|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Grupo Bonsucesso SambaClube e compositora Tania Christal recorrem à independência para fugir do eixo RJ-SP
Nova onda apresenta Pernambuco ao mundo
DA REPORTAGEM LOCAL
A cena pop pernambucana
dá novas demonstrações de
que depende cada vez menos das
determinações do eixo industrial
Rio-São Paulo.
Firmemente plantados na terra
natal, o grupo Bonsucesso SambaClube e a cantora e compositora Tania Christal lançam seus álbuns de estréia esperando se difundir e viajar pelo Brasil, mas
sem abdicar da cidadania recifense (Tania) e olindense (BSC).
Já no nome do "clube", o grupo
quer reivindicar o RG local. Bonsucesso é o bairro onde vive o líder Roger Man, 33, dissidente
com Berna Vieira, 30, do grupo
punk-mangue Eddie. Outros dois
integrantes vêm da extinta banda
punk pauleira Sheik Tosado. Tanto roqueiro junto traz estranhamento à presença do termo "samba". Mas Roger Man justifica:
"Minha mãe era fanática por Alcione e Gonzaguinha, e era vista
como brega pela high society. No
Eddie eu já cantava umas coisas
estranhas e nem sabia por quê.
Era bisonho, os caras diziam "Tá
doido, isso é MPB". Hoje todo
mundo corre atrás disso, é cool".
Não significa que o BSC faça
samba. Contando com a produção do núcleo paulistano Instituto
(cujo selo ajuda a bancar o lançamento), o álbum mistura música
eletrônica, hip hop, reggae, jovem
guarda, mangue beat...
História mais ou menos diversa
é a de Tania Christal, veterana que
brinca de esconder a idade porque "minha mãe não vai falar
mais comigo se eu revelar, não vai
poder ser mais minha mãe".
Em atividade musical desde o
início dos anos 90 em pontos de
parada diversos como Rio, França
e Porto Rico, Tania começou fazendo blues. Aprendeu a amar
merengues e guajiras em Porto
Rico, música árabe em Paris. Caiu
de volta em plena efervescência
da cena mangue. Adaptou-se a
ela, virou "ex-nômade".
"Aqui há uma efervescência
enorme, quem foi para o Sul acabou voltando. As rádios locais tocam minha música, e ninguém falou em pedir jabá nem nada. Rodei o mundo para dizer "Poxa, Recife, você é o máximo" ", afirma.
"Já tentamos a sorte em São
Paulo com o Eddie, queimar filme
no Sul foi uma coisa que rolou
muito no início da cena", lembra
Berna, do BSC, como que corroborando a avaliação da colega.
"A grande saída de Recife é não
precisar do eixo, é fazer uma conexão plena e ativa com a Europa.
O que falta agora é haver uma indústria fonográfica em Pernambuco", concorda Roger Man.
Tania estréia indie e secundada
pela dupla local de DJs Mad Mud.
A receita recombina eletrônica,
chanson francesa para a "dama
do lotação" Sonia Braga, loa de
carpideira, MPB feminista...
Com histórias e rumos diversos,
Tania e o BSC parecem convergir
para um mesmo ponto, da sofisticação musical conduzida pelos
braços "inimigos" da eletrônica e
da música popular brasileira.
Muito auxiliados pelo Instituto,
os BSC confirmam o que já apontavam no Eddie, em "Quando a
Maré Encher", depois regravada
por Nação Zumbi e Cássia Eller.
Sua senha é de romper fronteiras de gêneros musicais, evidente
em faixas brilhantes como a picaresca "Carimbó Ladrão" e "Sangue da Maré". Se há a ressalva de
que as letras contemplativas limitam em parte o efeito total, Tania
encarna o outro lado da moeda.
Abordando a condição feminina em cada linha de texto, ela borda rico imaginário pessoal. "Esta
mulher aprendeu a comprar briga/ tem até um coração que assusta e faz de mim/ o que bem quer",
fala de si em "Suspeita".
Sua vantagem é que a cama sonora por trás do ideário é igualmente rica, fazendo de cada faixa
uma viagem pernambucana a algum cantinho do mundo. E as artérias pernambucanas continuam
a bombear sangue criativo para o
Brasil.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Bonsucesso SambaClube
Lançamento: Instituto/YB Music
Quanto: R$ 25, em média
Tania Christal
Lançamento: independente
Quanto: R$ 20 (tel. 0/xx/81/3326-3651)
Texto Anterior: The Purple Tape Próximo Texto: Rec Beat mistura ritmos em Recife Índice
|