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CINEMA
Ator protagoniza "Desperate Measures", thriller ambientado em hospital, que entra em cartaz em março
Batman é passado para Michael Keaton
DENISE BOBADILHA
especial para a Folha, de Londres
Michael Keaton parece predestinado a interpretar personagens
que falam do nosso tempo. Ele é
protagonista, ao lado de Andy
Garcia, de "Desperate Measures",
thriller que entra em cartaz no
Brasil em março.
Seu papel é o de um sociopata
que pode salvar a vida do filho de
um agente do FBI (Garcia) porque
tem compatibilidade de medula
com o garoto, à morte com um tipo raro de câncer.
Na trama de gato e rato dirigida
por Barbet Schoereder ("Mulher
Solteira Procura"), há espaço para
uma discussão atual: os limites da
ciência e a tênue fronteira entre
avanço tecnológico e religião.
Como alguém tão mau e abjeto
pode possuir o mesmo sangue, em
linhas gerais, que uma criança
inocente?
"Não estou certo de que existe
um gene ruim, mas acredito que
há o mal no mundo", disse Keaton
em entrevista à Folha, em Londres, onde esteve para o lançamento de "Desperate Measures".
É o mal que ronda e habita em
vários de seus personagens, inclusive o mais famoso deles, o Batman dos dois primeiros filmes da
série, "Batman" e "Batman, o Retorno". "Batman não é um dos caras mais fáceis e bonzinhos do
mundo", ironiza o ator.
Keaton confessa não ter visto os
últimos dois filmes da série, onde
o super-herói é interpretado por
Val Kilmer e George Clooney. Por
quê? "Não me interessei, soube do
roteiro e achei muito fraco."
Keaton soube durante a entrevista que produtores cogitam seu
nome para um papel na super-produção "Superman", em
que Batman terá uma "ponta".
"Sério? Eu não sabia... seria muito
engraçado fazer isso", afirmou,
completando que sua fase super-herói "faz parte do passado".
Seu personagem em "Desperate...", Peter McCabe, não tem mesmo muito de herói. Cumprindo
uma pena de prisão perpétua por
duplo homicídio, ele vê no transplante de medula a chance para escapar da cadeia pelos corredores
de um hospital.
Como outros homicidas do cinema, tem QI acima do normal, é
duro de morrer e sabe captar o
ponto fraco de todos ao seu redor.
Se fica comovido pelo drama do
garoto, pouco deixa transparecer.
"Ele tem segundos de humanidade porque, no fundo, tenta que
os outros entendam o que ele realmente quer", teoriza o ator. Andy
Garcia, no papel do agente Grank
Connor, também vive a dicotomia
de ter de se dividir entre o bem e o
mal. Ele precisa que McCabe sobreviva para salvar seu filho e para
isso vai contra tudo que acreditou
na vida e na carreira policial.
"Isso é o mais interessante no
meu papel: o McCabe tem problemas normais e poderia ser uma
pessoa real", opina.
"Se você exagera na maldade do
personagem, ele fica chato depois
de dez minutos", diz. Seu sociopata não aceita comparações com o
canibal Hanibal Lecter, de "O Silêncio dos Inocentes" -"É muito
difícil fazer um psicopata melhor
que o (ator) Anthony Hopkins depois desse filme"- nem com outro punhado de filmes com personagens similares.
É no Brian Cox de "Manhunter"
e no Robert Mitchum de "Night of
the Hunter" que o ator buscou inspiração. "Se você é o mau, não está
nas telas para ser amado; o personagem tem que inspirar medo e
ódio mesmo", comenta.
Keaton começou a carreira de
ator do outro lado da corda, fazendo "stand-up comedy" em bares
norte-americanos nos anos 70.
Seus personagens cômicos no cinema incluem o surreal Bio Exorcista da fantasia "Os Fantasmas se
Divertem" e o louco da adaptação
de "Muito Barulho por Nada", de
William Shakespeare, pelo diretor
Kenneth Branagh.
Também fez drama ("Clean and
Sober") e dramalhão ("Minha Vida"). Entre seus personagens favoritos, está o editor de "O Jornal",
de Ron Howard, outro perdido
entre boas intenções e tentações
nem sempre honestas.
A experiência dele com vilões
odiosos vem de "Pacific Heights",
em que interpretou o vizinho sádico do casal formado por Melanie
Griffith e Matthew Modine.
Pouco depois, protagonizou
"Multiplicity", onde seu personagem ganhava cinco clones e bagunçava sua pacata vida de marido (de Andy McDowell) e funcionário exemplares.
"Multiplicity" foi lançado mais
de um ano antes de a ovelha Dolly
vir ao mundo cercada de polêmica
e passou quase despercebido no
cinema. Mas o tema o balançou.
"Não consigo ser contra a clonagem, você pode ter muitos benefícios para a medicina e a ciência
com isso", diz. "Mas, quando ouvi
sobre clonagem real pela primeira
vez, fiquei assustado, reagi infantilmente como alguém que não
encarar a realidade", conta.
"Vivemos uma época muito interessante, um ponto na história
onde tudo está se unindo, sobretudo a ciência e Deus."
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