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LITERATURA
"Armadilha para Lamartine" é relançado "para os jovens"
Carlos Sussekind retoma
seu jornal familiar
MARCELO REZENDE
da Reportagem Local
A história de uma obsessão, e do
Brasil dos anos 50, relatada nas
páginas de um diário de família,
está em "Armadilha para Lamartine", do romancista e tradutor Carlos Sussekind, 64, que ganha nova
edição pela Companhia das Letras.
Lançada em 1976 (ed. Largo), a
obra, uma jornada sentimental
pelos escritos deixados pelo pai do
autor (o livro é assinado por Carlos e Carlos Sussekind), e que foi
chamada por parte da crítica nacional de obra-prima, ganhou
uma reedição em 1991 -pela ed.
Brasiliense- e, desde então, estava ausente das livrarias.
O novo momento para a "Armadilha", disse Sussekind por telefone à Folha, pertence aos jovens.
"Gostaria que o livro fosse agora
para eles." Leia abaixo trechos da
entrevista.
Folha - O livro foi reescrito?
Carlos Sussekind - Nada foi
reescrito. Está igual. É claro que o
livro envelhece um pouco, à medida que os acontecimentos de 1954,
1955, estão ficando mais distantes
do público, dos jovens, que eu gostaria que fossem os leitores do meu
livro. Mas por outro lado algumas
coisas se repetem.
Estava olhando os jornais e
achando muita graça, porque um
dos temas centrais para o personagem do pai é o aumento salarial
dos militares, aquelas vantagens
todas que eles têm. E agora as primeiras páginas dos jornais mostram isso. Parece que o Brasil não
muda muito em 40, 30 anos.
Folha - O sr. ainda gosta do livro?
Sussekind - Gosto muito ainda.
O livro foi baseado nos diários de
meu pai, e eu gosto muito desses
diários. Sempre achei uma coisa
muito curiosa ele não ter dado o
menor valor em vida. Dizia que fazia para treinar, porque tinha sido
jornalista na juventude. Chegou
até a dirigir dois jornais ao mesmo
tempo, algo impossível hoje, e depois foi ser magistrado. Na verdade, aquilo era uma necessidade
muito pessoal. Acho muito estranhas as pessoas que fazem diário. E
o dele era algo muito compulsivo.
Era um diário que escreveu durante 30 anos, escrevendo na manhã
as expectativas para a tarde e, à
noite, fazendo o balanço final.
Folha - Seus romances são seus
diários, eles assumem esse papel?
Sussekind - Pode ser. De certo
modo. O diário tem um apelo para
mim..De referência da realidade.
Morar em uma casa em que alguém escreve um diário relatando
tudo é muito curioso. Passa a ser
como um jornal que você lê para
saber como foi o dia, e você passa a
acreditar que o dia foi aquilo que
está lá, mas não foi.
Ele mantinha um jornal doméstico. Meus textos são mesmo uma
espécie de continuação. "Armadilha para Lamartine" tem esse nome porque eu considero esse diário uma verdadeira armadilha.
Plantou a armadilha dessa expressão literária, desse recurso para
compensar a vida, dar uma vibração que a vida não possuía. Armadilha porque fiquei também preso
a essa compulsão de escrever. Não
um diário, mas as histórias que
voltam à nossa vida em família.
Livro: Armadilha para Lamartine
Autor: Carlos e Carlos Sussekind
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: RÏ 28 (312 págs.)
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