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CRÍTICA
Proeza fica entre a invenção e o vazio
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"A Festa de Margarette"
mimetiza as técnicas e a
linguagem do cinema mudo para
contar uma história simples.
Pedro (Hique Gomez), um trabalhador fabril, sonha em proporcionar uma grande festa de aniversário a sua mulher, Margarette (Ilana Kaplan), mas acaba
perdendo o emprego. Esconde o
fato da família, dizendo-se, ao
contrário, promovido. E insiste
no projeto da festa.
A partir daí, acontece um pouco
de tudo: ganha-se dinheiro de
modo mágico e perde-se de modo
fugaz, conhece-se a miséria e o luxo, a solidariedade e o egoísmo.
Boa parte do que vemos na tela,
saberemos depois, é um sonho do
protagonista, num esquema que
lembra "Simão, o Caolho" (1952),
de Alberto Cavalcanti.
O tom geral de "A Festa de Margarette" é o de uma comédia sentimental e edificante, à maneira
dos filmes de Chaplin.
Ocasionalmente engraçado,
quase sempre bem resolvido visualmente, o filme de Renato Falcão padece entretanto de uma
certa irregularidade de ritmo,
com saltos abruptos e elipses pouco claras. Outro problema é a trilha sonora (do próprio Hique Gomez), invasiva e redundante, como se tentasse inflar o sentido e a força das imagens.
Há um aspecto interessante
nessa busca de aproximação ao
cinema feito há um século: o modo como uma narrativa simples
exige, dadas as limitações técnicas, procedimentos expressivos
complexos. Se contasse com diálogos e som direto, com a cor e os
recursos tecnológicos de hoje, "A
Festa de Margarette" seria um relato cinematográfico tão banal
que perderia seu sentido.
O sentido do filme, então, está
em sua remissão ao próprio cinema, sua história e linguagem. Um
projeto que implica uma dose de
coragem -dada a tirania do cinema "de mercado"- e uma certa
perícia técnica e narrativa.
Estabelecida a premissa, só cabe
ao filme cumpri-la. Tudo aquilo
que no verdadeiro cinema mudo
-de Murnau a Chaplin, de Lang
a Buster Keaton- era invenção
de uma gramática expressiva passa a ser simplesmente execução,
repetição, reiteração, lição de casa
aprendida e decorada.
Ao fim da proeza, sente-se uma
certa impressão de vazio, como se
tivéssemos assistido a uma demonstração de que alguém ainda
é capaz de escrever um soneto.
A Festa de Margarette
Produção: Brasil, 2002
Direção: Renato Falcão
Com: Hique Gomez, Ilana Kaplan,
Carmen Silva
Onde: a partir de hoje no Frei Caneca
Unibanco Arteplex
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