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MÚSICA
"Cruel" é lançado pelo Saravá Discos, selo de Zeca Baleiro
Álbum coloca o bloco do cantor Sérgio Sampaio na rua outra vez
DA SUCURSAL DO RIO
O telefone toca, Sérgio Sampaio
atende, e um desses gênios de gravadora propõe a ele compor um
outro "Eu Quero É Botar Meu
Bloco na Rua" para arrebentar no
Carnaval. Sampaio recusa e desliga arrasado.
A cena, real, diz muito sobre a
carreira desse capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, morto em
1994, aos 47 anos. Tendo vendido
500 mil cópias de seu primeiro
compacto -poderosa marcha-rancho lançada em 1972 e até hoje
regravada, de KLB a Margareth
Menezes- ele nunca mais repetiu o sucesso, desprezou os planos
comerciais que lhe ofereceram e
ganhou fama de maldito.
"Depois daquele megasucesso,
ele caiu em um certo ostracismo,
por causa de sua falta de habilidade de lidar com o showbiz. Se tivesse vivido mais, teria sido recuperado", diz Zeca Baleiro, amparado nos exemplos de Tom Zé,
Jards Macalé e Luiz Melodia, outros "malditos" que reconstruíram suas carreiras nos anos 90.
Baleiro é o responsável por fazer
o mesmo com Sampaio, ainda
que postumamente. Ele está lançando por seu selo, Saravá Discos,
"Cruel", CD que seu ídolo pretendia gravar em 1994.
Angela Breitschaft, mãe de João,
23, o único filho de Sampaio, entregou a Baleiro, há sete anos, a fita DAT que o cantor gravara em
Salvador, com oito músicas então
inéditas.
Para fazer daquilo um CD, Baleiro conseguiu, com a ajuda de
Angela, mais seis interpretações
de Sampaio, convidou músicos
para engrossarem as versões voz-e-violão e supervisionou o trabalho de recuperação das fitas originais.
"Algumas estavam muito mastigadas, não deu para usar. Outras
usei como pude. É o caso do
"Cruel", que seria o título do CD de
Sampaio, não podia faltar. Esse é
seu melhor disco, porque ele estava compondo de forma madura e
cantando muito bem", avalia o
compositor maranhense.
Quase todas as faixas são inéditas. Entre as exceções está
"Cruel", que Luiz Melodia gravou
em 97 no CD "14 Quilates". Já
"Em Nome de Deus", "Rosa Púrpura de Cubatão" e "Pavio do
Destino" foram gravadas, respectivamente, por Chico César, João
Bosco e Lenine no "Balaio do
Sampaio", tributo produzido em
98 pelo parceiro Sergio Natureza.
"O CD ["Cruel'] traz novamente
à vida uma obra atemporal, valiosa, que precisa ser revista, revisitada e regravada. Não são muitas as
pessoas que têm a força dele. Tomara que desencadeie uma nova
"sampaiada'", anseia Natureza, o
único parceiro gravado por Sampaio, que preferia compor sozinho. A corrosiva "Rosa Morta
(Reflexões de um Executivo)",
dos dois, está no CD.
Natureza, que conviveu com
Sampaio no Rio dos anos 70 e 80,
reconhece que o amigo era "temperamental", e que isso atrapalhou sua carreira.
"Ele era muito inteligente e defendia seus porquês com toda a
força. Era transparente, claro,
franco, o que talvez não fosse politicamente correto", diz.
Além de "Eu Quero É Botar
Meu Bloco na Rua", disco de 73
que não fez o mesmo sucesso do
compacto, Sampaio lançou apenas mais dois LPs solo: "Tem que
Acontecer" (76) e "Sinceramente"
(82) -que não existem em CD.
De resto, alguns compactos e o
doido "Sociedade da Grã-Ordem
Kavernista Apresenta Sessão das
Dez", feito em 71 com seu descobridor Raul Seixas, Míriam Batucada e Edy Star.
"Ele lamentava um pouco não
ter aceitado a vida como ela é, não
ter se adaptado à vida profissional. Cheirou todas, gastou todo o
dinheiro do "Bloco na Rua", mas
era um compositor excelente. Tomara que mais pessoas conheçam
suas músicas. Esse CD era o sonho dele", diz Angela.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)
Cruel
Artista: Sérgio Sampaio
Gravadora: Saravá Discos
Quanto: R$ 30 (encomendas pelo site
www.saravadiscos.com.br)
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