São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2008

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Crítica/"As Crônicas de Spiderwick"

Boa fantasia entretém com simbolismos

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Na curva de tempo que começou por volta de "Guerra nas Estrelas" e culminou com "O Senhor dos Anéis", o cinema ganhou com a tecnologia um aliado que transformou o modo de fazer filmes e de assisti-los. "As Crônicas de Spiderwick", adaptação de uma série de livros escritos por Tony DiTerlizzi e Holly Black, faz parte desse time de fantasias que se tornaram dominantes graças à avalanche de efeitos especiais.
Sua vantagem é que os efeitos não estão ali apenas para encher os olhos, ao contrário dos recentes "As Crônicas de Nárnia" e "A Bússola de Ouro", nos quais o maravilhoso se satisfaz em ser apenas monumental e o resultado é mais frio do que o esperado.
"As Crônicas de Spiderwick" pertence ao campo das ficções infantis que jogam o tempo todo com o infinito da imaginação, quase sempre vinculado ao universo das crianças.
De "Alice no País das Maravilhas", passando por "O Mágico de Oz" até toda a série "Harry Potter", esse tipo de história adota sempre uma criança como um enviado ao mundo da fantasia.
Por meio de um olhar que enxerga e se assombra com seres e fabulações, em contraste com o dos adultos que, em seu pragmatismo, consideram invencionice, as crianças entram em universos imaginários, são capazes de vivê-los e de representá-los. No cinema, mais que isso, elas funcionam como os intermediários que tornam esses mundos visíveis.
Este é o ponto de partida e o interesse central de "As Crônicas de Spiderwick". Jared, seu protagonista, é um garoto traumatizado pela separação dos pais. Quando se muda para uma antiga casa abandonada, onde viveu seu bisavô, a leitura curiosa de um livro proibido abre para Jared e sua família um universo maravilhoso, habitado por algumas criaturas amigas e por outras bastante ameaçadoras.
Na medida em que é levado a enfrentar essa "realidade" e vencê-la na batalha pela sobrevivência, Jared consegue soldar as partes fraturadas de seu convívio familiar com os irmãos e a mãe.
Como já se demonstrou em relação aos contos de fadas, alguns temas de "As Crônicas de Spiderwick" são ricos em simbolismos, como a associação do ogro ameaçador à imagem do pai e a suspensão do tempo que permite à velha tia voltar a ser criança.
São esses pequenos detalhes que influenciam no conjunto e tornam o filme um trabalho que pode ser assistido com prazer tanto como puro entretenimento para a família como também por quem gosta de encontrar interpretações sob outras camadas de significados.


AS CRÔNICAS DE SPIDERWICK
Produção:
EUA, 2008
Direção: Mark Waters
Com: Freddie Highmore, Sarah Bolger, Seth Rogen e Mary-Louise Parker e outros
Onde: estréia hoje nos cines Anália Franco, Bristol e circuito
Avaliação: bom


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