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Músico premiado virá para novo festival
Norte-americano de origem indiana, Vijay Iyer é uma das principais atrações do evento que acontece em junho em São Paulo
Engajado, pianista diz estar "muito estimulado" pelo sucesso de Obama nas prévias da eleição para presidente nos EUA
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O público paulista poderá
acompanhar um novo festival
de música focado nos hibridismos sonoros destes tempos de
globalização. Com três noites já
agendadas no Citibank Hall, de
19 a 21 de junho, o Bridgestone
Music nasce com um perfil de
programação inédito por aqui:
mistura em seu elenco artistas
que, em maior ou menor medida, têm um pé na world music e
outro no jazz.
Entre as atrações já confirmadas, o norte-americano Vijay Iyer, 36, é um dos músicos
de maior destaque na cena
atual do jazz. Eleito melhor
compositor e melhor jazzista
em ascensão de 2006 e 2007
pelos críticos da revista "Down
Beat", esse pianista e doutor
em música e ciência cognitiva,
filho de imigrantes indianos,
tem desenvolvido discos e projetos originais que combinam
experimentalismo sonoro e
preocupação social.
Um de seus trabalhos mais
polêmicos é "In What Language?", parceria com o poeta hip
hop Mike Ladd, que rendeu um
CD e um espetáculo multimídia, em 2003. O projeto foi inspirado no absurdo episódio da
detenção do cineasta iraniano
Jafar Panahi, que ficou algemado por dez horas em uma bancada de madeira, no aeroporto
de Nova York, em 2001, em
meio à paranóia gerada pelos
atentados de 11 de Setembro.
Em entrevista à Folha, por
e-mail, Iyer comenta que projetos engajados como os seus
são raros nos EUA porque ali as
artes costumam ser vistas como mero entretenimento. "Há
também uma forte crença em
que o potencial de vendas é
uma medida de qualidade da
obra artística. Assim, quanto
mais crítica, desafiadora ou
conceitual é uma obra menos
apoio [financeiro] ela terá."
O pianista se diz "muito estimulado" pelo sucesso de Barack Obama nas prévias eleitorais. "Nosso país é muito dividido -por classes, raças, educação-, e durante séculos os
mais poderosos têm investido
na manutenção dessas divisões. A perspectiva de um presidente cuja própria existência
é um símbolo de hibridismo e
transformação pode contribuir
para mudar a maneira como os
norte-americanos vêem a si
mesmos no mundo."
Monk
Entre os pianistas de jazz que
mais influenciaram seu estilo,
Iyer destaca Thelonious Monk,
Cecil Taylor e Andrew Hill.
"Também devo mencionar Duke Ellington, Randy Weston e
Sun Ra, mas de fato meu mentor foi Hill, que exerceu influência pessoal sobre mim em
anos de amizade."
Iyer também está escalado
para o 3º Festival Amazonas
Jazz, em Manaus, em julho. No
Bridgestone Music vai dividir o
palco com o sax alto do criativo
Rudresh Mahanthappa, outro
descendente de indianos radicado nos EUA, que tem sido seu
parceiro constante.
"Quando componho com ele
em mente, não preciso escrever
muito. Sei que posso confiar
nas contribuições dele como
improvisador. Rudresh sempre
imprime sua personalidade,
além de trazer uma intensidade
musical em torno da qual posso
construir algo."
O pianista conta que até visitar o Rio para uma conferência
(não chegou a tocar), em novembro, achava que os americanos idealizavam a música
brasileira. "Depois de ouvi-la
em seu contexto, indo a clubes,
bares e favelas, tudo passou a
fazer sentido. Gosto de coisas
da Tropicália, de Jorge Ben. E
também ouvi ótima música eletrônica com percussão folclórica. Quero conhecer mais".
Idealizador de festivais de repercussão no passado, como o
Heineken Concerts e o Chivas
Jazz, o produtor Toy Lima promete que os preços dos ingressos do Bridgestone Music serão
inferiores aos de eventos similares. "Teremos um setor com
ingressos em torno de R$ 30 e
R$ 15 para estudantes". As vendas devem começar em 18/4.
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