
Estrearam neste início de 2001,
no site Usina do Som (www.usinadosom.com.br), programas de
dois profissionais que colaboraram, das rádios em que trabalhavam nos anos 80, para definir os
rumos do pop-rock brasileiro dali
em diante. São os cariocas Maurício Valladares, 47, com o programa "Ronca Ronca", e José Roberto Mahr, 44, com o "Zero DB".
Os programas são atualizados
semanalmente (leia roteiro ao lado), mas os programas anteriores
permanecem no arquivo do site,
disponíveis a qualquer momento.
O primeiro remete ao trabalho
de Valladares na fundação da Fluminense FM (1982-85) e, no final
dos 80, no programa "Ronca Tripa", na Panorama FM.
Valladares, também fotógrafo
de capas de discos como as dos
Paralamas do Sucesso, espanta
qualquer associação com saudosismo dos anos 80, em voga em
certas camadas da noite paulista:
"Mesmo tendo essa referência
com os 80, jamais alimentei a
masturbação tão em voga de retorno ao que quer que seja. Nunca
me pendurei ao que fiz. Procuro
estar voltado para o que está rolando e sobretudo para o que vem
pela frente. Se sou ligado a Legião
Urbana, Echo and the Bunnymen
e Paralamas, também sou a Asian
Dub Foundation, Chemical Brothers, Verve e Zumbi do Mato".
Sua aposta: "O ouvinte de rádio
quer ser surpreendido. Não só o
ouvinte, mas qualquer pessoa em
qualquer situação quer ser tomada pela sensação de não saber para onde está indo. Fazer isso continua sendo a principal diretriz do
programa".
Em direção parecida caminha
José Roberto Mahr, também DJ,
que apresentou, em várias versões, emissoras e cidades, entre 84
e 98, o programa "Novas Tendências", de início também impulsionador da "new wave brasileira".
"Zero DB", a nova versão,
abrange também pop e rock, com
novidades, raridades e covers,
mas dá destaque a vertentes eletrônicas como tecno, trance,
drum'n'bass e ambient. "O "Zero
DB" tem algumas coisas do "Novas
Tendências", mas agora é um outro momento, uma outra onda
sonora", justifica.
Mahr faz a comparação entre
rádio convencional e de Internet:
"Não ouço todas as rádios, mas
no eixo Rio-SP estão muito ruins,
com a mesma fórmula de sempre:
repetitiva, sem criatividade e sem
novidades. A Internet pode tocar
músicas que passam batidas pelas
rádios FM, em que nunca irão tocar".
Valladares adota discurso mais
radical: "Como o rádio está morrendo -sobretudo no Brasil, onde não há nenhuma renovação de
pessoas, técnicas, equipamento e
conteúdo-, a Internet passou a
ser a saída para quem quer se informar sobre som. Essa saída ainda é muito apertada, mas vai alargar, com certeza".
Astros e colecionadores
Não só de exilados das rádios vive a programação alternativa. A
mesma Usina do Som negocia,
mas ainda sem resultados definitivos, programas que seriam
apresentados pelo rapper DJ
Hum e pelo ex-Legião Urbana
Dado Villa-Lobos.
Já o músico Ed Motta ocupa
parte de seu site oficial (www.edmotta.com.br) para veicular, como DJ e comentarista, o programa "Empoeirado", que é levado
ao ar também pela Rádio UOL.
Ele explica o interesse: "Eu já tive envolvimento com rádio, colaborei nos anos 80 com um programa de música negra e, em 92,
fiz, numa rádio de Minas Gerais,
um programa meio "baú do Ed", já
parecido com o "Empoeirado" de
agora".
"O tom do programa é coisa de
colecionador, mas não de raridade pela raridade. Gostaria de dividir com as pessoas tudo que
aprendi, já que mais da metade de
todo o meu orçamento foi gasta
em discos", explica.
"Empoeirado" tem formato
"mini", com Ed comentando cinco músicas retiradas de seu próprio acervo de discos de vinil a cada semana. Segundo ele, a audiência chega a 2.000 pessoas,
quando o programa está ao vivo, e
a uma média de 400 visitas/dia.
"Há pessoas que mereciam estar fazendo seus programas não
só na Internet, mas no rádio, ao
alcance de todos, e não há mais isso", diz. "Eu não trocaria audiência por mudança estética do programa. Em música, uma hora ou
outra tenho de fazer alguma concessão, porque preciso botar comida no meu prato. Mas, nesse tipo de formato, não, por isso não
quis fazer em rádio normal."
Rato de raridades como Ed
Motta é o gaúcho radicado em
Brasília Fernando Rosa, que se
tornou conhecido nos meios roqueiros alternativos por conduzir
o site dedicado à pré-história do
rock nacional "Senhor F"
(www.senhorf.com.br).
Em seu programa "Senhor F - A
História Secreta do Rock", ele
desfila um rosário de preciosidades perdidas do rock brasileiro,
que vão de Nora Ney cantando
"Rock Around the Clock" -a
primeira gravação de rock no
país- a Caetano Veloso com os
Mutantes em "A Voz do Morto".
"Fujo do formato temático,
achei que ficaria muito quadrado.
Me criei assim, com um conceito
de rock sem barreiras. Pode até
desagradar alguém, mas sinto
muito, acho Leno e Lilian tão importantes quanto Cólera, não vejo
por que não colocá-los juntos."
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