São Paulo, terça-feira, 21 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

"Cruel" é lançado pelo Saravá Discos, selo de Zeca Baleiro

Álbum coloca o bloco do cantor Sérgio Sampaio na rua outra vez

DA SUCURSAL DO RIO

O telefone toca, Sérgio Sampaio atende, e um desses gênios de gravadora propõe a ele compor um outro "Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua" para arrebentar no Carnaval. Sampaio recusa e desliga arrasado.
A cena, real, diz muito sobre a carreira desse capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, morto em 1994, aos 47 anos. Tendo vendido 500 mil cópias de seu primeiro compacto -poderosa marcha-rancho lançada em 1972 e até hoje regravada, de KLB a Margareth Menezes- ele nunca mais repetiu o sucesso, desprezou os planos comerciais que lhe ofereceram e ganhou fama de maldito.
"Depois daquele megasucesso, ele caiu em um certo ostracismo, por causa de sua falta de habilidade de lidar com o showbiz. Se tivesse vivido mais, teria sido recuperado", diz Zeca Baleiro, amparado nos exemplos de Tom Zé, Jards Macalé e Luiz Melodia, outros "malditos" que reconstruíram suas carreiras nos anos 90.
Baleiro é o responsável por fazer o mesmo com Sampaio, ainda que postumamente. Ele está lançando por seu selo, Saravá Discos, "Cruel", CD que seu ídolo pretendia gravar em 1994.
Angela Breitschaft, mãe de João, 23, o único filho de Sampaio, entregou a Baleiro, há sete anos, a fita DAT que o cantor gravara em Salvador, com oito músicas então inéditas.
Para fazer daquilo um CD, Baleiro conseguiu, com a ajuda de Angela, mais seis interpretações de Sampaio, convidou músicos para engrossarem as versões voz-e-violão e supervisionou o trabalho de recuperação das fitas originais.
"Algumas estavam muito mastigadas, não deu para usar. Outras usei como pude. É o caso do "Cruel", que seria o título do CD de Sampaio, não podia faltar. Esse é seu melhor disco, porque ele estava compondo de forma madura e cantando muito bem", avalia o compositor maranhense.
Quase todas as faixas são inéditas. Entre as exceções está "Cruel", que Luiz Melodia gravou em 97 no CD "14 Quilates". Já "Em Nome de Deus", "Rosa Púrpura de Cubatão" e "Pavio do Destino" foram gravadas, respectivamente, por Chico César, João Bosco e Lenine no "Balaio do Sampaio", tributo produzido em 98 pelo parceiro Sergio Natureza.
"O CD ["Cruel'] traz novamente à vida uma obra atemporal, valiosa, que precisa ser revista, revisitada e regravada. Não são muitas as pessoas que têm a força dele. Tomara que desencadeie uma nova "sampaiada'", anseia Natureza, o único parceiro gravado por Sampaio, que preferia compor sozinho. A corrosiva "Rosa Morta (Reflexões de um Executivo)", dos dois, está no CD.
Natureza, que conviveu com Sampaio no Rio dos anos 70 e 80, reconhece que o amigo era "temperamental", e que isso atrapalhou sua carreira.
"Ele era muito inteligente e defendia seus porquês com toda a força. Era transparente, claro, franco, o que talvez não fosse politicamente correto", diz.
Além de "Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua", disco de 73 que não fez o mesmo sucesso do compacto, Sampaio lançou apenas mais dois LPs solo: "Tem que Acontecer" (76) e "Sinceramente" (82) -que não existem em CD. De resto, alguns compactos e o doido "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez", feito em 71 com seu descobridor Raul Seixas, Míriam Batucada e Edy Star.
"Ele lamentava um pouco não ter aceitado a vida como ela é, não ter se adaptado à vida profissional. Cheirou todas, gastou todo o dinheiro do "Bloco na Rua", mas era um compositor excelente. Tomara que mais pessoas conheçam suas músicas. Esse CD era o sonho dele", diz Angela.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)


Cruel
Artista:
Sérgio Sampaio
Gravadora: Saravá Discos
Quanto: R$ 30 (encomendas pelo site www.saravadiscos.com.br)


Texto Anterior: Festival de Curitiba: Companhias se alternam com rapidez nos "palcos" do Fringe
Próximo Texto: Teatro: Programa une Barbara Heliodora e Gianni Ratto
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.