São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 1998

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LITERATURA
"Armadilha para Lamartine" é relançado "para os jovens"
Carlos Sussekind retoma seu jornal familiar

MARCELO REZENDE
da Reportagem Local

A história de uma obsessão, e do Brasil dos anos 50, relatada nas páginas de um diário de família, está em "Armadilha para Lamartine", do romancista e tradutor Carlos Sussekind, 64, que ganha nova edição pela Companhia das Letras.
Lançada em 1976 (ed. Largo), a obra, uma jornada sentimental pelos escritos deixados pelo pai do autor (o livro é assinado por Carlos e Carlos Sussekind), e que foi chamada por parte da crítica nacional de obra-prima, ganhou uma reedição em 1991 -pela ed. Brasiliense- e, desde então, estava ausente das livrarias.
O novo momento para a "Armadilha", disse Sussekind por telefone à Folha, pertence aos jovens. "Gostaria que o livro fosse agora para eles." Leia abaixo trechos da entrevista.

Folha - O livro foi reescrito?
Carlos Sussekind -
Nada foi reescrito. Está igual. É claro que o livro envelhece um pouco, à medida que os acontecimentos de 1954, 1955, estão ficando mais distantes do público, dos jovens, que eu gostaria que fossem os leitores do meu livro. Mas por outro lado algumas coisas se repetem.
Estava olhando os jornais e achando muita graça, porque um dos temas centrais para o personagem do pai é o aumento salarial dos militares, aquelas vantagens todas que eles têm. E agora as primeiras páginas dos jornais mostram isso. Parece que o Brasil não muda muito em 40, 30 anos.
Folha - O sr. ainda gosta do livro?
Sussekind -
Gosto muito ainda. O livro foi baseado nos diários de meu pai, e eu gosto muito desses diários. Sempre achei uma coisa muito curiosa ele não ter dado o menor valor em vida. Dizia que fazia para treinar, porque tinha sido jornalista na juventude. Chegou até a dirigir dois jornais ao mesmo tempo, algo impossível hoje, e depois foi ser magistrado. Na verdade, aquilo era uma necessidade muito pessoal. Acho muito estranhas as pessoas que fazem diário. E o dele era algo muito compulsivo. Era um diário que escreveu durante 30 anos, escrevendo na manhã as expectativas para a tarde e, à noite, fazendo o balanço final.
Folha - Seus romances são seus diários, eles assumem esse papel?
Sussekind -
Pode ser. De certo modo. O diário tem um apelo para mim..De referência da realidade. Morar em uma casa em que alguém escreve um diário relatando tudo é muito curioso. Passa a ser como um jornal que você lê para saber como foi o dia, e você passa a acreditar que o dia foi aquilo que está lá, mas não foi.
Ele mantinha um jornal doméstico. Meus textos são mesmo uma espécie de continuação. "Armadilha para Lamartine" tem esse nome porque eu considero esse diário uma verdadeira armadilha. Plantou a armadilha dessa expressão literária, desse recurso para compensar a vida, dar uma vibração que a vida não possuía. Armadilha porque fiquei também preso a essa compulsão de escrever. Não um diário, mas as histórias que voltam à nossa vida em família.

Livro: Armadilha para Lamartine Autor: Carlos e Carlos Sussekind Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: RÏ 28 (312 págs.)



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