São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2008

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Músico premiado virá para novo festival

Norte-americano de origem indiana, Vijay Iyer é uma das principais atrações do evento que acontece em junho em São Paulo

Engajado, pianista diz estar "muito estimulado" pelo sucesso de Obama nas prévias da eleição para presidente nos EUA

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O público paulista poderá acompanhar um novo festival de música focado nos hibridismos sonoros destes tempos de globalização. Com três noites já agendadas no Citibank Hall, de 19 a 21 de junho, o Bridgestone Music nasce com um perfil de programação inédito por aqui: mistura em seu elenco artistas que, em maior ou menor medida, têm um pé na world music e outro no jazz.
Entre as atrações já confirmadas, o norte-americano Vijay Iyer, 36, é um dos músicos de maior destaque na cena atual do jazz. Eleito melhor compositor e melhor jazzista em ascensão de 2006 e 2007 pelos críticos da revista "Down Beat", esse pianista e doutor em música e ciência cognitiva, filho de imigrantes indianos, tem desenvolvido discos e projetos originais que combinam experimentalismo sonoro e preocupação social.
Um de seus trabalhos mais polêmicos é "In What Language?", parceria com o poeta hip hop Mike Ladd, que rendeu um CD e um espetáculo multimídia, em 2003. O projeto foi inspirado no absurdo episódio da detenção do cineasta iraniano Jafar Panahi, que ficou algemado por dez horas em uma bancada de madeira, no aeroporto de Nova York, em 2001, em meio à paranóia gerada pelos atentados de 11 de Setembro.
Em entrevista à Folha, por e-mail, Iyer comenta que projetos engajados como os seus são raros nos EUA porque ali as artes costumam ser vistas como mero entretenimento. "Há também uma forte crença em que o potencial de vendas é uma medida de qualidade da obra artística. Assim, quanto mais crítica, desafiadora ou conceitual é uma obra menos apoio [financeiro] ela terá."
O pianista se diz "muito estimulado" pelo sucesso de Barack Obama nas prévias eleitorais. "Nosso país é muito dividido -por classes, raças, educação-, e durante séculos os mais poderosos têm investido na manutenção dessas divisões. A perspectiva de um presidente cuja própria existência é um símbolo de hibridismo e transformação pode contribuir para mudar a maneira como os norte-americanos vêem a si mesmos no mundo."

Monk
Entre os pianistas de jazz que mais influenciaram seu estilo, Iyer destaca Thelonious Monk, Cecil Taylor e Andrew Hill. "Também devo mencionar Duke Ellington, Randy Weston e Sun Ra, mas de fato meu mentor foi Hill, que exerceu influência pessoal sobre mim em anos de amizade."
Iyer também está escalado para o 3º Festival Amazonas Jazz, em Manaus, em julho. No Bridgestone Music vai dividir o palco com o sax alto do criativo Rudresh Mahanthappa, outro descendente de indianos radicado nos EUA, que tem sido seu parceiro constante.
"Quando componho com ele em mente, não preciso escrever muito. Sei que posso confiar nas contribuições dele como improvisador. Rudresh sempre imprime sua personalidade, além de trazer uma intensidade musical em torno da qual posso construir algo."
O pianista conta que até visitar o Rio para uma conferência (não chegou a tocar), em novembro, achava que os americanos idealizavam a música brasileira. "Depois de ouvi-la em seu contexto, indo a clubes, bares e favelas, tudo passou a fazer sentido. Gosto de coisas da Tropicália, de Jorge Ben. E também ouvi ótima música eletrônica com percussão folclórica. Quero conhecer mais".
Idealizador de festivais de repercussão no passado, como o Heineken Concerts e o Chivas Jazz, o produtor Toy Lima promete que os preços dos ingressos do Bridgestone Music serão inferiores aos de eventos similares. "Teremos um setor com ingressos em torno de R$ 30 e R$ 15 para estudantes". As vendas devem começar em 18/4.


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